Crítica | Pronto, Falei – Nicolas Prattes Surpreende em Drama Paranoico com Kéfera Buchmann

Pimenta nos olhos do outro é refresco, já diria o ditado. Isso é particularmente verdade quando entramos no universo das paranoias criadas pelo nosso cérebro. Enquanto muitos de nós consegue mais ou menos administrar os impulsos neuróticos que vez ou outra nossas inseguranças criam em nossas cabeças, algumas pessoas têm mais dificuldade nesse controle, e acabam se deixando levar pelos caminhos tortuosos que o cérebro é capaz de criar em nossa mente – o que, por sua vez, pode gerar situações potencialmente cômicas e/ou potencialmente dramáticas. No limite entre ambas, estreia a partir dessa semana nos cinemas brasileiros o filme nacional ‘Pronto, Falei’.

Renato (Nicolas Prattes) é editor de um jornal. Intimamente, ele pensa mil coisas sobre muitas pessoas, mas não tem nenhuma gota de coragem para dizer o que pensa em voz alta. Por isso, ele escreve. Em seu caderninho, inúmeros diálogos são redigidos, e, quando o impulso é muito forte, ele escreve e-mails para as pessoas, guardando-os sempre na pasta de rascunhos sem nunca enviá-los… até o dia em que, num ímpeto de angústia, seu subconsciente faz com que ele envie todos os 349 rascunhos a seus verdadeiros destinatários. Quando acorda e percebe o que aconteceu, Renato tem que lidar com as consequências de seu ímpeto sincerão. Felizmente ele poderá contar com a boa vontade de Edgar (Rômulo Arantes Neto), fotógrafo do jornal que foi contratado para escrever as colunas diárias do periódico, cujos textos Renato revisa. Com Edgar assumindo a autoria dos e-mails, a vida de Renato mudará para sempre.

Distribuído como sendo do gênero da comédia, ‘Pronto, Falei’ não o é. Ao contrário, se enquadra muito mais no gênero do drama, com momentos de bom humor que levam a algum riso, mas que não chega nem perto de ser cômico. Toda a angústia do protagonista em não conseguir se impor, falar o que pensa e defender suas próprias ideias é muito bem transmitida por Nicolas Prattes – que muitas vezes, apesar da narração em off, nem precisaria desse recursodo roteiro, tamanha a competência expressiva do ator em transmitir a angústia do personagem sem nem precisar dizê-lo.

A ideia original da psicóloga Camila Petean foi bem roteirizada por Fabio Danesi, Alexandre Soares Silva e Camila Raffantti, mas o tom utilizado pelo diretor Michel Tikhomiroff conduz as cenas muito mais inclinadas para o drama sentido pelo seu personagem do que a paranoia engraçada e leve tão bem feita por Woody Allen ao longo de sua carreira. Desse modo alguns diálogos – que em teoria deveriam provocar riso – ficam deslocados em cena, especialmente com a personagem de Kéfera Buchmann, deslocada na história; por outro lado, reforça o abismo psicológico em que esse protagonista se encontra, preso em sua própria jaula e que culmina em uma impactante cena na reta final do longa. Como vimos recentemente em filmes como ‘Depois a Louca Sou Eu, com saúde mental não se brinca, e a gente precisa se acostumar a ouvir nossas próprias angústias.

Mesmo focando em um gênero e acertando em outro, ‘Pronto, Falei’ é um filme surpreendente e que faz refletir sobre o impacto paralisante do medo à rejeição em nossas vidas, e no quanto tanto sofrimento poderia ser evitado se não julgássemos tanto uns aos outros.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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