Você já deve ter se deparado na internet com vídeos que mostram técnicas para se resguardar quando você aluga um apartamento numa plataforma como Arbnb. Tais técnicas vão desde colocar uma moeda na maçaneta (para acordar caso alguém tente entrar), colar um band-aid no olho mágico da porta ou simplesmente revirar o ambiente todo atrás de possíveis câmeras escondidas. Ações oriundas da paranoia coletiva de que sempre é possível alguém entrar no quarto/apartamento alugado sem a devida autorização. Se por um lado essa desconfiança parece bastante recorrente na vida real, na ficção de terror, entretanto, os personagens parecem ignorar – e é assim que surgem as histórias mais brutais, como a do filme ‘Os Estranhos: Capítulo 1’, que estreia essa semana nos cinemas brasileiros.
Ryan (Froy Gutierrez) e Maya (Madelaine Petsch) namoram há 5 anos e estão prestes a dar um novo passo no relacionamento deles. É que Maya foi chamada para uma entrevista promissora em uma outra cidade, por isso ela e Ryan estão atravessando o estado de carro. Porém, ao chegarem para comer na minúscula cidade de Venus, de menos de 500 habitantes, Ryan e Maya sentem a hostilidade no ar da lanchonete em que param. Quando saem, a surpresa: o carro deles misteriosamente apareceu quebrado, e eles serão obrigados a passar a noite numa casa no meio da floresta, que é a única hospedagem disponível para turistas. Apesar da mudança de planos, a pernoite era para ser romântica e tranquila para o casal, até que barulhos estranhos e passos sorrateiros começam a ressoar pela casa onde estão hospedados.
Aos desavisados, é importante mencionar que ‘Os Estranhos: Capítulo 1’, como já indica o título, é a primeira parte de um projeto maior: na verdade, é o primeiro filme de uma trilogia de terror sobre a mesma história e com os mesmos personagens. Isto dito, é bastante frustrante chegar ao final do filme (que dura apenas uma hora e vinte minutos) e não ter uma conclusão mínima do enredo geral; ao invés, a sensação que fica é que o final do filme é justamente o começo, é quando a verdadeira história, o verdadeiro terror vai começar… mas que ficou reservado para a próxima produção. Enfim né.
O trio de assassinos mascarados, estilo boneca/pin-up/espantalho, é interessante por sua estética meio retrô dentro de um contexto contemporâneo. Em contrapartida, o casal protagonista até entretém, mas deixa um pouco a desejar na entrega de atuação, especialmente nas cenas de terror. O diretor Renny Harlin faz escolhas curiosas para seu filme, com excesso de close no rosto de Maya (que só evidencia o preenchimento labial, que distrai a imersão na trama) e a manutenção de maquiagem para a personagem mesmo quando ela sai do banho (usando delineador). Por outro lado, o diretor faz boas marcações de cena para o posicionamento dos personagens, ora colocando o casal abaixo dos assassinos, hora usando a luz (e sua ausência) para engrandecer o sentimento deles.
O roteiro de Bryan Bertino, Alan R. Cohen e Alan Freedland faz os personagens tomarem decisões irracionais mesmo para uma situação de suspense (como decidir deliberadamente ignorar som de passos pela casa, sem sequer checar se é real) para fazer esta primeira parte render mais no enredo da trilogia, e isso também é frustrante. Apesar de cortada em três partes, ‘Os Estranhos: Capítulo 1’ e sua franquia têm um início promissor, deixando expectativa para os próximos filmes que, estes sim, devem aumentar a dose de terror.