A batalha pela sobrevivência é um dos temas mais recorrentes nas histórias especulativas, principalmente aquelas que envolvem seres humanos versus seres não humanos. A ficção científica, a fantasia, o terror, o suspense – diversos gêneros já trabalharam esse tema a partir de pontos de vista distintos, quase sempre colocando os seres humanos como protagonistas dessas histórias. Pegando onda nesse tipo de construção narrativa, mas trazendo um leve diferencial, estreou na Netflix a série sul-coreana ‘Parasyte: The Grey’, e vem se mantendo no Top 10 desde então.
Durante um festival de música eletrônica na cidade de Namil, na Coreia do Sul, criaturas não identificadas caem do céu, em espécie de cápsulas espinhosas. De dentro, saem pequenas criaturas que se assemelham a lacraias, e algumas delas atacam algumas pessoas no show, entrando por seus ouvidos. Em questão de minutos as pessoas têm seus cérebros comidos e se transformam, com suas cabeças explodindo e virando tentáculos com olhos. A partir daí, passam a atacar outros seres humanos, dos quais se alimentam. Embora isso tenha ocorrido em ambiente público, a verdade dessa história não se espalha rapidamente, de modo que a capitã Choi (Lee Jung-hyun) monta uma equipe especial de investigação para caçar essas criaturas parasitárias. No meio dessa confusão toda, estão Su-in (Jeon So-nee), uma pobre caixa de supermercado que sofre um ataque mas não se transforma completamente, e Kang-woo (Koo Kyo-hwan), um homem que só queria saber o paradeiro da irmã, mas acaba se juntando a Su-in numa luta pela sobrevivência.
Dividida em seis episódios com pouco mais de uma hora média cada um, ‘Parasyte: The Grey’ tem uma história completa, podendo ser vista como minissérie, ainda que, no final, entregue uma cena que dê gancho para uma possível segunda temporada (estratégia cada vez mais comum nas produções longas, que se baseiam no sucesso de público para continuar produzindo conteúdo).
O roteiro de Hitoshi Iwaaki, Yeon Sang-ho e Ryu Yong-jae tem uma estrutura que às vezes confunde, fazendo com que cada episódio comece com um flashback de algum dos muitos personagens da história, montando o quebra-cabeça geral aos poucos. Com o número reduzido de episódios, já estamos na metade da série quando nos damos conta disso, já que da mesma forma, com tantos personagens e uma história de sci-fi elaborada, o espectador tenta focar em entender o que está acontecendo e quem é quem, sem muito domínio porque a produção traz eles para série todos quase ao mesmo tempo.
Também a estética dos parasitas não é muito agradável, assemelhando-se a algo como um tubarão-martelo. Nem feios o suficiente para gerar repulsa, nem fofinhos o suficiente para inspirar empatia, a forma dos parasitas parece, afinal de tudo, prejudicar as cenas de ação, pois eles brigam lançando tentáculos que, para ganhar dinamismo na ação, perde credibilidade, já que os troncos têm que ficar mais ou menos parados. Algo que funciona melhor no mangá ou no anime, mas que no live-action perde velocidade.
Ainda assim, ‘Parasyte: The Grey’ é uma minissérie que prende a atenção, com poucos e bem-feitos episódios. Assemelha-se a outros sucessos de terror sul-coreanos, como ‘Sweet Home’ e ‘A Criatura de Gyeongseong’, ambas da Netflix, reforçando a potência sul-coreana de produzir entretenimento de ficção científica de qualidade.