quinta-feira, março 28, 2024

Crítica | Power – Pílula do Superpoder da Netflix é melhor que Cloroquina

Medicamentos mágicos, também na ficção

Mesmo que nem sempre crie obras-primas, o megacolosso do audiovisual Netflix ao menos conta com a melhor das intenções na hora de aprovar seus projetos. De fato, até mesmo grandes nomes da sétima arte afirmam ter ganhado na parceria com o precursor dos streamings total liberdade criativa para confeccionar seus filmes como queriam, o que não estavam mais encontrando nos estúdios em lançamentos nos cinemas. Pelo acervo da Netflix já passaram pesos pesados como Martin Scorsese, os irmãos Coen e Spike Lee, por exemplo.

E com Power (Project Power), seu mais recente lançamento – que aporta na plataforma nesta sexta-feira, dia 14 de agosto – a produtora cria seu próprio universo de super-heróis, pronto para ser consumido pelos aficionados. Mas não apenas isso, na mistura ainda são adicionados elementos do cinema policial – como corrupção, traficantes, oficiais honestos e corruptos, e drama racial, resultando num sabor que mais agrada do que repele. A boa surpresa é que Power se mostra um filme de ação eficiente, repleto de efeitos especiais bem trabalhados e uma estética psicodélica insana que funciona muito a favor de sua narrativa. Ou seja, um prato cheio para quem curte o gênero – mesmo que seu roteiro por vezes se mostre demasiadamente simplista. Ah sim, não podemos esquecer as atuações inspiradíssimas de gente como Jamie Foxx (vencedor do Oscar por Ray), Joseph Gordon-Levitt e do nosso Rodrigo Santoro, que levam a brincadeira muito a sério.

Escrito pelo jovem romeno Mattson Tomlin (que em breve será um grande nome em Hollywood devido ao texto do vindouro The Batman), a trama apresenta uma realidade onde pílulas de “superpoderes” são produzidas e comercializadas clandestinamente. A coisa funciona assim: através do material genético dos mais variados animais exóticos, seus dons (como velocidade, camuflagem, força, e outros milagres da natureza) são inseridos nesta droga, ativando estas capacidades em cada usuário distinto. Ou seja, enquanto uns podem se disfarçar no ambiente como uma camaleão (se tornando invisíveis), outros absorvem fortes impactos como os rinocerontes, por exemplo. Cabe a cada um descobrir seu poder, ou até mesmo morrer ao ingerir a substância – é um jogo perigoso.

É claro que uma substância tão repleta de possibilidades, e incrivelmente perigosa, chama atenção de todo tipo de grupo de pessoas, e o item logo se vê nas ruas, vendido como drogas por traficantes. Assim encontramos nossa protagonista, a menina Robin (Dominique Fishback), que sonha em ser rapper, tem dificuldades com as figuras de autoridade no colégio e ganha a vida vendendo tais produtos ilícitos em becos. Sorte dela que tem a proteção do policial Frank (Joseph Gordon-Levitt), que a trata como uma irmã mais nova, cobrindo seus rastros e infrações. Pela premissa podemos notar que Tomlin usou como molde o livro de Alan Glynn, que virou o filme Sem Limites (2011), sobre uma pílula da “inteligência”, e acrescentou muito mais variáveis quanto ao que o medicamento poderia trazer a seu consumidor.

Completando a equação do elenco, Jamie Foxx é Art, um sujeito bad ass desesperado em descobrir o paradeiro e encontrar sua filha; e Rodrigo Santoro vive um dos baddies como o traficante que comercializa o MacGuffin que todos perseguem. O roteiro de Power é criativo, mas logo se estagna seguindo por um caminho previsível, no qual vemos exatamente aonde vai chegar com bastante antecedência. Mas Power conta mais por sua jornada, onde boas cenas consecutivas sem amontoam, seja através da interação dos personagens, seus relacionamentos críveis, bons diálogos, montagem eletrizante, trilha frenética e uma fotografia de deixar vidrado na tela – dona de cores vibrantes de neon. O design de produção é outro destaque.

Os elementos citados são crédito dos cineastas Henry Just e Ariel Schulman, dupla responsável por Nerve: Um Jogo Sem Regras (2016). Sua idealização para Power consegue sobressair ao que vem sendo feito na plataforma no quesito do escapismo e de entretenimento. Os chamados filmes pipoca. Não tente achar muita substância em Power, e assim você irá se divertir mais. Foxx e Levitt já apostaram no subgênero antes, variando em resultados (O Espetacular Homem-Aranha 2 e O Cavaleiro das Trevas Ressurge, respectivamente), mas aqui realmente mergulham em seus desempenhos, com a intensidade de um drama policial que busca prêmios. Muitos inclusive poderão apontar que seus empenhos são mais satisfatórios que o filme em si. Não seria um disparate. E quanto a nosso conterrâneo Rodrigo Santoro, o brasileiro número 1 em Hollywood na atualidade, entrega sua atuação com o inglês mais impecável da carreira, quase despido do sotaque latino. Além, é claro, de aparentar diversão a cada frame com o retrato de um vilão “Bondiano”.

Não deixe de assistir:

Power tem como grande atrativo a capacidade de instigar, a cada virada tirando tensão de suas cenas, mesmo que deslize no terceiro ato – almejando a inevitável continuação. Um artifício esperado para este tipo de produção. No meio de uma constante enxurrada de superproduções que parecem cada vez mais massificadas, diferindo muito pouco umas das outras, é sem dúvidas louvável uma proposta que tente trilhar um caminho próprio, mesmo que nem sempre consiga se manter de pé por sua jornada. No fim das contas, como sempre, quem dirá se Power tem a força para um novo round é você, o fiel espectador deste novo expoente mundial, que vem mudando a forma como nos relacionamos com os filmes.

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