quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Polícia Federal: A Lei é para Todos – Cinema político, fervoroso e imparcial

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Não bastasse a verdadeira panela de pressão que se encontra o cenário político brasileiro, o que reflete no cenário social, onde amigos de longa data desfazem relacionamentos devido a ideologias políticas (espelho de uma sociedade mal preparada psicologicamente para lidar com as diferenças), este ano tivemos filmes que prometeram enfatizar esta discordância. Primeiro, Real: O Plano por Trás da História, lançado em maio, e agora este Polícia Federal: A Lei é para Todos.

Tais obras, para muitos já nascem mortas, simplesmente pelo fato de teoricamente apresentar discussões ou salientar (dependendo do seu ponto de vista) certos pensamentos ideológicos, instantaneamente combatidos por todos que pensam diferente. É óbvio, desde que o mundo é mundo, que a aceitação só vem através de seus pares. A luta é pela homogeneização, desde que prevaleça o “meu” pensamento, ou o que pode servir a mim e aos meus. Isso é ser humano. Por mais altruístas que pensemos estar sendo, existirá sempre um interesse próprio escondido em algum canto da equação, não importa seu partido político, opção sexual ou vertente religiosa.



Por isso, duvide e muito de toda crítica especializada quando o assunto for uma obra deste nível, por si só incendiária em seu cerne, assim como ocorreu com Real, Aquarius (2016) e qualquer outro filme que sofreu algum tipo de boicote devido a sua temática pseudopartidária. A avaliação cinematográfica precisa vir de um lugar neutro, onde apenas os itens que constituem uma produção entrem em jogo.

As semelhanças entre este Polícia Federal e Real terminam nas acusações e boicotes, já que pouco do contido em seus roteiros e sua forma se assemelha. Enquanto Real apresentava os bastidores do plano econômico que salvou o Brasil da falência – muito mais na verve de algo criado por Aaron Sorkin, devido ao falatório afiado por trás dos panos – Polícia Federal é um relato didático e semi documental que por vezes esquece de ser um filme.

O roteiro escrito por Gustavo Lipsztein e Thomas Stavros transcreve os escândalos recentes envolvendo figurões do alto escalão brasileiro, sejam políticos ou empresários, na maior operação policial contra a corrupção que o país já viu. De fato, o texto não esquece de brincar (seria engraçado se não fosse deprimente) sobre o quão entranhada está a veia corrupta em nosso DNA – desde a colonização.  Como dito, a história acompanha um grupo de policiais federais, encabeçados por Ivan (Antonio Calloni), que seguindo uma pista sobre tráfico de drogas, chegam até crimes políticos muito mais escabrosos, levando até o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, vivido no longa de forma imponente pelo grande Ary Fontoura – que só dá as caras no terceiro ato do longa, porém, dono de uma presença marcante.

Quem acompanha as investigações da Lava Jato, nome dado à operação policial, perceberá encenadas algumas das situações que conhece bem, repercutidas incansavelmente através dos noticiários. Essa verossimilhança televisiva é justamente o calcanhar de Aquiles de Polícia Federal, que poderia utilizar de certa romantização (ou utilizar mais) na hora de confeccionar situações ou personagens, dando a eles ares mais cinematográficos. É o que ocorre com Real, e esta é mais uma diferença entre os longas. O Gustavo Franco de Emílio Orciollo Netto transcende sua contraparte real, se tornando um personagem memorável, permitindo que o público embarque em sua psique, mesmo não concordando com o falho protagonista. Em Polícia Federal, a opção é por um ensemble, onde não há protagonistas definidos e a trama em si, e os fatos são o mais importante.

Apesar dos diálogos em sua maioria apenas cumprirem tabela, movendo a trama adiante sem prejudicar, mas igualmente não imprimindo-os em nossa mente, existem alguns momentos memoráveis no longa, que talvez sirvam para justificar sua imparcialidade. Durante um almoço de família, o policial Julio Cesar (Bruce Gomlevsky) precisa explicar para o pai que não existe perseguição partidária. No entanto, o melhor momento do longa, que joga uma luz sobre uma situação que talvez nunca mude, é a cena o bar com Antonio Calloni, quando o líder da operação se questiona sobre seu resultado.

Apesar da montagem eficiente e todos os elementos que compõem uma boa produção cinematográfica estarem no lugar, existe sim uma sensação de que algo está faltando para diferenciar o filme de um telefilme, ou um episódio de estreia de uma série de TV (tirando uma boa cena de ação) – que inclusive já consigo ver adaptado para as telinhas. A direção é de Marcelo Antunez, mais acostumado com comédias, vide Qualquer Gato Vira-Lata 2 (2015), Até que a Sorte nos Separe 3 (2015) e o bem duvidoso Um Suburbano Sortudo (2016). Este é o pulo do gato em sua carreira, seu trabalho mais arriscado e satisfatório.

Em tempo, na ausência da terceira parte de Tropa de Elite, que provavelmente jamais virá, Polícia Federal: A Lei é para Todos e Real: O Plano por Trás da História combinados podem suprir um pouco esta necessidade, de um cinema impactante, fervoroso e vendável.

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Tais obras, para muitos já nascem mortas, simplesmente pelo fato de teoricamente apresentar discussões ou salientar (dependendo do seu ponto de vista) certos pensamentos ideológicos, instantaneamente combatidos por todos que pensam diferente. É óbvio, desde que o mundo é mundo, que a aceitação só vem através de seus pares. A luta é pela homogeneização, desde que prevaleça o “meu” pensamento, ou o que pode servir a mim e aos meus. Isso é ser humano. Por mais altruístas que pensemos estar sendo, existirá sempre um interesse próprio escondido em algum canto da equação, não importa seu partido político, opção sexual ou vertente religiosa.

Por isso, duvide e muito de toda crítica especializada quando o assunto for uma obra deste nível, por si só incendiária em seu cerne, assim como ocorreu com Real, Aquarius (2016) e qualquer outro filme que sofreu algum tipo de boicote devido a sua temática pseudopartidária. A avaliação cinematográfica precisa vir de um lugar neutro, onde apenas os itens que constituem uma produção entrem em jogo.

As semelhanças entre este Polícia Federal e Real terminam nas acusações e boicotes, já que pouco do contido em seus roteiros e sua forma se assemelha. Enquanto Real apresentava os bastidores do plano econômico que salvou o Brasil da falência – muito mais na verve de algo criado por Aaron Sorkin, devido ao falatório afiado por trás dos panos – Polícia Federal é um relato didático e semi documental que por vezes esquece de ser um filme.

O roteiro escrito por Gustavo Lipsztein e Thomas Stavros transcreve os escândalos recentes envolvendo figurões do alto escalão brasileiro, sejam políticos ou empresários, na maior operação policial contra a corrupção que o país já viu. De fato, o texto não esquece de brincar (seria engraçado se não fosse deprimente) sobre o quão entranhada está a veia corrupta em nosso DNA – desde a colonização.  Como dito, a história acompanha um grupo de policiais federais, encabeçados por Ivan (Antonio Calloni), que seguindo uma pista sobre tráfico de drogas, chegam até crimes políticos muito mais escabrosos, levando até o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, vivido no longa de forma imponente pelo grande Ary Fontoura – que só dá as caras no terceiro ato do longa, porém, dono de uma presença marcante.

Quem acompanha as investigações da Lava Jato, nome dado à operação policial, perceberá encenadas algumas das situações que conhece bem, repercutidas incansavelmente através dos noticiários. Essa verossimilhança televisiva é justamente o calcanhar de Aquiles de Polícia Federal, que poderia utilizar de certa romantização (ou utilizar mais) na hora de confeccionar situações ou personagens, dando a eles ares mais cinematográficos. É o que ocorre com Real, e esta é mais uma diferença entre os longas. O Gustavo Franco de Emílio Orciollo Netto transcende sua contraparte real, se tornando um personagem memorável, permitindo que o público embarque em sua psique, mesmo não concordando com o falho protagonista. Em Polícia Federal, a opção é por um ensemble, onde não há protagonistas definidos e a trama em si, e os fatos são o mais importante.

Apesar dos diálogos em sua maioria apenas cumprirem tabela, movendo a trama adiante sem prejudicar, mas igualmente não imprimindo-os em nossa mente, existem alguns momentos memoráveis no longa, que talvez sirvam para justificar sua imparcialidade. Durante um almoço de família, o policial Julio Cesar (Bruce Gomlevsky) precisa explicar para o pai que não existe perseguição partidária. No entanto, o melhor momento do longa, que joga uma luz sobre uma situação que talvez nunca mude, é a cena o bar com Antonio Calloni, quando o líder da operação se questiona sobre seu resultado.

Apesar da montagem eficiente e todos os elementos que compõem uma boa produção cinematográfica estarem no lugar, existe sim uma sensação de que algo está faltando para diferenciar o filme de um telefilme, ou um episódio de estreia de uma série de TV (tirando uma boa cena de ação) – que inclusive já consigo ver adaptado para as telinhas. A direção é de Marcelo Antunez, mais acostumado com comédias, vide Qualquer Gato Vira-Lata 2 (2015), Até que a Sorte nos Separe 3 (2015) e o bem duvidoso Um Suburbano Sortudo (2016). Este é o pulo do gato em sua carreira, seu trabalho mais arriscado e satisfatório.

Em tempo, na ausência da terceira parte de Tropa de Elite, que provavelmente jamais virá, Polícia Federal: A Lei é para Todos e Real: O Plano por Trás da História combinados podem suprir um pouco esta necessidade, de um cinema impactante, fervoroso e vendável.

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