domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Penny Dreadful: City of Angels – 01×07: Maria and the Beast

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Após algumas semanas de derradeiros suspense e drama – e um deslize considerável na iteração predecessora -, chegou a hora de Penny Dreadful: City of Angels’ ser tomado pela melhor personagem do spin-off, Maria (Adriana Barraza). A matriarca da família Vega, uma senhora extremamente resiliente e devota religiosa que sempre cuidou de seus filhos com pulso firme e um senso de proteção gigantesco, apareceu desde o primeiro episódio, mas jazia à sombra dos outros protagonistas, dando as caras com sua personalidade geniosa para trazer um pouco de senso aos filhos e até mesmo à dispersa comunidade de Los Angeles. Felizmente, John Logan percebeu no meio do caminho que essa importante e simbólica figura merecia maior tempo de cena e, em “Maria and the Beast”, ela sai de sua construção humana e aproxima-se das figuras dêiticas que espreitam a produção com força incrível.

É claro que a narrativa não ficaria por completo restringida à personagem em questão. Na verdade, o capítulo segue diretamente os eventos da investida predecessor, mostrando as consequências da prisão injusta de um latino que não tinha nada a ver com o assassinato de um policial branco; mais do que isso, os holofotes se voltam para Tiago (Daniel Zovatto) e sua complexada aceitação por parte de uma sociedade supremacista que segue preceitos ideológicos extremistas. Em uma análise crítica do que se estabelece como mote político da produção, ele parece enterrar a cada dia que se passa suas raízes mexicanas, integrando-se na problemática perspectiva que sempre observou de longe. E, como se isso não bastasse, ele também está envolvido com a evangelista Molly (Kerry Bishé), a figura pública de maior prestígio da “Cidade dos Anjos” que percebe que sua vida pode ser muito mais colorida que os palcos claustrofóbicos de sua igreja.



Enquanto isso, Lewis (Nathan Lane) continua canalizando seus esforços e recrutando membros para barrar a ascensão nazista em território norte-americano. Revelando seus planos para Tiago e apresentando ao público uma série de aliados que se postam frente à uma onda demagoga e fascista, ele descobre segredos horrendos que se escondem em todas as instâncias do lugar onde vive, eventualmente percebendo que, no final das contas, suas parcas tentativas irão enfrentar nomes poderosos que comandam até mesmo o mais ingênuo dos homens. Conhecendo o estilo criativo de Logan e de sua equipe artística – ainda mais levando em conta a aclamada série original -, é bem provável que ambos os grupos se enfrentem em uma colisão bélica que irá premeditar a II Guerra Mundial.

Num terceiro espectro, Peter Craft (Rory Kinnear) volta a roubar um pouco de nossa atenção ao destruir, gradativamente, seu próprio núcleo familiar. Depois de mandar a esposa para um centro de recuperação psiquiátrica, ele convida a perigosa e sedutora Elsa (Natalie Dormer) para ficar em sua casa junto com o filho. Entretanto, para aqueles que vinham acompanhando a série desde o começo, Elsa é na verdade uma das muitas faces do demônio Magda, cujo principal objetivo é colocar irmão contra irmão e observar pacientemente enquanto o caos toma conta da maléfica essência humana. Essa filosófica e por vezes odiosa persona revela através de sutilezas suas verdadeiras intenções, exceto, talvez, nessa pequena fatia do enredo: de certo modo, ela pretendia acabar com os laços de uma família já atribulada, mas pretendendo se infiltrar na mente de um dos membros mais ferrenhos da comunidade nazista germano-americana.

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Seguindo o ideal do medo como represália e controle, essas múltiplas camadas quase antropológicas transformam o show em um discurso político que, outrora movido pelo panfletarismo desmedido, agora parece se reencontrar em um potencial que ainda não foi explorado por completo. E, como se não bastasse, os elementos sobrenaturais e culturais continuam se enraizando no enredo principal e ganham ainda mais força através do tradicionalismo de Maria e de seus deuses. O episódio traz o retorno de Santa Muerte (Lorenza Izzo) em uma construção um tanto quanto menos majestosa, revelando estar à mercê da irmã, Magda, que se aproxima de Maria com envolventes promessas de um prospecto glorioso frente à guerra que se aproxima. Mais do que nunca, a fusão do mundano com o espiritual começa a se desenrolar e a ganhar uma palpabilidade chocante, arrepiante e, finalmente, do jeito que vários fãs esperavam desde a estreia do show.

Penny Dreadful: City of Angels’ se recupera com uma sólida entrega que, mesmo com pontuais equívocos, lapida as pontas soltas da semana anterior e pavimenta um caminho estável e que promete um season finale nada menos que espetacular.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Após algumas semanas de derradeiros suspense e drama – e um deslize considerável na iteração predecessora -, chegou a hora de Penny Dreadful: City of Angels’ ser tomado pela melhor personagem do spin-off, Maria (Adriana Barraza). A matriarca da família Vega, uma senhora extremamente resiliente e devota religiosa que sempre cuidou de seus filhos com pulso firme e um senso de proteção gigantesco, apareceu desde o primeiro episódio, mas jazia à sombra dos outros protagonistas, dando as caras com sua personalidade geniosa para trazer um pouco de senso aos filhos e até mesmo à dispersa comunidade de Los Angeles. Felizmente, John Logan percebeu no meio do caminho que essa importante e simbólica figura merecia maior tempo de cena e, em “Maria and the Beast”, ela sai de sua construção humana e aproxima-se das figuras dêiticas que espreitam a produção com força incrível.

É claro que a narrativa não ficaria por completo restringida à personagem em questão. Na verdade, o capítulo segue diretamente os eventos da investida predecessor, mostrando as consequências da prisão injusta de um latino que não tinha nada a ver com o assassinato de um policial branco; mais do que isso, os holofotes se voltam para Tiago (Daniel Zovatto) e sua complexada aceitação por parte de uma sociedade supremacista que segue preceitos ideológicos extremistas. Em uma análise crítica do que se estabelece como mote político da produção, ele parece enterrar a cada dia que se passa suas raízes mexicanas, integrando-se na problemática perspectiva que sempre observou de longe. E, como se isso não bastasse, ele também está envolvido com a evangelista Molly (Kerry Bishé), a figura pública de maior prestígio da “Cidade dos Anjos” que percebe que sua vida pode ser muito mais colorida que os palcos claustrofóbicos de sua igreja.

Enquanto isso, Lewis (Nathan Lane) continua canalizando seus esforços e recrutando membros para barrar a ascensão nazista em território norte-americano. Revelando seus planos para Tiago e apresentando ao público uma série de aliados que se postam frente à uma onda demagoga e fascista, ele descobre segredos horrendos que se escondem em todas as instâncias do lugar onde vive, eventualmente percebendo que, no final das contas, suas parcas tentativas irão enfrentar nomes poderosos que comandam até mesmo o mais ingênuo dos homens. Conhecendo o estilo criativo de Logan e de sua equipe artística – ainda mais levando em conta a aclamada série original -, é bem provável que ambos os grupos se enfrentem em uma colisão bélica que irá premeditar a II Guerra Mundial.

Num terceiro espectro, Peter Craft (Rory Kinnear) volta a roubar um pouco de nossa atenção ao destruir, gradativamente, seu próprio núcleo familiar. Depois de mandar a esposa para um centro de recuperação psiquiátrica, ele convida a perigosa e sedutora Elsa (Natalie Dormer) para ficar em sua casa junto com o filho. Entretanto, para aqueles que vinham acompanhando a série desde o começo, Elsa é na verdade uma das muitas faces do demônio Magda, cujo principal objetivo é colocar irmão contra irmão e observar pacientemente enquanto o caos toma conta da maléfica essência humana. Essa filosófica e por vezes odiosa persona revela através de sutilezas suas verdadeiras intenções, exceto, talvez, nessa pequena fatia do enredo: de certo modo, ela pretendia acabar com os laços de uma família já atribulada, mas pretendendo se infiltrar na mente de um dos membros mais ferrenhos da comunidade nazista germano-americana.

Seguindo o ideal do medo como represália e controle, essas múltiplas camadas quase antropológicas transformam o show em um discurso político que, outrora movido pelo panfletarismo desmedido, agora parece se reencontrar em um potencial que ainda não foi explorado por completo. E, como se não bastasse, os elementos sobrenaturais e culturais continuam se enraizando no enredo principal e ganham ainda mais força através do tradicionalismo de Maria e de seus deuses. O episódio traz o retorno de Santa Muerte (Lorenza Izzo) em uma construção um tanto quanto menos majestosa, revelando estar à mercê da irmã, Magda, que se aproxima de Maria com envolventes promessas de um prospecto glorioso frente à guerra que se aproxima. Mais do que nunca, a fusão do mundano com o espiritual começa a se desenrolar e a ganhar uma palpabilidade chocante, arrepiante e, finalmente, do jeito que vários fãs esperavam desde a estreia do show.

Penny Dreadful: City of Angels’ se recupera com uma sólida entrega que, mesmo com pontuais equívocos, lapida as pontas soltas da semana anterior e pavimenta um caminho estável e que promete um season finale nada menos que espetacular.

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