sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica Globo Play | Proibido Nascer no Paraíso – O drama das grávidas e o turismo em Fernando de Noronha

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Distante a 360 km da costa brasileira, o arquipélago de Fernando de Noronha é o mais perto do oásis em território nacional. O abençoado território, no entanto, esconde a precariedade dos moradores locais e principalmente das mulheres prestes a dar à luz. O documentário Proibido Nascer no Paraíso, de Joana Nin (Cativas: Presas pelo Coração), acompanha o cotidiano de três gestantes cujas famílias vivem há décadas na ilha, mas são obrigadas a deixarem suas casas para realizar o parto no continente.

Sob severas restrições, o distrito pertencente a Pernambuco cobra uma taxa de preservação a todos os turistas assim que colocam os seus pés em suas terras sagradas. Lá, os moradores constroem os seus próprios negócios, são guias turísticos, cultivam alimentos e criam animais, entretanto, eles dependem do carregamento de recursos via enormes navios cargueiros. Já os humanos chegam somente de voos da Azul, companhia aérea responsável por todas as idas e voltas da região, realizadas somente durante o dia. 



Com uma perspectiva do imenso mar azul, Proibido Nascer no Paraíso começa a relatar os dados sobre o território e complementa as informações a partir de uma lúdica aula de história para as crianças locais. Assim, eles e os espectadores conhecem a formação dos primeiros habitantes e a evolução da população. Desse modo, Joana Nin segue a trabalhadora Babalu, proprietária da Tapioca da Babalu, que contraria as regras governamentais para cuidar por mais tempo do seu empreendimento.

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Outras duas personagens são Ione e Harlene, as quais contrariadas deixam suas famílias para ficar em hotéis à espera do parto. Um momento delicado torna-se um suplício sem a companhia diária de maridos, mães ou filhos. Já está no segundo filho, Ione vê a família aumentar, mas a casa não pode ser expandida, pois ninguém pode construir na ilha sem permissão do governo. Contudo, a diretora mostra o levantamento de bangalôs na região. 

Enquanto o turismo cresce, as mães padecem de uma assistência local. A denúncia do documentário concentra no fechamento da maternidade do único hospital em 2004 e a obrigatoriedade do parto no continente, já que não existem equipamentos necessários em caso de emergência. O governo banca todas as despesas de hospedagem e do nascimento, mas o custo emocional não tem preço e não tem como ser remediado. Sob essa perspectiva, a câmera de Nin acompanha os preparativos das mães para chegada dos bebês e as aporrinhações de não poder decidir como trazer uma criança ao mundo. 

A questão do direito à terra por conta da certidão de nascimento é a mais levantada entre uma possível luta para dissolver as gerações de moradores pouco a pouco. Harlene desabafa que os agentes sociais fazem uma lavagem cerebral nas mães a fim de convencê-las de que se algo ocorrer com o bebê, a culpa será dela. Ou seja, as mulheres perderam o controle sobre o próprio corpo e tornam-se megeras insensíveis caso decidam ao contrário do proposto, como o caso de Babalu. 

Rodado entre 2017 e 2019, Proibido Nasce no Paraíso é um filme necessário para entender os valores trocados da sociedade brasileira. O bem-estar dos cidadãos perde espaço para a especulação do capital em busca de multiplicar seus dividendos. Essas mulheres são exemplos de descaso dentro de um belo cartão postal, o qual vende a imagem de perfeição, mas massacra as almas dos sobreviventes desse santuário ecológico.

Proibido Nascer no Paraíso estreou no dia 1º de maio na Globo Play.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Distante a 360 km da costa brasileira, o arquipélago de Fernando de Noronha é o mais perto do oásis em território nacional. O abençoado território, no entanto, esconde a precariedade dos moradores locais e principalmente das mulheres prestes a dar à luz. O documentário Proibido Nascer no Paraíso, de Joana Nin (Cativas: Presas pelo Coração), acompanha o cotidiano de três gestantes cujas famílias vivem há décadas na ilha, mas são obrigadas a deixarem suas casas para realizar o parto no continente.

Sob severas restrições, o distrito pertencente a Pernambuco cobra uma taxa de preservação a todos os turistas assim que colocam os seus pés em suas terras sagradas. Lá, os moradores constroem os seus próprios negócios, são guias turísticos, cultivam alimentos e criam animais, entretanto, eles dependem do carregamento de recursos via enormes navios cargueiros. Já os humanos chegam somente de voos da Azul, companhia aérea responsável por todas as idas e voltas da região, realizadas somente durante o dia. 

Com uma perspectiva do imenso mar azul, Proibido Nascer no Paraíso começa a relatar os dados sobre o território e complementa as informações a partir de uma lúdica aula de história para as crianças locais. Assim, eles e os espectadores conhecem a formação dos primeiros habitantes e a evolução da população. Desse modo, Joana Nin segue a trabalhadora Babalu, proprietária da Tapioca da Babalu, que contraria as regras governamentais para cuidar por mais tempo do seu empreendimento.

Outras duas personagens são Ione e Harlene, as quais contrariadas deixam suas famílias para ficar em hotéis à espera do parto. Um momento delicado torna-se um suplício sem a companhia diária de maridos, mães ou filhos. Já está no segundo filho, Ione vê a família aumentar, mas a casa não pode ser expandida, pois ninguém pode construir na ilha sem permissão do governo. Contudo, a diretora mostra o levantamento de bangalôs na região. 

Enquanto o turismo cresce, as mães padecem de uma assistência local. A denúncia do documentário concentra no fechamento da maternidade do único hospital em 2004 e a obrigatoriedade do parto no continente, já que não existem equipamentos necessários em caso de emergência. O governo banca todas as despesas de hospedagem e do nascimento, mas o custo emocional não tem preço e não tem como ser remediado. Sob essa perspectiva, a câmera de Nin acompanha os preparativos das mães para chegada dos bebês e as aporrinhações de não poder decidir como trazer uma criança ao mundo. 

A questão do direito à terra por conta da certidão de nascimento é a mais levantada entre uma possível luta para dissolver as gerações de moradores pouco a pouco. Harlene desabafa que os agentes sociais fazem uma lavagem cerebral nas mães a fim de convencê-las de que se algo ocorrer com o bebê, a culpa será dela. Ou seja, as mulheres perderam o controle sobre o próprio corpo e tornam-se megeras insensíveis caso decidam ao contrário do proposto, como o caso de Babalu. 

Rodado entre 2017 e 2019, Proibido Nasce no Paraíso é um filme necessário para entender os valores trocados da sociedade brasileira. O bem-estar dos cidadãos perde espaço para a especulação do capital em busca de multiplicar seus dividendos. Essas mulheres são exemplos de descaso dentro de um belo cartão postal, o qual vende a imagem de perfeição, mas massacra as almas dos sobreviventes desse santuário ecológico.

Proibido Nascer no Paraíso estreou no dia 1º de maio na Globo Play.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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