quinta-feira , 20 fevereiro , 2025

Crítica | Prestando homenagem a clássicos western, ‘Vingança & Castigo’ é guiado por um elenco estelar


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A história nós já conhecemos: um jovem mergulha numa jornada vingativa contra aqueles que destruíram sua família. Quando pensamos nessa premissa, uma lista interminável de filmes e séries aparece imediatamente à nossa frente – incluindo obras como ‘Kill Bill’, ‘Jonah Hex’, ‘O Regresso’ e tantos outros que, desde que o mundo se conhece por mundo, traçam uma linha bastante clara entre o bem e o mal.

E é partindo dessa ideia que Vingança & Castigo, o novo longa-metragem da Netflix, se constrói. A produção, que marca a estreia oficial de Jeymes Samuel na direção (apesar de ter comandado o curta-metragem ‘They Die by Dawn’ em 2013), a princípio não carrega uma originalidade marcante – mas o realizador consegue transformar um elenco de peso na força-motriz de uma épica aventura western que se tornou uma das entradas mais interessantes da plataforma de streaming este ano.



vinganca castigo 1

Aqui, Jonathan Majors, que emprestou suas habilidades performáticas para as ótimas séries ‘Lovecraft Country’ e ‘Loki’, encarna Nat Love, líder de uma gangue que tem um claro objetivo em mente: se livrar dos traumas que carrega desde criança, quando observou impotente o pai e a mãe serem brutalmente assassinados pelo temível Rufus Buck (Idris Elba). Entretanto, as coisas não são tão óbvias quanto parecem e Rufus havia sido encarcerado pelos oficiais locais para o resto da vida, colocando uma fachada pacífica para a controversa vida do protagonista. Quando Rufus é resgatado e perdoado de todos os crimes que cometera, cabe a ele fazer justiça com as próprias mãos e, aliado a um time talentoso, ele arquiteta um plano para derrotá-lo de uma vez por todas.

Majors conquistara nossa atenção anteriormente, mas talvez nunca de uma forma tão crua e tão crível quanto agora. Nat é um personagem delineado aos moldes dos heróis e anti-heróis que dominam o cenário mainstream desde o nascimento da arte cinematográfica – e mais: presta homenagem às personas eternizadas por lendas como Clint Eastwood e Henry Fonda sem deixar de imprimir uma característica diferenciada. Nat é a representação da comunidade negra e de todos os preconceitos que esse povo sentiu nos Estados Unidos dos séculos XIX e XX; todavia, não lidamos com uma trama meramente racial, e sim uma ácida análise de irmandade, confiança e lealdade que destila suas ironias ao longo de mais de duas horas que se desenrolam com fluidez invejável. Em contraposição, Majors divide os holofotes com a reverberação de Elba, que faz um retorno glorioso à forma como o complexo Rufus e uma densa backstory que se concretiza nos momentos finais do filme.


vinganca e castigo 2

É claro que os dois não são os únicos a nos cativarem desde os primeiros minutos – aliás, a dupla está muito bem acompanhada de atores e atrizes de ponta que permitem que a obra se transforme em uma explosiva amálgama dos mais variados gêneros de faroeste. Zazie Beetz se rende à envolvente e atrevida Stagecoach Mary, empresária e dona de um restaurante-bar que emerge como enlace romântico de Majors; Regina King prova novamente sua versatilidade ao dar vida à mortal Trudy “Traiçoeira” Smith, braço-direito de Rufus; o irretocável Delroy Lindo interpreta o xerife Bass Reeves, que deixa de lado todos os problemas que têm com Nat para ajudá-lo na caça ao antagonista; RJ Cyler e Edi Gathegi entram como os escapes cômicos da narrativa como a dupla Jim Beckwourth e Bill Pickett, digladiando com a aparição arrepiante de Lakeith Stanfield como Cherokee Bill.

Samuel se depara com um fértil terreno para fundir tramas múltiplas em um lugar; entretanto, em vez da temática universalista e histórica que aparecem em certos títulos que inspiraram o longa, a ideia é desfrutar da personalidade de protagonistas e coadjuvantes que têm algo para contar. Enquanto um ou outro carregam maior tempo de tela (o que é de se esperar, considerando a legião de artistas que aqui vemos), entendemos a relação entre cada com um imediatismo interessante, ainda que já saibamos o desenrolar dos arcos. De um lado, temos a afável inclinação ao western épico, ao faroeste blaxpoitation e à iconicidade de Fred Williamson, à brevidade da comédia e ao neo-western (mesmo que o conceito de neo não esteja presente da maneira mais óbvia possível).

Assista também: 
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vinganca e castigo 3
THE HARDER THEY FALL (C: L-R): REGINA KING as TRUDY SMITH, IDRIS ELBA as RUFUS BUCK, LAKEITH STANFIELD as CHEROKEE BILL. CR: DAVID LEE/NETFLIX © 2021

As engrenagens da produção se encaixam de modo a convergirem para uma mensagem específica: a fotografia supervisionada por Sean Bobbitt e por Mihai Malaimare Jr. é emulativa em certos aspectos e faz menção até a Quentin Tarantino e a títulos autoexplicativos, mas não perde a chance de ousar em sequências de tirar o fôlego; a trilha sonora se afasta dos violinos e dos violões e encontra brechas para inflexões contemporâneas, como o rap, o trap e o R&B. E, no topo de tudo isso, a zona de conforto explorada pelo roteiro, também assinado por Samuel, foi apenas o modo encontrado para unir os elementos em uma competente e angustiante epopeia no Velho Oeste dos Estados Unidos.

Vingança & Castigo é mais uma adição bem-vinda ao catálogo da Netflix e nutre de uma voracidade artística e performática que nos conquista desde a chocante cena de abertura. Majors, Elba, King, Beetz e o restante do elenco destrincha os personagens que vivem e trilha um caminho cujo futuro pode trazer mais tramas a serem contadas.

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IMPERDÍVEL! Você vai VICIAR nessa história de Vingança à moda antiga....

Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A história nós já conhecemos: um jovem mergulha numa jornada vingativa contra aqueles que destruíram sua família. Quando pensamos nessa premissa, uma lista interminável de filmes e séries aparece imediatamente à nossa frente – incluindo obras como ‘Kill Bill’, ‘Jonah Hex’, ‘O Regresso’ e tantos outros que, desde que o mundo se conhece por mundo, traçam uma linha bastante clara entre o bem e o mal.

E é partindo dessa ideia que Vingança & Castigo, o novo longa-metragem da Netflix, se constrói. A produção, que marca a estreia oficial de Jeymes Samuel na direção (apesar de ter comandado o curta-metragem ‘They Die by Dawn’ em 2013), a princípio não carrega uma originalidade marcante – mas o realizador consegue transformar um elenco de peso na força-motriz de uma épica aventura western que se tornou uma das entradas mais interessantes da plataforma de streaming este ano.

vinganca castigo 1

Aqui, Jonathan Majors, que emprestou suas habilidades performáticas para as ótimas séries ‘Lovecraft Country’ e ‘Loki’, encarna Nat Love, líder de uma gangue que tem um claro objetivo em mente: se livrar dos traumas que carrega desde criança, quando observou impotente o pai e a mãe serem brutalmente assassinados pelo temível Rufus Buck (Idris Elba). Entretanto, as coisas não são tão óbvias quanto parecem e Rufus havia sido encarcerado pelos oficiais locais para o resto da vida, colocando uma fachada pacífica para a controversa vida do protagonista. Quando Rufus é resgatado e perdoado de todos os crimes que cometera, cabe a ele fazer justiça com as próprias mãos e, aliado a um time talentoso, ele arquiteta um plano para derrotá-lo de uma vez por todas.

Majors conquistara nossa atenção anteriormente, mas talvez nunca de uma forma tão crua e tão crível quanto agora. Nat é um personagem delineado aos moldes dos heróis e anti-heróis que dominam o cenário mainstream desde o nascimento da arte cinematográfica – e mais: presta homenagem às personas eternizadas por lendas como Clint Eastwood e Henry Fonda sem deixar de imprimir uma característica diferenciada. Nat é a representação da comunidade negra e de todos os preconceitos que esse povo sentiu nos Estados Unidos dos séculos XIX e XX; todavia, não lidamos com uma trama meramente racial, e sim uma ácida análise de irmandade, confiança e lealdade que destila suas ironias ao longo de mais de duas horas que se desenrolam com fluidez invejável. Em contraposição, Majors divide os holofotes com a reverberação de Elba, que faz um retorno glorioso à forma como o complexo Rufus e uma densa backstory que se concretiza nos momentos finais do filme.

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É claro que os dois não são os únicos a nos cativarem desde os primeiros minutos – aliás, a dupla está muito bem acompanhada de atores e atrizes de ponta que permitem que a obra se transforme em uma explosiva amálgama dos mais variados gêneros de faroeste. Zazie Beetz se rende à envolvente e atrevida Stagecoach Mary, empresária e dona de um restaurante-bar que emerge como enlace romântico de Majors; Regina King prova novamente sua versatilidade ao dar vida à mortal Trudy “Traiçoeira” Smith, braço-direito de Rufus; o irretocável Delroy Lindo interpreta o xerife Bass Reeves, que deixa de lado todos os problemas que têm com Nat para ajudá-lo na caça ao antagonista; RJ Cyler e Edi Gathegi entram como os escapes cômicos da narrativa como a dupla Jim Beckwourth e Bill Pickett, digladiando com a aparição arrepiante de Lakeith Stanfield como Cherokee Bill.

Samuel se depara com um fértil terreno para fundir tramas múltiplas em um lugar; entretanto, em vez da temática universalista e histórica que aparecem em certos títulos que inspiraram o longa, a ideia é desfrutar da personalidade de protagonistas e coadjuvantes que têm algo para contar. Enquanto um ou outro carregam maior tempo de tela (o que é de se esperar, considerando a legião de artistas que aqui vemos), entendemos a relação entre cada com um imediatismo interessante, ainda que já saibamos o desenrolar dos arcos. De um lado, temos a afável inclinação ao western épico, ao faroeste blaxpoitation e à iconicidade de Fred Williamson, à brevidade da comédia e ao neo-western (mesmo que o conceito de neo não esteja presente da maneira mais óbvia possível).

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THE HARDER THEY FALL (C: L-R): REGINA KING as TRUDY SMITH, IDRIS ELBA as RUFUS BUCK, LAKEITH STANFIELD as CHEROKEE BILL. CR: DAVID LEE/NETFLIX © 2021

As engrenagens da produção se encaixam de modo a convergirem para uma mensagem específica: a fotografia supervisionada por Sean Bobbitt e por Mihai Malaimare Jr. é emulativa em certos aspectos e faz menção até a Quentin Tarantino e a títulos autoexplicativos, mas não perde a chance de ousar em sequências de tirar o fôlego; a trilha sonora se afasta dos violinos e dos violões e encontra brechas para inflexões contemporâneas, como o rap, o trap e o R&B. E, no topo de tudo isso, a zona de conforto explorada pelo roteiro, também assinado por Samuel, foi apenas o modo encontrado para unir os elementos em uma competente e angustiante epopeia no Velho Oeste dos Estados Unidos.

Vingança & Castigo é mais uma adição bem-vinda ao catálogo da Netflix e nutre de uma voracidade artística e performática que nos conquista desde a chocante cena de abertura. Majors, Elba, King, Beetz e o restante do elenco destrincha os personagens que vivem e trilha um caminho cujo futuro pode trazer mais tramas a serem contadas.

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