No dia 26 de outubro, ‘O Mundo Sombrio de Sabrina‘ chegou à Netflix. Mesmo diferente da sua versão de 1996, que tinha um tom cômico, a série surpreendeu pela sua qualidade na história contada dentro dos 10 episódios da primeira temporada.
Atenção: O texto contém pequenos spoilers.
Com um estilo voltado ao horror, ‘O Mundo Sombrio de Sabrina‘ agrada tanto pela sua história quanto por atuações e detalhes técnicos. A fotografia escura se encaixa perfeitamente no que a série quer transmitir. Em termos de tom e linguagem, a relação com o Satanismo varia do cômico -fazendo paralelos diretos e sátiras com o Cristianismo – ao terror, podendo agredir àqueles espectadores que tem uma relação forte com a Igreja. Este equilíbrio é sempre bem pontuado e contextualizado de acordo com o contexto em que se passa o episódio naquele momento. A direção acerta muito em saber pontuar onde cada tipo de cena desse sentido deve se encaixar.
Além do tom obscuro, outro grande ponto forte da série são os personagens. Por não ter um elenco numeroso, foi possível desenvolver o máximo alguns dos elementos chave da série, como por exemplo, Zelda e Hilda, as tias de Sabrina, que são cruciais para o andamento da história e são as duas atrizes com o melhor trabalho da série até então. Palmas gigantes para Miranda Otto e Lucy Davis.
Até mesmo personagens que a princípio têm um peso menor para o desenvolvimento da história são muito bem trabalhados. No “núcleo humano”, Ros, Susie e Harvey possuem uma backstory que enriquece a relação deles com o enredo, mesmo sem a série se aprofundar muito. Isso dá uma importância maior para as cenas que se passam na escola comum e as que envolvem momentos triviais entre os amigos.
Por outro lado, há dois personagens que têm bons e maus momentos dentro do enredo. Ambrose (Chance Perdomo) cresce a cada episódio, porém, a partir de determinado momento até a conclusão da temporada, perde força. Já a Senhora Wardwell (Michelle Gomez), figura chave dentro da história, demora a engrenar e alguns momentos passam a ser chatos. Era necessário que o toque final ocorresse apenas no fim deste primeiro arco da série, então alguns momentos dela funcionam pela famosa “encheção de linguiça”. Felizmente, sobra carisma para ela e o seu jeito sarcástico de falar, além das sacadas envolvendo feminismo, que dão uma tolerância maior a ela por parte do público.
Por fim, a Sabrina de Kiernan Shipka é determinada, forte e imperfeita. Por mais que tome decisões no mínimo duvidosas, os espectadores entendem o modo de raciocínio dela. No fim da temporada, mais especificamente na última cena, uma aparente mudança de comportamento que dá a entender que veremos a protagonista com uma personalidade diferente na segunda temporada.
Ok, mas e o Salém?
O Salém não fala. E isso faz todo o sentido.
Sim, na antiga série, os comentários engraçados dele eram uma das maiores vantagens, mas no contexto que O Mundo Sombrio de Sabrina se passa, não caberia espaço para ele ser o mesmo de “Sabrina, Aprendiz de Feiticeira“. Salém é o guardião da personagem principal e aparece apenas nos momentos em que é necessária a presença dele para executar esta função de protetor.
Ótima, porém, não perfeita
Um ponto interessante das séries da Netflix é que são lançados poucos episódios, o que diminui o espaço para enrolações. Dez é um ótimo número para contar a história deste primeiro arco e quase tudo ficou redondo, porém, ainda assim há um episódio com muitas gorduras e apenas alguns poucos minutos de sua quase 1h de duração são necessários. “Sonhos de Bruxa“, o capítulo 5, poderia ser muito enxugado. É agradável de assistir, porém, mal faz a história andar.
A série agrada tanto aos fãs mais antigos quanto aqueles que nunca haviam assistido a série antiga. ‘O Mundo Sombrio de Sabrina‘ foi um dos melhores trabalhos da Netflix em 2018 e soube contar uma história coesa em um tom muito próprio. Considerando a atitude de Sabrina em relação ao livro no último episódio e sua visível mudança de personalidade, como visto na cena final com as Irmãs, há muitos elementos a serem explorados em temporadas futuras. A expectativa é que se mantenha o alto nível de qualidade de produção da série. Julgando pela primeira temporada, o começo é animador.
Assustador, divertido e pesado em alguns momentos , ‘O Mundo Sombrio de Sabrina‘ chama a atenção pela sua qualidade. Que continue assim.