*Por Alexandre Almeida, direto de Vancouver, Canadá.
Existe uma data de validade para filmes que demoram a estrear? “Novos Mutantes” é a prova que sim. Marcado inicialmente para 2018, o filme sofreu com adiamentos, o processo de compra da Fox pela Disney e com o fechamento dos cinemas devido ao coronavírus. Como a produção se comporta estreando dois anos depois do lançamento previsto?
Como um produto fora de época. O filme não serve para dar continuidade aos eventos que a Fox planejava para o mundo mutante pós “Logan” e também não se encaixa com o que esperamos de um filme dos X-Men (ou passado no mesmo ambiente) no Universo Marvel da Disney. Explico.
O filme mostra a chegada de uma jovem, Danielle, a Miragem (Blu Hunt), ao hospital que abriga quatro adolescentes mutantes e uma médica (Alice Braga). Não tarda para que conheçamos os poderes dos quatro: Roberto, o Mancha Solar (Henry Zaga), Illyana, a Magia (Anya Taylor-Joy), Rahne, a Lupina (Maisie Williams) e Sam, o Míssil (Charlie Heaton).
Já a mutação de Danielle é o grande mistério do filme. Cada um cumpre o papel de tramas adolescentes: a menina que vem de fora, o bonitão, a rebelde, a tímida e o esquisito. Williams e Heaton se destacam do resto, enquanto Taylor-Joy até tenta, mas sua personagem é muito exagerada.
Dividido em basicamente três partes, “Novos Mutantes” tem seu pior momento nos 20 minutos iniciais. Atuações ruins e fora de tom, correria ao apresentar os personagens e um clima de mistério que não engana ninguém. O meio do filme é sua melhor parte. Com uma vibe Clube dos Cinco, é o momento que realmente passamos a nos importar com algumas das histórias, os relacionamentos entre os mutantes, sua visão do mundo e que entendemos as dores de cada um dos cinco jovens aos lidar com seus poderes. Já os 20 minutos finais trazem o esperado de qualquer filme de ação e que o último trailer, lançado na San Diego Comic-Con, revela quase por completo.
Aliás, “Novos Mutantes” está muito mais para uma “Malhação” com poderes especiais do que para a ideia de filme de terror, que o primeiro trailer e o diretor Josh Boone venderam. Não há nada de terror. Não há sustos e sempre que o filme ameaça mostrar algo mais pesado, rapidamente a cena acaba. A cena do Mancha Solar na piscina e da Lupina com uma ilusão no chuveiro são clichês, mas tinham muito potencial de realmente trazer algo mais forte e impactante. Tudo fica pelo caminho.
Inclusive, há erros de montagem digno de sitcom da década de 90, com cortes de câmera com personagens olhando para lados diferentes, movimentos corporais diferentes do corte anterior. Aí sim, o verdadeiro horror.
E é nesse meio tempo do filme que temos duas referências diretas ao mundo dos mutantes que a Fox estava contando na época. Uma com ligação em “Logan” e outra com “X-Men: Apocalipse”.
O que mais decepciona em “Novos Mutantes” não é o filme ter demorado tanto para sair e ser uma completa bagunça. É o filme ter demorado para sair, ter um potencial ali, mas que ele nunca cumpre, que nunca chega a lugar algum e que já sabemos, nunca vai chegar. É um material velho, que na época das locadoras, poderia até virar aquela fita que chama a atenção da galera e cria aquela curiosidade que transformou diversos filmes em cult.
Hoje, com dezenas de novos lançamentos por mês, “Novos Mutantes” deverá ser esquecido mais rapidamente do que o tempo que levou para estrear. Uma pena. O ponto final dos Xs na Fox até que tinha potencial.