O canal pago Multishow já vem se firmando como um grande produtor de conteúdo humorístico há muitos anos. De lá saíram excelentes programas de comédia que eventualmente extrapolaram o espaço do canal e ganharam o formato fílmico, como ‘Vai Que Cola’, ‘Tô de Graça’ e, mais recentemente, ‘Os Suburbanos’, programa surgido em 2015 no canal pago e que a partir dessa semana ganha seu primeiro longa-metragem estreando nas salas de cinema do país sob o mesmo título.
Jefinho (Rodrigo Sant’Anna) quer fazer sucesso de qualquer jeito. Enquanto isso, trabalha como piscineiro na casa de Lorena (Cristiana Oliveira), na expectativa de que ela entregue seu CD ao marido, J. P. (Paulo Cesar Grande), dono de uma importante gravadora. Mas seu primo, Wellington (Babu Santana), responsável por empresariar o grupo de pagode deles, marca diversas apresentações dos rapazes, às quais Jefinho sempre se atrasa. Dentre as peripécias do trabalho e do grupo, Jefinho ainda arranja tempo para amar Gislene (Carla Cristina Cardoso) e compor aquela que ele acredita ser a música que irá alavancar sua carreira artística, o pagode “Xavasca Guerreira”, mesmo que o resto do grupo discorde da qualidade da canção.
Para quem não acompanha a série homônima, dá para assistir a ‘Os Suburbanos’ sem prejuízo de não entender a história. O roteiro de Rodrigo Sant’Anna com Denise Crispun é bem redondinho, começando com o protagonista quebrando a quarta parede para iniciar a narrativa de suas desventuras, seguindo por toda a sequência de acontecimentos até a história encontrar o tempo presente e apresentar a conclusão final. Esse formato circular não oferece brecha para que o espectador se confunda, e é ideal para uma comédia de grande público.
Com luxuosa participação especial de Jojo Todynho e Tadeu Mello, que se mostram bastante à vontade em interação com o elenco, o filme de Luciano Sabino (que também dirigiu a série) constrói um apurado retrato da vida da zona norte carioca não-elitizada, lá pelos lados de Penha, Irajá e acima. As cores vivas, as falas ligeiras, as piadas prontas, os tremeliques e caras e bocas do elenco são reproduzidos em consonância com a essência dos personagens expansivos do subúrbio, que têm, na mesma medida, amor e volume. Ainda que, ao final do filme, tenhamos a sensação de termos assistido a uma sequência de esquetes agrupadas por tema, há um fio condutor que une as cenas de maneira plausível e convincente; as piadas, centradas no protagonista, funcionam em todos os núcleos do enredo, apesar de alguns personagens de apoio serem construídos em cima de estereótipos.
Alinhado com as qualidades e os defeitos do cidadão comum – que repete preconceitos mas, na hora do vamos ver, deixa os temores de lado para embarcar no sonho e no amor – ‘Os Suburbanos’ é uma comédia leve e atual à contemporaneidade no centro urbano. A produção acerta ao trazer o elenco tradicional da série televisiva e dar um tom ‘Austin Powers’ ao malandro Jefinho. Com humor, o filme mostra que todos nós erramos em nossos pré-conceitos, mas que o importante é evoluirmos como pessoa e respeitarmos aos outros, da mesma maneira como queremos que respeitem nossos sonhos. Para rir e refletir, como toda boa comédia deve ser.