terça-feira, abril 30, 2024

Crítica | Paloma – Premiado Longa Brasileiro Questiona Quem Pode Sonhar no Brasil

Filme visto no Festival do Rio 2022.

Quando eu crescer eu quero ser… Quando eu for rico eu quero comprar… Essas frases indicam os tipos de sonhos mais enraizados em um indivíduo. Entretanto, quem são as pessoas que têm direito a sonhar? O sonho é para qualquer um? Não estamos falando da realização do sonho em si, mas sim do direito de sequer sonhar sobre qualquer assunto, qualquer coisa. Em nossa sociedade, o direito de sonhar é para todos? Essa inquietação é o centro do dramaPaloma’, premiado com nas principais categorias no Festival do Rio 2022 (Melhor Atriz, Melhor Filme e Prêmio Félix) e exibido na 46a Mostra de Cinema de São Paulo, e que chega às salas de cinema brasileiras a partir de 10 de novembro.

Paloma (Kika Sena) é uma mulher trans em uma cidade pequena no interior de Pernambuco. Ela vive uma vida comum e adorável com seu namorado, (Ridson Reis) e sua filha, Jenifer (Anita de Souza Macedo). Entre trabalhar na colheita de mamão e fazer bicos como penteadeira e cabeleireira, ela vive uma vida comum, como qualquer outra família. Entretanto, Paloma tem um sonho: quer se casar, e na igreja católica, com véu e grinalda. Para realizar seu sonho ela fará de tudo, desde juntar dinheiro a até encontrar um padre disposto a realizar a cerimônia. O problema é que o casamento, que para qualquer outra pessoa seria motivo de festa e celebração, acaba se tornando um acontecimento na cidade, levantando o ódio encubado dos moradores locais.

Inspirado em uma história real, ‘Paloma’ é um filme extremamente sensível que busca retratar a vida de uma mulher trans como ela deveria de fato ser: normal. Para isso, o roteiro de Gustavo Campos, Marcelo Gomes e Armando Praça traz um tom mais positivo para o enredo, mais leve, pois o foco da história não é – uma vez mais – jogar luz sobre as dificuldades dos corpos trans, nas mazelas sociais, no sofrimento, na violência. É claro que essa realidade está no filme – às vezes de maneira indireta, em comentários cujos rostos não aparecem, e, mais precisamente, no arco final do longa – mas não é o foco, e isso faz com que o filme seja condizente tanto com a realidade quanto com o sonho, com a esperança, com o desejo que os corpos trans têm de serem vistos como cidadãos tais quais qualquer outro.

Marcelo Gomes consegue com seu filme o improvável: imprimir suavidade numa realidade comumente retratada como dolorida. ‘Paloma’ é adorável, seu sorriso e sua forma esperançosa de viver a vida é o que queremos ver no mundo real – e pela qual o cinema, como neste longa, cumpre seu papel semiótico, capaz de mudar realidades. Tudo isso reforçado por uma bela fotografia de Pierre de Kerchove, que faz uso preciso da iluminação e do posicionamento de câmera para reforçar o rosto iluminado e o cotidiano de Paloma em seu dia a dia, possível através de um posicionamento de câmera incomum que transporta o espectador para dentro da intimidade do casal.

Acima de tudo, ‘Paloma’ é um belíssimo filme, cujo tom positivo é um sopro de esperança que a sétima arte joga para a nossa realidade. É o filme que queremos ver, dentro e fora da ficção, naturalizando os corpes trans em todos os lugares.

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