sábado, dezembro 27, 2025

Crítica | O Silêncio do Pântano – Berlim de ‘La Casa de Papel’ estrela suspense da Netflix

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Saudade do Berlim, né minha filha? Pois é, enquanto uma possível nova temporada de ‘La Casa de Papel’ não estreia, uma dica interessante é assistir a ‘O Silêncio do Pântano’, novo suspense da Netflix que traz nosso Berlim como um escritor serial-killer.

Já na primeira cena vemos Q (Pedro Alonso), um homem claramente confuso que, numa noite de tempestade e muito trânsito, acaba pegando um táxi. Só que o taxista é falador e teimoso, e vai por um caminho do qual Q não gosta e, no meio do trajeto Q vomita e o taxista fica bem puto com isso. Então, num rompante de fúria, Q mata o taxista. E aí entendemos que na verdade tudo isso aconteceu enquanto o verdadeiro Q estava lendo esta cena, e que tudo faz parte de uma história de ficção que ele estava narrando de seu novo livro, ‘Quando a Espuma do Mar Fica Vermelha’.

Ambientado na cidade de Valência, na Espanha, a história mistura política, economia, suspense, serial-killer e drama. Um easter egg bem legal é se atentar para a tal casa no pântano, que aparece já na primeira sequência com Pedro Alonso ali parado: esta casa é a mesma utilizada na série ‘O Píer’, que tem como protagonista Álvaro Morte, o Professor. Coincidência? Ou será que inconscientemente a Netflix está criando um “ universo la casa de papel”?



Baseado no livro de 2015 ‘El Silencio del Pantano’, de Juanjo Braulio, o longa de pouco mais de duas horas de duração entrelaça ficção e realidade em um roteiro confuso e uma história fraca. Escrito por Carlos de Pando e Sara Antuña, o roteiro alterna cenas que parecem desconexas entre si, até serem esclarecidas no grande final. O problema é que até lá o espectador se perde sobre a motivação das atitudes dos personagens, sobre a relação entre eles, sobre o papel de cada um na história e, acima de tudo, sobre o porquê das coisas estarem acontecendo.

Marc Vigil até consegue construir uma atmosfera interessante na direção do seu longa, posicionando a câmera como se o espectador estivesse flagrando algo escondido e ambientando o filme com uma sonoplastia bem hitchcockiana. Entretanto, Marc exigiu muito pouco de seu elenco, e o resultado é atuações destoantes que não exprimem sentimentos. Até mesmo o queridinho Pedro Alonso, que em diversas vezes entra em cena fazendo carão e quase não tem fala, como se literalmente fosse um narrador espectador inclusive do próprio filme do qual é protagonista. É bem esquisito isso.

Somando todos os pontos conflitantes, fica complicado encontrar um bom motivo para assistir a ‘O Silêncio do Pântano’ que não seja o fato de ser um suspense estrelado por Pedro Alonso no qual ele meio que faz o papel de um serial-killer – porque nem ele está bem no filme. Experimental demais, ‘O Silêncio do Pântano’ começa e termina sem ir a lugar algum.

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Janda Montenegro
Janda Montenegro é doutora-pesquisadora em Literatura Brasileira no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRJ com ênfase nas literaturas preta e indígenas de autoria brasileira contemporâneas. De origem peruana amazônica, Janda é uma palavra em tupi que significa “voar”. Desde 2018 trabalha como crítica de cinema nos portais CinePOP e Cabine Secreta. É curadora, repórter cultural, assistente de direção e roteirista. Co-proprietária da produtora Cabine Secreta e autora dos romances Antes do 174 (2010), O Incrível Mundo do Senhor da Chuva (2011); Por enquanto, adeus (2013); A Love Tale (2014); Três Dias Para Sempre (2015); Um Coração para o Homem de Lata (2016); Aconteceu Naquele Natal (2018,). O Último Adeus (2023). Cinéfila desde pequena, escreve seus textos sem usar chat GPT e já entrevistou centenas de artistas, dentre os quais Xuxa, Viola Davis, Willem Dafoe, Luca Guadanigno e Dakota Johnson.
Janda Montenegrohttps://cinepop.com.br
Janda Montenegro é doutora-pesquisadora em Literatura Brasileira no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRJ com ênfase nas literaturas preta e indígenas de autoria brasileira contemporâneas. De origem peruana amazônica, Janda é uma palavra em tupi que significa “voar”. Desde 2018 trabalha como crítica de cinema nos portais CinePOP e Cabine Secreta. É curadora, repórter cultural, assistente de direção e roteirista. Co-proprietária da produtora Cabine Secreta e autora dos romances Antes do 174 (2010), O Incrível Mundo do Senhor da Chuva (2011); Por enquanto, adeus (2013); A Love Tale (2014); Três Dias Para Sempre (2015); Um Coração para o Homem de Lata (2016); Aconteceu Naquele Natal (2018,). O Último Adeus (2023). Cinéfila desde pequena, escreve seus textos sem usar chat GPT e já entrevistou centenas de artistas, dentre os quais Xuxa, Viola Davis, Willem Dafoe, Luca Guadanigno e Dakota Johnson.
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