Angústia sem Fim
Exibido no Festival de Sundance deste ano (em janeiro), O Mínimo para Viver foi prontamente comprado e distribuído pelo colosso Netflix em sua plataforma, sem passar pelos cinemas comercialmente. O fato não deixa de ser uma iniciativa louvável da empresa, uma vez que tais tipos de filmes, independentes, poucas chances têm de serem vistos, mesmo nas poucas salas exibidoras que ocupam.
Como parte do acervo da plataforma, tais obras menores conquistam uma sobrevida e maior acessibilidade. Escrito e dirigido por Marti Noxon (diretora responsável pela adaptação do livro Objetos Cortantes de Gillian Flynn, autora de Garota Exemplar, na forma de uma série de TV protagonizada por Amy Adams, que estreia ainda este ano), a proposta de O Mínimo para Viver é descortinar a anorexia, doença que faz suas vítimas definharem tanto fisicamente, quanto de forma mental. Uma pessoa anoréxica sempre se vê fora do corpo desejado, no caso acima do peso, causando um distúrbio alimentar sério. O anoréxico conta calorias, cria aversão à comida e muitas vezes vomita ou cospe o alimento para evitar o acréscimo de peso.
Na trama, acompanhamos Ellen (Lily Collins), protagonista que sofre do mal, entrando e saindo de clínicas. Ela bate e volta entre a casa dos pais separados. Sua mãe (Lili Taylor) vive no interior e se tornou lésbica, dividindo a vida com outra mulher. Seu pai, sempre ocupado com o trabalho, deixa nas mãos da esposa, madrasta de Ellen, papel de Carrie Preston, a responsabilidade de lidar com a menina problemática de 20 anos.
O que mais chama atenção em O Mínimo para Viver é a performance dedicada da protagonista Lily Collins. “Meio quilo” por natureza, a pequena atriz, filha do cantor Phil Collins, consegue baixar seu peso ao ponto de causar a mesma aflição que sua personagem nas pessoas ao redor. Fora a composição física, Collins, que nunca se destacou por suas interpretações, tem aqui o ápice de sua carreira, entregando um trabalho emotivo e certeiro.
O que acontece é que a personagem foi escrita propositalmente de forma odiosa. Não é questão de ser doente e não conseguir lutar, mas sim de não aceitar ajuda, sempre fugir quando a situação aperta e ser dona de atitudes na maioria das vezes incorretas, para dizer no mínimo. Ellen constantemente se vitimiza e o faz, como constata a certa altura o médico interpretado por Keanu Reeves – igualmente ótimo – para chocar, num típico ato de rebeldia juvenil.
Quando entra para uma clínica de reabilitação, conhece outros jovens tão problemáticos quanto ela. Neste momento, o longa ganha tintas de Um Estranho no Ninho (1975), mas principalmente Garota, Interrompida (1999), trocando apenas o distúrbio que as comete e interna, e a idade das pacientes.
Obviamente, produções protagonizadas por jovens personagens podem ser voltadas ao público adulto, causando identificação e nostalgia nos mesmos. Não é o caso com O Mínimo para Viver, que se comporta e contenta como obra mirada a uma fatia do público e uma geração. Tudo é moderninho demais. E no quesito vale mencionar o britânico Luke, que desenvolve relacionamento com a personagem de Collins. Alex Sharp, o intérprete, cativa pelo carisma.
Imagine algo como A Culpa é das Estrelas, onde uma doença fatal é tratada de forma branda, ou ao menos tentada, para tirar os pacientes do lugar esperado em uma situação dessas – e o público igualmente. No entanto, O Mínimo para Viver não possui o grande coração do filme citado, e sua pretensão emotiva e existencialista termina dando voltas sem sair do lugar.