quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | ‘Operação Maré Negra’ é uma odisseia pelo mundo do narcotráfico ultramarino

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Em 2019, uma embarcação semissubmersível saiu de Manaus e atravessou o Oceano Atlântico em direção à Galícia com toneladas de cocaína para serem comercializadas no submundo do narcotráfico espanhol. Entretanto, a mercadoria e os traficantes foram interceptados por uma ação conjunta das autoridades europeias, ganhando as manchetes do planeta, tanto pela sagacidade da operação quanto pelo intrincado plano dos contrabandistas. E foi essa história que também chamou a atenção dos realizadores Patxi Amezcua e Natxo López, que resolveram levar essa empreitada contra a disseminação das drogas às telinhas sob o título Operação Maré Negra, que chega amanhã ao catálogo do Prime Video.

A trama tenta fornecer um pouco mais detalhes ao que realmente aconteceu, mergulhando em incursões dramatizadas bastante competentes e em uma assimilação desconstruída de todos os elementos que bombardeiam a cultura mainstream do streaming. Comandada por Daniel Calparsoro, a minissérie, composta por apenas quatro capítulos, é sólida em boa parte do que resolve entregar ao público, ainda que peque no ritmo e na identidade que busca, não sabendo escolher o que acompanhar. Mesmo com os aparentes deslizes, o resultado é aprazível e envolvente, nos guiando por uma jornada de vida e morte que arrasta para o fundo do mar vidas inocentes e o império desmantelado de chefões do crime.



A produção começa da maneira mais formulaica possível – uma jogada inteligente por parte dos criadores, visto que é preciso que conheçamos os personagens. Respaldando-se em qualquer drama dos últimos quinze anos do cenário televisivo, somos apresentados a Nando (Álex González), um jovem lutador de boxe amador que acaba de ganhar um campeonato regional, mas é pressionado pelo treinador a conseguir patrocinadores para que comece a ganhar dinheiro. As coisas não saem como o planejado e, atraído pelo mundo do crime, é empregado como mula de um gigantesco negócio. Entretanto, ele não percebe que seu “bico” é apenas o primeiro de vários passos que o obrigam a ir até a Amazônia, encontrar-se com o perigoso João (Bruno Gagliasso) e atravessar o Atlântico em um submarino que, a qualquer momento, pode naufragar.

O aspecto de maior sucesso da obra é não ter precisado se alongar muito para contar a história: diferente de tantas recentes incursões, que esticam tramas simples em oito ou dez episódios cansativos e repetitivos. Aqui, os angustiantes acontecimentos são compactados em apenas quatro capítulos, destinando cada qual à exploração da ascensão e queda de Nando – afinal, ele vê seus sonhos desaparecerem em um piscar de olhos quando percebe que não há escapatória do que fez (e que a prisão aquática em que se encontra pode ser sua última memória). Nesse quesito, González faz um bom trabalho, por mais que não demonstre uma variedade consistente de expressões faciais, mantendo-se fiel à apatia letárgica de alguém que tem muito a se provar.

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Aliás, o elenco, em sua completude, se sobressai, mergulhado em um roteiro que vai e volta algumas vezes. Gagliasso marca presença com um antagonista fervoroso que não deixa ninguém ameaçar seus planos; Lúcia Moniz e Xosé Barato, interpretando a dupla de detetives responsável por interceptar o contrabando, desfrutam de uma química interessante, apesar de manchada pela falta de profundidade dos personagens – algo compreensível, visto que o enredo é destinado ao tráfico em si e se as coisas darão certo para alguma das partes. Nerea Barros, vivendo a prima de Nando e uma das chefonas do narcotráfico, é desperdiçada de maneira similar – ainda que roue os holofotes com seu charme incomparável nas sequências a que é escalada.

A técnica desfrutada pelos realizadores não apresenta nada de original e nem sequer a faz com tal propósito: infundidos com um melancólico filtro azul que contrasta com as cores quentes da Amazônia, os episódios se fincam na realidade de um dos maiores crimes da história recente da humanidade, motivo pelo qual não há espaço para extravagâncias cênicas ou ousadias imagéticas. A funcionalidade é o que fala mais alto, por mais que o baixo orçamento dos efeitos especiais causa certa comicidade nos espectadores. Ademais, as engrenagens movem-se a um ritmo comedido e que nos instiga a saber o desenrolar dessa odisseia.

Mesmo em meio a tropeços e obstáculos visíveis, Operação Maré Negra cumpre com o esperado e deve conquistar os assinantes do Prime Video nos próximos dias. O roteiro e a atuação são fatores decisivos para que aceitemos o convite feito pela plataforma de streaming – e se fecham em um círculo concreto de começo, meio e fim que perpassa por (quase) todos os elementos de uma divertida produção audiovisual.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Crítica | ‘Operação Maré Negra’ é uma odisseia pelo mundo do narcotráfico ultramarino

Em 2019, uma embarcação semissubmersível saiu de Manaus e atravessou o Oceano Atlântico em direção à Galícia com toneladas de cocaína para serem comercializadas no submundo do narcotráfico espanhol. Entretanto, a mercadoria e os traficantes foram interceptados por uma ação conjunta das autoridades europeias, ganhando as manchetes do planeta, tanto pela sagacidade da operação quanto pelo intrincado plano dos contrabandistas. E foi essa história que também chamou a atenção dos realizadores Patxi Amezcua e Natxo López, que resolveram levar essa empreitada contra a disseminação das drogas às telinhas sob o título Operação Maré Negra, que chega amanhã ao catálogo do Prime Video.

A trama tenta fornecer um pouco mais detalhes ao que realmente aconteceu, mergulhando em incursões dramatizadas bastante competentes e em uma assimilação desconstruída de todos os elementos que bombardeiam a cultura mainstream do streaming. Comandada por Daniel Calparsoro, a minissérie, composta por apenas quatro capítulos, é sólida em boa parte do que resolve entregar ao público, ainda que peque no ritmo e na identidade que busca, não sabendo escolher o que acompanhar. Mesmo com os aparentes deslizes, o resultado é aprazível e envolvente, nos guiando por uma jornada de vida e morte que arrasta para o fundo do mar vidas inocentes e o império desmantelado de chefões do crime.

A produção começa da maneira mais formulaica possível – uma jogada inteligente por parte dos criadores, visto que é preciso que conheçamos os personagens. Respaldando-se em qualquer drama dos últimos quinze anos do cenário televisivo, somos apresentados a Nando (Álex González), um jovem lutador de boxe amador que acaba de ganhar um campeonato regional, mas é pressionado pelo treinador a conseguir patrocinadores para que comece a ganhar dinheiro. As coisas não saem como o planejado e, atraído pelo mundo do crime, é empregado como mula de um gigantesco negócio. Entretanto, ele não percebe que seu “bico” é apenas o primeiro de vários passos que o obrigam a ir até a Amazônia, encontrar-se com o perigoso João (Bruno Gagliasso) e atravessar o Atlântico em um submarino que, a qualquer momento, pode naufragar.

O aspecto de maior sucesso da obra é não ter precisado se alongar muito para contar a história: diferente de tantas recentes incursões, que esticam tramas simples em oito ou dez episódios cansativos e repetitivos. Aqui, os angustiantes acontecimentos são compactados em apenas quatro capítulos, destinando cada qual à exploração da ascensão e queda de Nando – afinal, ele vê seus sonhos desaparecerem em um piscar de olhos quando percebe que não há escapatória do que fez (e que a prisão aquática em que se encontra pode ser sua última memória). Nesse quesito, González faz um bom trabalho, por mais que não demonstre uma variedade consistente de expressões faciais, mantendo-se fiel à apatia letárgica de alguém que tem muito a se provar.

Aliás, o elenco, em sua completude, se sobressai, mergulhado em um roteiro que vai e volta algumas vezes. Gagliasso marca presença com um antagonista fervoroso que não deixa ninguém ameaçar seus planos; Lúcia Moniz e Xosé Barato, interpretando a dupla de detetives responsável por interceptar o contrabando, desfrutam de uma química interessante, apesar de manchada pela falta de profundidade dos personagens – algo compreensível, visto que o enredo é destinado ao tráfico em si e se as coisas darão certo para alguma das partes. Nerea Barros, vivendo a prima de Nando e uma das chefonas do narcotráfico, é desperdiçada de maneira similar – ainda que roue os holofotes com seu charme incomparável nas sequências a que é escalada.

A técnica desfrutada pelos realizadores não apresenta nada de original e nem sequer a faz com tal propósito: infundidos com um melancólico filtro azul que contrasta com as cores quentes da Amazônia, os episódios se fincam na realidade de um dos maiores crimes da história recente da humanidade, motivo pelo qual não há espaço para extravagâncias cênicas ou ousadias imagéticas. A funcionalidade é o que fala mais alto, por mais que o baixo orçamento dos efeitos especiais causa certa comicidade nos espectadores. Ademais, as engrenagens movem-se a um ritmo comedido e que nos instiga a saber o desenrolar dessa odisseia.

Mesmo em meio a tropeços e obstáculos visíveis, Operação Maré Negra cumpre com o esperado e deve conquistar os assinantes do Prime Video nos próximos dias. O roteiro e a atuação são fatores decisivos para que aceitemos o convite feito pela plataforma de streaming – e se fecham em um círculo concreto de começo, meio e fim que perpassa por (quase) todos os elementos de uma divertida produção audiovisual.

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