Publicado em 2015, o romance dramático adolescente ‘Por Lugares Incríveis’ fez muito sucesso entre o público jovem – dentre outros motivos, por surfar na onda dos sick lits, os livros voltados para jovens que abordavam questões profundas como doenças e a morte entre adolescentes. E agora a adaptação cinematográfica homônima chegou à Netflix, e tem dividido opiniões dos leitores.
Theodore Finch (Justice Smith, em seu melhor papel no cinema) é um rapaz comum que está se exercitando em uma pequena cidadezinha quando de repente encontra a jovem Violet Markey (Elle Fanning, que definitivamente deveria buscar mais papéis dramáticos em sua carreira, pois sua entrega a esses personagens é muito mais convincente) à beira da ponte, dando a entender que se jogaria de lá. Com um gesto bastante natural, Theodore convence Violet a descer dali. Como os dois vão à mesma escola, um trabalho de dupla acaba os aproximando, e eles têm que relatar lugares interessantes (pela perspectiva deles) da pequena Indiana, onde moram. Começa aí a improvável amizade de dois alunos que frequentam a mesma escola, sabem da existência um do outro, mas que porém nunca se falaram antes.
É claro que essa é a sinopse superficial do longa, que na verdade busca trabalhar o isolamento social dos jovens (por que os adolescentes não interagem mais uns com os outros, mesmo aqueles que se consideram amigos?), a difícil perlaboração do trauma (quanto tempo é necessário para uma dor parar de doer em nossos corações e começarmos a nos permitirmos sorrir novamente?), o impacto da morte inesperada em uma época em que tudo deveria ser flores (o quanto a morte traumatiza os jovens quando eles têm que lidar com ela tão cedo?), a profundidade do bullying praticado por colegas de escola (por que não lutamos menos contra isso, antes que as provocações atinjam níveis irreversíveis?), a necessidade cada vez maior que os jovem têm de terem de se mostrar maravilhosos e com uma vida incrível nas redes sociais e na vida real o tempo todo, e que toda essa encenação estética está mutilando os caráteres dos adolescentes de maneira impiedosa e definitiva.
Todos esses temas são trabalhados de maneira direta ou indireta em ‘Por Lugares Incríveis’, e esse é o ponto que deve ser exaltado na história de Jennifer Niven e Liz Hannah, dirigido por Brett Haley. Considerando que o roteiro foi escrito pelas autoras do livro, é preciso dizer que, ao contrário do livro, o filme é menos denso, e certas passagens são construídas sem criar laços com o espectador. Acima de tudo, o ritmo do longa é beeeeeeem lento. Os primeiros dois arcos da história são construídos a 30km/hora, então, o espectador tem que se dedicar a continuar assistindo, pois apesar do ritmo, sabemos que ‘Por Lugares Incríveis’ está nos conduzindo para uma dessas histórias que nos toca o coração.
Com diversas citações de Virginia Woolf (quem souber a história de vida da escritora entenderá a relação direta com o filme), ‘Por Lugares Incríveis’ alerta para a necessidade de conversarmos sobre o lado sombrio da adolescência – que sim, também existe, e não adianta fingirmos que não acontece. Vale o debate.