sábado, abril 20, 2024

Crítica | O Silêncio do Céu

O que é felicidade meu amor?  O novo trabalho do cineasta paulistano Marco Dutra (do interessante Quando Eu Era Vivo) é uma jornada esfíngica de um homem em busca de respostas em relação a uma situação que mudará para sempre sua vida. O roteiro beira à perfeição, consegue prender a atenção do público a cada segundo, a direção primorosa de Dutra traduz com eficiência um ritmo sinistro aos passos dos protagonistas, os atores principais dão um verdadeiro espetáculo ao público, principalmente Carolina Dieckmann que executa o seu melhor trabalho no cinema. Toda a produção parece uma orquestra entrosada, onde ritmos e harmonia andam detalhadamente simétricos, conseguindo apresentar ao público um dos melhores filmes do ano.

Baseada no livro Era el Cielo, de Sergio Bizzio, que também assina o roteiro, O Silêncio do Céu acompanha a trajetória de Mario (Leonardo Sbaraglia), um escritor/roteirista que acaba de voltar para sua esposa após alguns meses de separação. Mario é um homem repleto de medos e sempre brincou sobre essa questão com sua mulher Diana (Carolina Dieckmann). Certo dia, quando Diana chegava em casa é abordada por dois homens que a estupram. A questão é que Mario também estava chegando em casa e acaba presenciando a cena e não faz nada. Consumido pela dor e pela fraqueza de não ter feito nada para ajudar sua mulher, quase que seguindo os pensamentos do filósofo e escritor inglês Francis Bacon, que dizia: ‘A vingança é uma espécie de justiça selvagem’, Mario parte em busca de respostas para suas lacunas impostas por pensamentos dolorosos e por umas pitadas generosas de culpa, e acaba encontrando pelo caminho a coragem de executar uma vingança desenfreada e completamente inconsequente.

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Há muitos pontos a se destacar. O protagonista Mario é um grande enigma cheio de dimensões emocionais. Dominado sua vida toda pelo medo de muitas coisas, conseguiu encontrar um porto seguro ao lado de Diana, de quem percebe que não consegue esconder suas angústias de nenhuma forma. Tudo isso muda radicalmente quando acontece a situação já comentada com sua esposa e ele precisa além de enfrentar o medo, resolver o problema de uma forma que isso não influencie mais na sua rotina. O clímax do filme é um período longo e borbulhado de emoções em seu contorno. A atuação de Leonardo Sbaraglia merece elogio pois consegue passar toda a angústia e aflição de seu personagem ao espectador.

Já Diana é uma mulher que largou o Brasil para viver no Uruguai com seu marido, trabalha em um ateliê e após o estupro que sofreu vive de incertezas sobre se conta ou não conta o que houve e de uma certa falta de confiança com as pessoas, até mesmo com seu marido.  Ela é a chave de todo o mistério que se chega após descobertas de Mario sobre os criminosos de quem planeja se vingar. Em diálogos memoráveis (um deles guiados pela declamação da música Corcovado , de Tom Jobim), a dupla de protagonista navega pelo tom sentimental angustiante, com muitos olhares e diversas lacunas a serem preenchidas de um para o outro. Esse clima de suspense que acaba chegando no segundo ato em diante transforma esse filme em um dos melhores projetos nacionais dos últimos anos. Vale também o destaque para Carolina Dieckmann que consegue dar uma força em cena para sua personagem que é impressionante, principalmente quando usa do olhar para dizer alguma coisa. Bela atuação da Carol.

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O Silêncio do Céu promete agradar crítica e público com atuações acima da média, um roteiro quase que perfeito e uma genialidade de Dutra por trás das câmeras. Bravo!

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