sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | O Irlandês – Scorsese, De Niro e Pesci retornam ao universo da máfia com Pacino a tiracolo

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A ideia por trás de O Irlandês, novo filme do prestigiadíssimo Martin Scorsese, é descortinar um dos maiores mistérios da história recente dos EUA: o que aconteceu com o líder sindicalista Jimmy Hoffa, desaparecido em 1975 e dado como morto em 1982? O filme é baseado no livro I Heard You Paint Houses, do escritor e ex-investigador Charles Brandt. Scorsese inclusive homenageia a obra literária, exibindo seu título como abertura do longa.

Além do entusiasmo de uma nova produção do cineasta ser lançada, a obra chega envolta em grande hype devido a alguns fatores. Primeiro por se tratar de uma reunião dos “velhos companheiros” com quem o diretor construiu as bases de sua carreira. E segundo, por esta ser uma produção original da Netflix, exibida em cinemas seletos pelo mundo antes de sua estreia na plataforma no final deste mês. Manobra esta que mais uma vez promete colocar o canal de streaming postulando prêmios da Academia. O Irlandês promete ser seu carro chefe para o ano que vem, mesmo com obras do nível de Meu Nome é Dolamite, História de um Casamento e Dois Papas.



Robert De Niro, o ator preferido de Scorsese no passado, com oito trabalhos juntos no currículo, volta a protagonizar um filme do colega 24 anos depois de Cassino (1995). Com eles, Joe Pesci (em seu terceiro trabalho nas telas em 21 anos, seguindo uma semi-aposentadoria), Harvey Keitel (numa pequena participação) e o monstro Al Pacino em sua primeira parceira com o diretor. Antes tarde do que nunca – lembrando que Jack Nicholson debutou num filme de Scorsese em 2006 com Os Infiltrados.

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E o diretor honra os veteranos, em um filme de 3 horas e 30 minutos dando espaço para a trinca principal brilhar. De fato, o próprio Pacino afirmou em entrevistas que a confecção do longa lembrou muito o tipo de obra feita nos anos 1970. Quem segura a narrativa, no entanto, ligando uma ponta a outra e reinando absoluto é Robert De Niro. Na pele de Frank Sheeran, caminhoneiro transformado em mafioso, o ator inclusive narra a história – que vai e volta no tempo, durante diferentes fases dos personagens.

Um fato que pode se tornar uma distração negativa ao espectador são os efeitos usados para rejuvenescer os atores aqui. Este tipo de efeito pode ser eficiente se aplicado como nota de rodapé. Porém, como “prato principal” ainda soa um tanto quanto creepy. Assim, em muitos momentos ao invés de percebermos um De Niro jovem, notamos é um De Niro plastificado. Em especial o protagonista passa grande parte de suas cenas com o rosto esticado e sem rugas – talvez um recorde até o momento do uso da técnica.

Na trama, o personagem principal é notado pela máfia e logo está sob a asa de Russ Bufalino (Joe Pesci). Um tempo depois e ele surge com uma nova tarefa: ser o braço direito do porta-voz dos caminhoneiros Hoffa (Pacino), que além dos inúmeros laços com o crime organizado, não escondia o desprezo pela família Kennedy, incluindo o presidente assassinado.

Scorsese bota um ponto final sobre toda a mitologia em torno do desaparecimento desta figura notória. E mais de uma vez no filme frisa a importância que Jimmy Hoffa teve para os EUA – além de declarar que os jovens de hoje não conseguem compreender tal dimensão, ou sequer sabem quem ele foi. O que o diretor aponta é a importância da história, de evoluir, mas sempre buscar o passado como referência. Personalidades maiores que a vida em determinada época, simplesmente perdem seus valores com o esquecimento. É assim em todas as áreas, inclusive no cinema.

Em um diálogo um personagem dispara: “Se eles conseguiram fazer um presidente desaparecer, conseguem fazer este cara desaparecer”, se referindo à máfia como responsável pela morte de ambos o presidente John F. Kennedy e Jimmy Hoffa, dois casos abafados. Se Martin Scorsese vai fazer o que pode muito bem ser seu último filme sobre o tema (tomara que não), que seja o maior deles em escopo. Aqui, o diretor deixa o glamour do crime e os cassinos de Las Vegas para trás, para tratar de gangsteres reais, envolvidos com política, presidentes e o alto escalão dos EUA.

O Irlandês também trata de forte drama existencial em suas entrelinhas, e fala sobre amizade, família e solidão. O desfecho do protagonista é de partir o coração, quando ele se vê sozinho, no fim da linha, quando tudo e todos que conheceu o deixaram. É um daqueles filmes para esmiuçar e encontrar inúmeros significados. Um dos melhores filmes do ano. Poderia ser mais curto? Poderia. Scorsese poderia ter uma mão mais firme na edição? É claro. Mas quem em sã consciência iria querer ver menos de uma obra deste mestre? E com a Netflix como sua nova casa, a liberdade que o diretor sempre quis é finalmente abraçada. Qual cinéfilo falará mal da plataforma agora?

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A ideia por trás de O Irlandês, novo filme do prestigiadíssimo Martin Scorsese, é descortinar um dos maiores mistérios da história recente dos EUA: o que aconteceu com o líder sindicalista Jimmy Hoffa, desaparecido em 1975 e dado como morto em 1982? O filme é baseado no livro I Heard You Paint Houses, do escritor e ex-investigador Charles Brandt. Scorsese inclusive homenageia a obra literária, exibindo seu título como abertura do longa.

Além do entusiasmo de uma nova produção do cineasta ser lançada, a obra chega envolta em grande hype devido a alguns fatores. Primeiro por se tratar de uma reunião dos “velhos companheiros” com quem o diretor construiu as bases de sua carreira. E segundo, por esta ser uma produção original da Netflix, exibida em cinemas seletos pelo mundo antes de sua estreia na plataforma no final deste mês. Manobra esta que mais uma vez promete colocar o canal de streaming postulando prêmios da Academia. O Irlandês promete ser seu carro chefe para o ano que vem, mesmo com obras do nível de Meu Nome é Dolamite, História de um Casamento e Dois Papas.

Robert De Niro, o ator preferido de Scorsese no passado, com oito trabalhos juntos no currículo, volta a protagonizar um filme do colega 24 anos depois de Cassino (1995). Com eles, Joe Pesci (em seu terceiro trabalho nas telas em 21 anos, seguindo uma semi-aposentadoria), Harvey Keitel (numa pequena participação) e o monstro Al Pacino em sua primeira parceira com o diretor. Antes tarde do que nunca – lembrando que Jack Nicholson debutou num filme de Scorsese em 2006 com Os Infiltrados.

E o diretor honra os veteranos, em um filme de 3 horas e 30 minutos dando espaço para a trinca principal brilhar. De fato, o próprio Pacino afirmou em entrevistas que a confecção do longa lembrou muito o tipo de obra feita nos anos 1970. Quem segura a narrativa, no entanto, ligando uma ponta a outra e reinando absoluto é Robert De Niro. Na pele de Frank Sheeran, caminhoneiro transformado em mafioso, o ator inclusive narra a história – que vai e volta no tempo, durante diferentes fases dos personagens.

Um fato que pode se tornar uma distração negativa ao espectador são os efeitos usados para rejuvenescer os atores aqui. Este tipo de efeito pode ser eficiente se aplicado como nota de rodapé. Porém, como “prato principal” ainda soa um tanto quanto creepy. Assim, em muitos momentos ao invés de percebermos um De Niro jovem, notamos é um De Niro plastificado. Em especial o protagonista passa grande parte de suas cenas com o rosto esticado e sem rugas – talvez um recorde até o momento do uso da técnica.

Na trama, o personagem principal é notado pela máfia e logo está sob a asa de Russ Bufalino (Joe Pesci). Um tempo depois e ele surge com uma nova tarefa: ser o braço direito do porta-voz dos caminhoneiros Hoffa (Pacino), que além dos inúmeros laços com o crime organizado, não escondia o desprezo pela família Kennedy, incluindo o presidente assassinado.

Scorsese bota um ponto final sobre toda a mitologia em torno do desaparecimento desta figura notória. E mais de uma vez no filme frisa a importância que Jimmy Hoffa teve para os EUA – além de declarar que os jovens de hoje não conseguem compreender tal dimensão, ou sequer sabem quem ele foi. O que o diretor aponta é a importância da história, de evoluir, mas sempre buscar o passado como referência. Personalidades maiores que a vida em determinada época, simplesmente perdem seus valores com o esquecimento. É assim em todas as áreas, inclusive no cinema.

Em um diálogo um personagem dispara: “Se eles conseguiram fazer um presidente desaparecer, conseguem fazer este cara desaparecer”, se referindo à máfia como responsável pela morte de ambos o presidente John F. Kennedy e Jimmy Hoffa, dois casos abafados. Se Martin Scorsese vai fazer o que pode muito bem ser seu último filme sobre o tema (tomara que não), que seja o maior deles em escopo. Aqui, o diretor deixa o glamour do crime e os cassinos de Las Vegas para trás, para tratar de gangsteres reais, envolvidos com política, presidentes e o alto escalão dos EUA.

O Irlandês também trata de forte drama existencial em suas entrelinhas, e fala sobre amizade, família e solidão. O desfecho do protagonista é de partir o coração, quando ele se vê sozinho, no fim da linha, quando tudo e todos que conheceu o deixaram. É um daqueles filmes para esmiuçar e encontrar inúmeros significados. Um dos melhores filmes do ano. Poderia ser mais curto? Poderia. Scorsese poderia ter uma mão mais firme na edição? É claro. Mas quem em sã consciência iria querer ver menos de uma obra deste mestre? E com a Netflix como sua nova casa, a liberdade que o diretor sempre quis é finalmente abraçada. Qual cinéfilo falará mal da plataforma agora?

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