quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica ‘Pelé’ | Novo documentário da Netflix traz uma versão politizada do futebol

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Edson Arantes do Nascimento é o maior jogador da história do futebol. Pioneiro, Pelé se notabilizou por seus lances geniais de puro talento, mas também expôs ao mundo que aquele esporte capaz de mexer com bilhões de pessoas ao redor do globo precisava se reformular, já que o preparo físico do eterno camisa 10 da Seleção Brasileira era muito superior ao dos outros. Seu estilo mágico de jogo, sua vitoriosa carreira e seu carisma o elevaram ao status de ícone da cultura pop mundial. Por isso, era de se esperar que filmes e documentários fossem realizados sobre ele. No entanto, a maioria não encontra o equilíbrio entre as histórias de Pelé e Edson, e acabam sendo criticados por omitirem certas coisas e valorizarem outras, resultando em avaliações mornas ou negativas. Então “Pelé“, o novo documentário da Netflix, chega ao streaming para tentar mudar isso.



Ao longo de quase duas horas de filme, o documentário traz imagens restauradas de diferentes épocas da carreira do craque, o que já seria um grande atrativo. Porém, eles trazem um grande elenco de entrevistados cuja vivência com o Rei do Futebol agrega muito à produção, como os ex-jogadores Pepe, Coutinho e Zagallo, e a irmã de Pelé. Fora esses amigos, alguns jornalistas esportivos, escritores e músicos dão seus depoimentos acerca da vida e da referência que o filho do seu Dondinho foi para o país.

É interessante reparar em como essa produção foi feita visando o público fora do Brasil. Isso porque as informações trazidas não são exatamente uma novidade para o público que está minimamente familiarizado com o nosso futebol. Em nível de comparação, por exemplo, o documentário Pelé Eterno (2004) traz muitos dados, curiosidades e informações a mais que o filme da Netflix. Mas é aquela história, né? O filme de 2004 foi duramente criticado por conta do ritmo lento – são mais de 2h de filme – e por não adentrar a fundo na vida pessoal do astro do Santos. Nessa nova empreitada, a Netflix não prezou por ser tão conteudista e tentou dar uma dinâmica melhor, trazendo uma narrativa que amarra diretamente a imagem de Pelé com os períodos que o Brasil viveu entre os anos 1950 e 1980. Ou seja, é uma abordagem mais politizada, mostrando os tempo de esperança que o país viveu entre o fim da década de 50 e o início da de 60, associando aos dois títulos mundiais, que chegam para varrer a “síndrome de vira-lata” do brasileiro, até a descrença com o Brasil em si e com o futebol, enquanto enfrentávamos os horrores da covarde Ditadura Militar e a Seleção amargava derrotas e buscava reencontrar seu caminho.

Tudo isso levando a trama a ser concluída na Copa do Mundo de 1970, na qual Pelé não tinha a menor vontade de jogar, mas acabou se desafiando a ir e vencer, mostrando muito foco e dedicação do atleta. É um documentário que segue pelo mesmo rumo narrativo de Arremesso Final – aquela série fantástica de 2020 que conta a história de Michael Jordan no Chicago Bulls -, só que sofre bastante por não ter sido feita em forma de série. Ser um filme-documentário dá a sensação de que eles tiveram que resumir muita coisa e optar por não trazer outras, que seriam facilmente contadas e desenvolvidas em uma série de 8 capítulos.

Você vê que a produção sofreu mesmo com o pouco tempo quando repara que Pelé, o homem que colocou o Santos no mapa, aparece poucas vezes com a camisa do Santos ao longo do documentário. Por outro lado, é interessante ver essa imagem acima, realizada no jogo do Gol 1000 – contra o Vasco -, na qual Pelé converteu seu milésimo gol e comemorou com uma volta olímpica vestindo a camisa número 1000 do Vasco da Gama, seu clube do coração. É uma cena inusitada e que pouquíssimas vezes é difundida pela imprensa esportiva tradicional. É uma pena que o filme não explore tanto a vida e esses momentos inusitados, porque a história do Rei do Futebol é riquíssima e merecia mais do que um doc. de “Introdução a Pelé”.

Enfim, se você é um fã de futebol, vai curtir bastante os depoimentos pessoais dados pelo próprio Pelé, bastante emocionado com seus feitos e reflexos, mas talvez fique meio cansado pelas informações que já são de conhecimento geral. Agora, se você não sabe quase nada do Pelé, além de que ele jogou muita bola e fez mais de mil gols, é uma boa pedida para ficar um pouco mais por dentro de quem ele foi e o que ele representou para o Brasil não apenas no cenário futebolístico. No fim, fica a impressão de que “Pelé” é um documentário voltado para a gringa, mas pode agregar valor para os brasileiros que não são muito ligados.

Pelé estreia em 23 de fevereiro na Netflix.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Ao longo de quase duas horas de filme, o documentário traz imagens restauradas de diferentes épocas da carreira do craque, o que já seria um grande atrativo. Porém, eles trazem um grande elenco de entrevistados cuja vivência com o Rei do Futebol agrega muito à produção, como os ex-jogadores Pepe, Coutinho e Zagallo, e a irmã de Pelé. Fora esses amigos, alguns jornalistas esportivos, escritores e músicos dão seus depoimentos acerca da vida e da referência que o filho do seu Dondinho foi para o país.

É interessante reparar em como essa produção foi feita visando o público fora do Brasil. Isso porque as informações trazidas não são exatamente uma novidade para o público que está minimamente familiarizado com o nosso futebol. Em nível de comparação, por exemplo, o documentário Pelé Eterno (2004) traz muitos dados, curiosidades e informações a mais que o filme da Netflix. Mas é aquela história, né? O filme de 2004 foi duramente criticado por conta do ritmo lento – são mais de 2h de filme – e por não adentrar a fundo na vida pessoal do astro do Santos. Nessa nova empreitada, a Netflix não prezou por ser tão conteudista e tentou dar uma dinâmica melhor, trazendo uma narrativa que amarra diretamente a imagem de Pelé com os períodos que o Brasil viveu entre os anos 1950 e 1980. Ou seja, é uma abordagem mais politizada, mostrando os tempo de esperança que o país viveu entre o fim da década de 50 e o início da de 60, associando aos dois títulos mundiais, que chegam para varrer a “síndrome de vira-lata” do brasileiro, até a descrença com o Brasil em si e com o futebol, enquanto enfrentávamos os horrores da covarde Ditadura Militar e a Seleção amargava derrotas e buscava reencontrar seu caminho.

Tudo isso levando a trama a ser concluída na Copa do Mundo de 1970, na qual Pelé não tinha a menor vontade de jogar, mas acabou se desafiando a ir e vencer, mostrando muito foco e dedicação do atleta. É um documentário que segue pelo mesmo rumo narrativo de Arremesso Final – aquela série fantástica de 2020 que conta a história de Michael Jordan no Chicago Bulls -, só que sofre bastante por não ter sido feita em forma de série. Ser um filme-documentário dá a sensação de que eles tiveram que resumir muita coisa e optar por não trazer outras, que seriam facilmente contadas e desenvolvidas em uma série de 8 capítulos.

Você vê que a produção sofreu mesmo com o pouco tempo quando repara que Pelé, o homem que colocou o Santos no mapa, aparece poucas vezes com a camisa do Santos ao longo do documentário. Por outro lado, é interessante ver essa imagem acima, realizada no jogo do Gol 1000 – contra o Vasco -, na qual Pelé converteu seu milésimo gol e comemorou com uma volta olímpica vestindo a camisa número 1000 do Vasco da Gama, seu clube do coração. É uma cena inusitada e que pouquíssimas vezes é difundida pela imprensa esportiva tradicional. É uma pena que o filme não explore tanto a vida e esses momentos inusitados, porque a história do Rei do Futebol é riquíssima e merecia mais do que um doc. de “Introdução a Pelé”.

Enfim, se você é um fã de futebol, vai curtir bastante os depoimentos pessoais dados pelo próprio Pelé, bastante emocionado com seus feitos e reflexos, mas talvez fique meio cansado pelas informações que já são de conhecimento geral. Agora, se você não sabe quase nada do Pelé, além de que ele jogou muita bola e fez mais de mil gols, é uma boa pedida para ficar um pouco mais por dentro de quem ele foi e o que ele representou para o Brasil não apenas no cenário futebolístico. No fim, fica a impressão de que “Pelé” é um documentário voltado para a gringa, mas pode agregar valor para os brasileiros que não são muito ligados.

Pelé estreia em 23 de fevereiro na Netflix.

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