Não é de hoje que um fato vem preocupando os governos do mundo inteiro: a população mundial está envelhecendo. Os seres humanos estão vivendo mais e melhor, quase o triplo do que costumava viver no século anterior. Se por um lado isso é bom (afinal, quem não quer viver pra sempre?), por outro os idosos passaram a se tornar uma verdadeira preocupação para os governos, pois eles muitas vezes não trabalham mais e recebem uma pensão por um período de tempo muito além do que o planejado pelos economistas. E essa conta não fecha. Especulando sobre o tema, chega aos cinemas a partir do dia 25 o filme ‘Plano 75’, indicado pelo Japão para representar o país no Oscar 2023.
Num futuro distópico porém em tempos atuais, o governo federal japonês lança o chamado ‘Plano 75’, um plano assistencialista para idosos. A proposta é a seguinte: quando um idoso completa 75 anos, ele poderia escolher entrar para o plano e receber em troca 10 mil em dinheiro, que poderia ser gasto da forma como quisesse (em viagens, no próprio enterro ou deixado de herança para a família) e, em seguida, o governo terminaria com a vida desse idoso. Num país superpopuloso e com pessoas cada vez mais endividadas diante do desemprego e dos baixos salários, muitos idosos se veem tentados a aderir ao programa. Nesse contexto, uma jovem filipina imigrante no país, Maria (Stefanie Arianne), se vê obrigada a deixar seus valores de lado e trabalhar no programa a partir do momento em que sua filha é diagnosticada com uma doença rara.
Partindo da história criada por Chie Hayakawa e Jason Gray, o roteiro tem um início meio difuso, com muitos personagens, e todos eles idosos, o que dificulta entender o que está sendo proposto por tantos caminhos. A partir do momento em que o plano entra em cena e eventos vão acontecendo a esses idosos, fica claro que a proposta do filme de Chie Hayakawa, que também dirige o longa, é abrir o debate sobre como estamos tratando os idosos no mundo. Assim, o filme cria personagens que sofrem com o abandono familiar, o desemprego, o abandono afetivo, as limitações físicas, a falta de perspectiva e o limitado interesse da população em acolher (em todos os aspectos) a esses idosos. Sentindo-se inúteis, como estorvos e sem um lugar no mundo, incapazes de arcar com as próprias contas, qual a saída que resta a esses mais velhos num país com uma população tão envelhecida como o Japão?
‘Plano 75’ é bonito de ver. Pela ficção, traz uma ideia singela e direta de como os idosos, no final das contas, só querem companhia mesmo, mas o estilo de vida capitalismo moderno está nos impedindo cada vez mais de valorizarmos suas sabedorias e aprendermos com eles por estarmos com eles. Uma pena ‘Plano 75’ não ter seguido sua trajetória no Oscar daquele ano, com sua bela fotografia e sua empreitada em dar emprego aos atores sêniors daquele país. Trazido pela Sato Company, chega aos cinemas brasileiros propondo a mesma importante reflexão com a nossa população que igualmente está envelhecendo rápido. Pra ver e se emocionar.