quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Projeto Flórida – Gloriosa dramédia explora a vida pela inocência de crianças

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Cores fortes e vibrantes, daquelas que brilham aos olhos. Kool & The Gang reverbera com seu hit atemporal, que em suas primeiras notas anuncia uma festa. Celebration é a marca da abertura do novo filme de Sean Baker, assumindo para si o prelúdio de um pequeno grandioso e festivo mundo que a audiência testemunhará em poucos segundos. ‘Projeto Flórida’ traz a caricatura mais particular da cidade de Orlando para um cenário construído em tom pastel, pintado pelas mãos da criativa e fascinante Moonee, a criança que todos nós adoraríamos conhecer e, por que não, ser.



Em um mundo de infinitas possibilidades no quente verão da Flórida, a pequena garota irreverente de cabelos longos bagunçados desbrava por lugares pouco percorridos – porém, barulhentos. Cercada pelos caricatos estabelecimentos que nos chamam para dentro de seu imaginário, testemunhamos a beleza plástica e fascinante dos parques temáticos impressos em mercados, sorveterias e lojas de conveniência – todos absorvidos por ela e seus amigos. Brooklynn Prince nos toma pela mão, nos ensinando uma infância que há muito tempo não se vê. Baker, aquele diretor que fez ‘Tangerina’ com um iPhone 5, entrega a câmera para a falante Moonee, deixando que ela nos dirija a um contexto onde a pureza é a real perspectiva da vida. Dinheiro não há. Ela e seus amigos não sabem. Tão pouco se importam.

Com personagens marcantes, ‘Projeto Flórida’ é aquela comédia dramática que nos fascina pela simplicidade em olhar com uma ótica mais apurada espaços ignorados, como aqueles tradicionais motéis americanos. Com hóspedes das mais diversas naturezas, a subversão encontra a precariedade e ambas se esbarram na perversão, rápida e didaticamente contida pelo único adulto que realmente nos interessa: Bobby, que também atende por Willem Dafoe. Essa percepção apresentada com uma lupa nos direciona para os pequenos. O mundo só é de fato interessante quando eles o observam. Suas análises, absolutamente sensoriais, se revelam naquela linguagem corporal que não é ensinada por adultos, muito menos ditada por um diretor. São reflexos naturais, que a câmera habilmente soube captar sem qualquer intervenção técnica excessiva.

Essa sensibilidade emocional do agora, do verão que parece jamais ter fim, é a essência que reflete em todos os demais personagens. Dafoe é a figura paterna que tenta se aproximar de seu distante filho, que assim como na vida, raras vezes cruza seus caminhos com o do pai. Responsável pelas crianças, ele as observa à medida que inerentemente entra na brincadeira que é a vida de cada uma delas. A frustração abafada do pequeno relacionamento com seu próprio menino se reflete no carinho que seu olhar se entrega a elas. Os encontros de gerações são estratégicos e revelam uma das atuações mais profundas do veterano.

Nesse carnaval de tons pastéis, sorvetes que rapidamente derretem e palavrões herdados dos pais, somos apresentados ao retrato da clássica mãe adolescente, que exala sinais de abandono familiar e uma desestrutura plena, que ela tenta conter para manter a sanidade de sua filha. Tão criança como Moonee, Halley (Bria Vinaite) poderia ser a pior mãe do mundo, até que ela se revela como talvez uma das melhores, que é apenas marcada pelas duras consequências da vida que não lhe deu o tempo necessário para crescer. Sua adultização reflete diretamente em sua filha, que não perde a inocência que a idade lhe garantiu. Em momentos simbólicos, que apenas o vínculo do ventre é capaz de gerar, elas encontram em si a plenitude. E para nós, mesmo com todos os desfeitos de um lar que não existe, isso basta.

A sutileza de Sean Baker, combinada com as cores que só poderiam nascer do imaginário infantil e um roteiro de uma sensibilidade tamanha, nos presenteia com aquele filme que é um grande loop, se repete interminavelmente nos nossos corações. Com uma fotografia encantadora que explora a luz do dia e metafórico como a mente de uma criança, ele se encerra com a consumação máxima de qualquer sonho que um adulto já teve na infância. A alegoria de que as durezas da vida não cabem na pequena protagonista se revela na magnitude de um dos lugares mais fascinantes que existe. Se ela realmente se desviou das adversidades do âmago adulto e chegou lá? Não sabemos. Mas como desejamos e acreditamos.

 

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Em um mundo de infinitas possibilidades no quente verão da Flórida, a pequena garota irreverente de cabelos longos bagunçados desbrava por lugares pouco percorridos – porém, barulhentos. Cercada pelos caricatos estabelecimentos que nos chamam para dentro de seu imaginário, testemunhamos a beleza plástica e fascinante dos parques temáticos impressos em mercados, sorveterias e lojas de conveniência – todos absorvidos por ela e seus amigos. Brooklynn Prince nos toma pela mão, nos ensinando uma infância que há muito tempo não se vê. Baker, aquele diretor que fez ‘Tangerina’ com um iPhone 5, entrega a câmera para a falante Moonee, deixando que ela nos dirija a um contexto onde a pureza é a real perspectiva da vida. Dinheiro não há. Ela e seus amigos não sabem. Tão pouco se importam.

Com personagens marcantes, ‘Projeto Flórida’ é aquela comédia dramática que nos fascina pela simplicidade em olhar com uma ótica mais apurada espaços ignorados, como aqueles tradicionais motéis americanos. Com hóspedes das mais diversas naturezas, a subversão encontra a precariedade e ambas se esbarram na perversão, rápida e didaticamente contida pelo único adulto que realmente nos interessa: Bobby, que também atende por Willem Dafoe. Essa percepção apresentada com uma lupa nos direciona para os pequenos. O mundo só é de fato interessante quando eles o observam. Suas análises, absolutamente sensoriais, se revelam naquela linguagem corporal que não é ensinada por adultos, muito menos ditada por um diretor. São reflexos naturais, que a câmera habilmente soube captar sem qualquer intervenção técnica excessiva.

Essa sensibilidade emocional do agora, do verão que parece jamais ter fim, é a essência que reflete em todos os demais personagens. Dafoe é a figura paterna que tenta se aproximar de seu distante filho, que assim como na vida, raras vezes cruza seus caminhos com o do pai. Responsável pelas crianças, ele as observa à medida que inerentemente entra na brincadeira que é a vida de cada uma delas. A frustração abafada do pequeno relacionamento com seu próprio menino se reflete no carinho que seu olhar se entrega a elas. Os encontros de gerações são estratégicos e revelam uma das atuações mais profundas do veterano.

Nesse carnaval de tons pastéis, sorvetes que rapidamente derretem e palavrões herdados dos pais, somos apresentados ao retrato da clássica mãe adolescente, que exala sinais de abandono familiar e uma desestrutura plena, que ela tenta conter para manter a sanidade de sua filha. Tão criança como Moonee, Halley (Bria Vinaite) poderia ser a pior mãe do mundo, até que ela se revela como talvez uma das melhores, que é apenas marcada pelas duras consequências da vida que não lhe deu o tempo necessário para crescer. Sua adultização reflete diretamente em sua filha, que não perde a inocência que a idade lhe garantiu. Em momentos simbólicos, que apenas o vínculo do ventre é capaz de gerar, elas encontram em si a plenitude. E para nós, mesmo com todos os desfeitos de um lar que não existe, isso basta.

A sutileza de Sean Baker, combinada com as cores que só poderiam nascer do imaginário infantil e um roteiro de uma sensibilidade tamanha, nos presenteia com aquele filme que é um grande loop, se repete interminavelmente nos nossos corações. Com uma fotografia encantadora que explora a luz do dia e metafórico como a mente de uma criança, ele se encerra com a consumação máxima de qualquer sonho que um adulto já teve na infância. A alegoria de que as durezas da vida não cabem na pequena protagonista se revela na magnitude de um dos lugares mais fascinantes que existe. Se ela realmente se desviou das adversidades do âmago adulto e chegou lá? Não sabemos. Mas como desejamos e acreditamos.

 

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