Pixinguinha foi um herói da música brasileira. Do início do século XX, atravessando as guerras mundiais e a popularização dos carnavais de rua, chegando à metade da ditadura militar, Alfredo da Rocha Vianna Filho – conhecido mundialmente como Pixinguinha – elevou a música brasileira a nível internacional, realizando dezenas de parcerias, alcançando as casas da população geral e também da elite, eternizando seu nome na História da música nacional. Embora já tenha ganhado um filme e um documentário anteriormente contando sua trajetória, essa semana chega aos cinemas brasileiros ‘Pixinguinha – Um Homem Carinhoso’, uma nova cinebiografia sobre o músico que, busca repopularizar o mestre do choro.
Alfredo (Dan Ferreira) desde jovem demonstrou talento para a música, encorajado pelo seu pai, Alfredo (Milton Gonçalves). Já crescido, se junta a Donga (Jhama) e Duque (Jarbas Homem de Mello) no grupo Oito Batutas, que chegou a fazer turnê pela Europa com o apoio de Arnaldo Guinle (Klebber Toledo), onde o músico se envolveu com a dançarina Gabi (Agatha Moreira). De volta ao Brasil e animado para espalhar sua música em nosso território, Pixinguinha (Seu Jorge) começa a tocar e a reger, e é em um desses eventos que conhece Beti (Taís Araújo), uma dançarina que se tornaria o amor de sua vida. Já casado, Pixinguinha agora terá que arcar com as despesas de sua família e atravessar os tempos difíceis, mas sempre mantendo acesa a chama da inspiração para compor melodias que marcariam a população brasileira para sempre.
Escrito por Manuela Dias, o que mais chama a atenção em ‘Pixinguinha – Um Homem Carinhoso’ é o olhar positivo que o roteiro propõe sobre este grande músico. É bem verdade que seus problemas com bebida ficaram bastante conhecidos, mas Pixinguinha não se resumia a isso, e é justamente isso que o roteiro busca retratar (no sentido de fazer uma retratação mesmo): mostrar como o músico era um cara alto astral, generoso com os amigos mesmo quando ele não tinha dinheiro e que era extremamente apaixonado pela esposa e pelo que fazia, apesar do racismo cotidiano que ele deveria enfrentar. O filme, entretanto, não se debruça sobre essas dificuldades, apenas as menciona como parte da vida, mas não a essência do biografado. E é muito bom que tenha feito assim.
A direção de Denise Saraceni é bastante competente, fazendo boas escolhas do que deveria entrar no longa, apesar dos excessos de CGI que, em muitos casos, não pareciam necessários, bem como a frequência com que a câmera dá close em um dos atores em cena de diálogo, mas não no outro, excluindo o espectador da conversa total; também a frequência com que a câmera filma de longe, em outro cômodo da casa, quando os personagens estão na sala ou no quarto, e mal conseguimos entender o quê estão fazendo ou falando volta a excluir o espectador. Outro ponto desconfortável é com a personagem Beti, que, depois de casada, nunca mais sai de casa. É incômodo ver Taís Araújo sempre em casa, lavando, cozinhando, esperando o marido, sem ter nenhuma outra cena fazendo qualquer outra coisa que não seja afazeres de casa. Ainda que seja uma biografia, não custava nada ter uma cena ou outra dela andando por aí na praça, comendo uma pipoca, sei lá.
Com um elenco maravilhoso que inclui o cuidado de chamar um ator-músico para o papel principal e uma produção que ainda encontrou formas de chamar outros grandes músicos para participações especiais – como Jorge Aragão e Pretinho da Serrinha –, e outros atores como Tuca Andrada e Tadeu Mello, ‘Pixinguinha – Um Homem Carinhoso’ faz um belo panorama da vida desse importante músico, demonstrando justamente a enormidade desse artista para as artes brasileiras. Mal estreou e já se torna um filme necessário a ser assistido por todo o público brasileiro, com sabor de carnaval e muito saudosismo.