quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Proibido a Cães e Italianos – Memórias de Guerra Traduzidas de Forma Lúdica e Inebriante em Stop-Motion

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Com sutileza e humor, entre pequenas gotas de lágrimas acanhadas e teimosas, Proibido a Cães e Italianos (Interdit aux chiens et aux Italiens, no original) é uma fábula baseada em memórias reais sobre a dores e os temores do início do século XX. Com suporte nas histórias contadas pela sua avó, o diretor e roteirista Alain Ughetto permite-se homenagear seus ancestrais em uma animação curta, porém marcante em stop-motion

Lançado no Brasil no início do ano no festival online My French Film Festival, Proibido a Cães e Italianos chega aos cinemas brasileiro em 12 de setembro trazido pela Risi Film Brasil e a Gal Cultural. Em forma de relato, o diretor disseca a miséria da família do seu avô Luigi, um dos 11 filhos da família Ughetto. Com escassez de comida, doenças fatais e ausência de trabalho, a família obrigou-se a abandonar sua vila natal para tentar sobreviver em campos mais verdes. 



proibido a cães e italianos 2
Proibido a Cães e Italianos ganhador do Prêmio do Júri no Festival de Annecy 2022

Apenas com os próprios pés e mãos, os membros da família Ughetto atravessaram as montanhas e planícies entre Itália e Suíça até encontrarem trabalho na França. Enquanto nos encantamos pela beleza dos personagens forjados em massa de modelar, nos aprofundamos na história de uma Europa decadente, no período da primeira guerra, do nascimento do fascismo italiano e, portanto, da ojeriza estrangeira aos vizinhos, maltratados e apelidados em terras francesas. 

Em meio a perdas, trabalhos rigorosos e as minguadas refeições, Proibido a Cães e Italianos projeta a bravura de homens simples lutando pela sobrevivência de forma lúdica e documental. Com sua intromissão em cena, as mãos do diretor interpelam a narrativa e pontuam a nossa leitura dos acontecimentos junto com ele. Suas mãos são um convite ao espectador para adentrar aos aspectos fundamentais de nossa existência e a olharmos a vida dos nossos pais, e principalmente avós, com admiração de um caminho percorrido para estarmos aqui. 

proibido a cães e italianos 3
Proibido a Cães e Italianos ganhou o prêmio da Crítica no My French Film Festival 2024

Como o Brasil é composto exatamente por essa população migrante, sejam italianos, portugueses, japoneses, libaneses, sejam até mesmo os traficados para este país, esta obra de 70 minutos consegue nos tocar e nos atiçar a descortinar a nossa própria crônica genealógica. Ganhador do prêmio da crítica no My French Film Festival, o qual participei do júri deste ano, e do Festival de Animação de Annecy 2022, Proibido a Cães e Italianos conversa igualmente com os mais jovens e articular o olhar infantil para estes períodos de guerras e xenofobia, tanto no passado quanto no presente. 

Se a cadela Baleia é sempre lembrada como símbolo do desespero e do sofrimento do retirante do nordeste em Vidas Secas (1963) — na literatura e na sétima arte —, esta pequena joia do ítalo-francês Alain Ughetto capta a doçura e as travessuras das crianças como no filme de Nelson Pereira dos Santos, mas também no deixa um sabor agridoce sobre as tragédias a pairar sobre uma família e a criatividade dos pais de esconder, ou melhor, ludibriar o temor como em A Vida é Bela (1997), de Roberto Benigni

 

Proibido a Cães e Italianos estreia nos cinemas brasileiros no dia 12 de setembro de 2024. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Com sutileza e humor, entre pequenas gotas de lágrimas acanhadas e teimosas, Proibido a Cães e Italianos (Interdit aux chiens et aux Italiens, no original) é uma fábula baseada em memórias reais sobre a dores e os temores do início do século XX. Com suporte nas histórias contadas pela sua avó, o diretor e roteirista Alain Ughetto permite-se homenagear seus ancestrais em uma animação curta, porém marcante em stop-motion

Lançado no Brasil no início do ano no festival online My French Film Festival, Proibido a Cães e Italianos chega aos cinemas brasileiro em 12 de setembro trazido pela Risi Film Brasil e a Gal Cultural. Em forma de relato, o diretor disseca a miséria da família do seu avô Luigi, um dos 11 filhos da família Ughetto. Com escassez de comida, doenças fatais e ausência de trabalho, a família obrigou-se a abandonar sua vila natal para tentar sobreviver em campos mais verdes. 

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Proibido a Cães e Italianos ganhador do Prêmio do Júri no Festival de Annecy 2022

Apenas com os próprios pés e mãos, os membros da família Ughetto atravessaram as montanhas e planícies entre Itália e Suíça até encontrarem trabalho na França. Enquanto nos encantamos pela beleza dos personagens forjados em massa de modelar, nos aprofundamos na história de uma Europa decadente, no período da primeira guerra, do nascimento do fascismo italiano e, portanto, da ojeriza estrangeira aos vizinhos, maltratados e apelidados em terras francesas. 

Em meio a perdas, trabalhos rigorosos e as minguadas refeições, Proibido a Cães e Italianos projeta a bravura de homens simples lutando pela sobrevivência de forma lúdica e documental. Com sua intromissão em cena, as mãos do diretor interpelam a narrativa e pontuam a nossa leitura dos acontecimentos junto com ele. Suas mãos são um convite ao espectador para adentrar aos aspectos fundamentais de nossa existência e a olharmos a vida dos nossos pais, e principalmente avós, com admiração de um caminho percorrido para estarmos aqui. 

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Proibido a Cães e Italianos ganhou o prêmio da Crítica no My French Film Festival 2024

Como o Brasil é composto exatamente por essa população migrante, sejam italianos, portugueses, japoneses, libaneses, sejam até mesmo os traficados para este país, esta obra de 70 minutos consegue nos tocar e nos atiçar a descortinar a nossa própria crônica genealógica. Ganhador do prêmio da crítica no My French Film Festival, o qual participei do júri deste ano, e do Festival de Animação de Annecy 2022, Proibido a Cães e Italianos conversa igualmente com os mais jovens e articular o olhar infantil para estes períodos de guerras e xenofobia, tanto no passado quanto no presente. 

Se a cadela Baleia é sempre lembrada como símbolo do desespero e do sofrimento do retirante do nordeste em Vidas Secas (1963) — na literatura e na sétima arte —, esta pequena joia do ítalo-francês Alain Ughetto capta a doçura e as travessuras das crianças como no filme de Nelson Pereira dos Santos, mas também no deixa um sabor agridoce sobre as tragédias a pairar sobre uma família e a criatividade dos pais de esconder, ou melhor, ludibriar o temor como em A Vida é Bela (1997), de Roberto Benigni

 

Proibido a Cães e Italianos estreia nos cinemas brasileiros no dia 12 de setembro de 2024. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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