quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Prisão 77 – Miguel Herrán, de ‘La Casa de Papel’, vai pra Prisão em Intenso Drama Real Espanhol

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A ditadura é um regime de governo que ocorreu em muitos países do mundo inteiro, sempre com histórias tenebrosas que ainda hoje estão vindo à público. Também a ficção exerce importante papel em recontar ou reconstruir partes dessas histórias obscuras cujas verdades absolutas dificilmente serão conhecidas totalmente. Na Espanha, por exemplo, houve a ditadura franquista, cujo fim deu espaço à redemocratização daquele país. Na transição entre ambos os sistemas governamentais houve muita luta e muita injustiça, e uma dessas histórias chega esse mês aos assinantes da plataforma Looke, através do drama de ficção ‘Prisão 77’.



Manuel (Miguel Herrán) trabalha como contador em uma empresa e fora pego desviando dinheiro, o que o levou à prisão. Ele nega as acusações, dizendo que seu amigo, filho do dono, o estimulara a fazer o desvio. Enquanto aguarda julgamento, Manuel ficará mantido em cárcere junto com presidiários de diferentes níveis de periculosidade. Certo de que seu caso é simples e de que é inocente, Manuel custa a entender que não haverá julgamento para ele, pois a justiça não está interessada em soltar nem ele, nem ninguém. Por outro lado, as condições penitenciárias são péssimas e fazer amigos ali dentro é uma questão de sobrevivência. Entre erros e acertos, Manuel se envolverá com um grupo que quer lutar pelos direitos dos detentos e briga pela anistia de todos após o fim da ditadura franquista.

Com duas horas de duração, ‘Prisão 77’ é um daqueles filmes baseados em histórias reais que surpreende e revolta, seja pelo inacreditável dos fatos, seja pelo inaceitável da vida. E também demonstra quantos episódios seguem obscuros acerca do período franquista, quantas vidas e quantas histórias talvez jamais ganhem luz.

O roteiro de Rafael Cobos e Alberto Rodríguez constrói bem o embate do protagonista – um filhinho de papai da classe média que cai numa roubada – dentro de um universo ao qual ele resiste a pertencer por se achar superior – ou melhor, menos pior do que os demais. Porém, a imaculada aura do protagonista às vezes irrita, pois mesmo com seu jeitão arrogante ele encontra pouca resistência na prisão, e ainda por cima consegue se tornar um líder, muito por conta de ser justamente um sujeito de classe média intelectualizado.

A direção de Alberto Rodríguez acompanha com firmeza o desenrolar da história, centrando-a sempre em seu protagonista, o que por vezes torna os personagens secundários um pouco obscuros demais, até o fim sem definir se são amigos ou inimigos. O diretor faz bom uso das locações e do contraste das vivências entre os personagens Miguel e Pino (Javier Gutiérrez), um cara mais sisudo que, diante do protagonista, reforça o quão ingênuo ele é. As cenas dos dois são sempre as melhores, inclusive em situações absurdas que provocam o riso.

É inevitável fazer uma ponte entre ‘Prisão 77’ com a sérieLa Casa de Papel’, uma vez que Miguel Herrán participa de ambas, sendo que em uma ele é um assaltante e no outro ele está na prisão. Dá pra brincar de construir esse universo, muito embora os contextos sejam completamente diferentes.  ‘Prisão 77’ demonstra a complexidade do sistema penal espanhol dos anos 1970 e que, em muitas camadas, permanece até hoje.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Manuel (Miguel Herrán) trabalha como contador em uma empresa e fora pego desviando dinheiro, o que o levou à prisão. Ele nega as acusações, dizendo que seu amigo, filho do dono, o estimulara a fazer o desvio. Enquanto aguarda julgamento, Manuel ficará mantido em cárcere junto com presidiários de diferentes níveis de periculosidade. Certo de que seu caso é simples e de que é inocente, Manuel custa a entender que não haverá julgamento para ele, pois a justiça não está interessada em soltar nem ele, nem ninguém. Por outro lado, as condições penitenciárias são péssimas e fazer amigos ali dentro é uma questão de sobrevivência. Entre erros e acertos, Manuel se envolverá com um grupo que quer lutar pelos direitos dos detentos e briga pela anistia de todos após o fim da ditadura franquista.

Com duas horas de duração, ‘Prisão 77’ é um daqueles filmes baseados em histórias reais que surpreende e revolta, seja pelo inacreditável dos fatos, seja pelo inaceitável da vida. E também demonstra quantos episódios seguem obscuros acerca do período franquista, quantas vidas e quantas histórias talvez jamais ganhem luz.

O roteiro de Rafael Cobos e Alberto Rodríguez constrói bem o embate do protagonista – um filhinho de papai da classe média que cai numa roubada – dentro de um universo ao qual ele resiste a pertencer por se achar superior – ou melhor, menos pior do que os demais. Porém, a imaculada aura do protagonista às vezes irrita, pois mesmo com seu jeitão arrogante ele encontra pouca resistência na prisão, e ainda por cima consegue se tornar um líder, muito por conta de ser justamente um sujeito de classe média intelectualizado.

A direção de Alberto Rodríguez acompanha com firmeza o desenrolar da história, centrando-a sempre em seu protagonista, o que por vezes torna os personagens secundários um pouco obscuros demais, até o fim sem definir se são amigos ou inimigos. O diretor faz bom uso das locações e do contraste das vivências entre os personagens Miguel e Pino (Javier Gutiérrez), um cara mais sisudo que, diante do protagonista, reforça o quão ingênuo ele é. As cenas dos dois são sempre as melhores, inclusive em situações absurdas que provocam o riso.

É inevitável fazer uma ponte entre ‘Prisão 77’ com a sérieLa Casa de Papel’, uma vez que Miguel Herrán participa de ambas, sendo que em uma ele é um assaltante e no outro ele está na prisão. Dá pra brincar de construir esse universo, muito embora os contextos sejam completamente diferentes.  ‘Prisão 77’ demonstra a complexidade do sistema penal espanhol dos anos 1970 e que, em muitas camadas, permanece até hoje.

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