terça-feira, março 19, 2024

Crítica | O Primeiro Homem – Diretor de ‘La La Land’ vai da lua ao Oscar

Apollo 11

E a temporada de prêmios começou oficialmente. Com o lançamento de O Primeiro Homem e Nasce uma Estrela este mês, os filmes que concorrem a uma vaga no Olimpo cinematográfico saem em largada rumo a eternidade. De fato, algumas produções já são pensadas neste âmbito: as chamadas iscas de Oscar. Veja bem, tal termo não é pejorativo para uma produção de forma alguma e nada tem a ver com a qualidade da obra em si – ao contrário do que muitos possam achar. Mas quando trazemos uma equipe de peso na frente e atrás das câmeras, num relato biográfico sobre um herói norte-americano, as apostas aumentam consideravelmente.

Quando explodiu no mundo do cinema em 2015 com Whiplash – Em Busca da Perfeição, baseado em seu próprio curta, o jovem Damien Chazelle, de 33 anos, escrevia inadvertidamente seu nome entre os astros mais brilhantes de Hollywood. A “cidade das estrelas” se curvaria ao rapaz apenas três anos depois. Com o amadurecimento em La La Land no currículo, o diretor chega agora ao seu terceiro e mais ambicioso longa, dando o próximo passo e demonstrando que o céu é realmente o limite para seu talento em expansão.

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Desde que este foi anunciado como seu próximo projeto, grande dúvida pairava na mente dos cinéfilos, já que até então os filmes do cineasta focavam em relacionamentos e a paixão pela música. Por isso, a ousadia causava certa estranheza. O Primeiro Homem se ergue como a primeira obra não assinada por Chazelle, igualmente um roteirista de primeira. Este texto é baseado no livro de James R. Hansen, com roteiro adaptado por Josh Singer (produtor de Spotlight e The Post) e narra a trajetória biográfica de Neil Armstrong até o dia em que se tornou o primeiro homem a pisar na lua – cimentando seu nome na história do mundo, como uma das figuras mais importantes que já viveu neste planeta. Pouca coisa, certo?

Aliás, este é um dos tópicos discutidos aqui no filme de Chazelle, e talvez o principal deles. O que move o homem? O que nos faz enfrentar a morte? Arriscar nossas vidas? Todos nós iremos morrer, isso é indiscutível. Os mais corajosos apostam tudo por uma chance de um grande feito, de se despedir em grande estilo em nome de um ideal e da humanidade. Ou, se forem bem sucedidos, melhor ainda, já que poderão usufruir de tal glória. Assim foi a vida de Armstrong, interpretado aqui pelo ator fetiche do cineasta, Ryan Gosling. Pela colaboração anterior, Gosling recebeu sua segunda indicação ao Oscar, e ao que tudo indica está forte no páreo para a terceira.

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O retrato de Armstrong que Ryan Gosling cria é introspectivo e minimalista, como de costume. Tem se tornado especialidade para o ator viver homens de poucas palavras, fechados em seus sentimentos e conduzidos por uma performance interiorizada, rica em expressões faciais e reações, e curta em diálogos. Quem acompanha de perto para o bate bola é a novata Claire Foy, britânica que despontou ao estrelato devido a série da Netflix, The Crown. A atriz vive Janet Armstrong, a esposa do astronauta e ganha seus momentos no holofote, em especial a cena na qual obriga o marido a se despedir dos filhos, já que pode partir e nunca mais vê-los. O momento é de pura explosão e a jovem de 34 anos segura a composição como uma veterana – muito bem podendo ser seu “clipe do Oscar”.

Voltando ao primeiro parágrafo, O Primeiro Homem é um filme confeccionado para prêmios, ou ao menos risca todos os itens primordiais da lista para encantar os votantes. Mas como dito também, a qualidade para tal é imprescindível e Chazelle marca o terceiro consecutivo sem escorregar. A obra segue de perto a trilha de produções memoráveis sobre o tema, vide Os Eleitos: Onde o Futuro Começa (1983) – indicado para melhor filme e vencedor de quatro Oscar – e Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo (1995) – indicado para melhor filme e vencedor de dois Oscar.

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Não deixe de assistir:

O Primeiro Homem, no entanto, não é um filme tão acessível quanto os primeiros do diretor. Contra a obra, o tempo excessivo de projeção (2h20min) e o ritmo deliberadamente lento – e em muitos trechos contando com a ausência completa de diálogos – se mostrará um desafio para o grande público e exigirá mesmo dos cinéfilos, que não se interessam tanto pelo tema. Dito isso, mesmo que esta não seja muito a sua praia, o que os envolvidos conquistam aqui é incontestável. E não apenas na parte técnica. O novo filme de Chazelle é escrito com F maiúsculo.

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O Primeiro Homem funciona como espetáculo visual, nos imergindo por completo em cenas que reproduzem com realismo impressionante decolagens de foguetes, entradas na estratosfera, perda de controle da nave e momentos de tensão que prometem deixar os nervos à flor da pele. É claro que o prato principal é a aterrissagem na lua, servida por uma trilha incisiva e exuberante (mesclada ao longo da projeção com jazz – como não poderia deixar de ser) e uma recriação visual do icônico momento que nos põe literalmente no satélite natural da Terra. O trecho é tão perfeito que merecia estar em algum passeio da NASA. Você pode fazer a sua parte e procurar a maior sala acessível para assistir ao longa.

Por outro lado, o filme é um resiliente estudo de personagem, que não se intimida ao desbravar a persona fria do herói, seus traumas e perdas. Além, é claro, de seu pilar, a forte mulher por trás (ou quem sabe à frente) dele. O Primeiro Homem é o longa mais sóbrio e correto de Damien Chazelle, mas não menos especial.

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