quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Quem vai ficar com Mário? – Uma deliciosa comédia nacional sobre as muitas formas de amar

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Às vésperas do Dia dos Namorados é normal que os cinemas brasileiros sejam inundados por produções que abordem a temática do relacionamento amoroso. Porém, quase sempre esses filmes são compostos por protagonistas heteros, formando o par “homem e mulher vivendo o felizes para sempre”. Eis então que uma boa novidade chega esse ano nas telonas: a comédia nacional ‘Quem vai ficar com Mário?



Mário (Daniel Rocha) está apaixonado pelo seu namorado, Nando (Felipe Abib), com quem mora há quatro anos no Rio de Janeiro. Mas ele precisa voltar para sua cidade natal, no interior do Rio Grande do Sul, para contar para seu pai, Antônio (Zé Victor Castiel), e para a sua família, que ele é gay. Só que ao chegar lá, seu irmão, Vicente (Rômulo Arantes Neto) rouba os holofotes para si e contrata uma coach, Ana (Letícia Lima), para ajudar a dar um up na cervejaria da família. A confusão se arma de vez quando os amigos de Mário decidem não deixar as coisas barata e revolvem intervir no destino amoroso do amigo.

Pegando emprestado o título da famosa comédia romântica dos anos 1990, ‘Quem vai ficar com Mary?’ – que lançou a carreira de Cameron Diaz internacionalmente –, a proposta da comédia nacional é repaginar a fórmula da comédia romântica padrão e trazê-la atualizada para os anos 2021. Assim, em vez de assistirmos a mais um embate de protagonista homem em dúvida sobre duas ou mais mulheres, o longa de Hsu Chien abre o leque de possibilidades e traz para o espectador as múltiplas possibilidades de amar.

Para isso, o roteiro de Stella Miranda, Luís Salém e Rafael Campos Rocha foca toda sua atenção na construção do protagonista Mário – seu mundo e seus dilemas – de modo que todos os elementos da trama rodeiam esse personagem, às vezes ganhando espaço para se desenvolver, às vezes não. As personagens femininas, por exemplo, pouco evoluem na trama – a irmã (Elisa Pinheiro) tem seu mote inserido na trama como se de repente lembrassem dela; Ana é uma personagem agressiva e impositiva, que não cativa o espectador; a única bem trabalhada é a de Nany People, maravilhosa em cena –, ao contrário dos personagens masculinos, que são de fato o foco da produção e conseguem ter um arco evolutivo mais bem elaborado. Daí então o elenco masculino estar ótimo em cena, superconfortável nas atuações e de fato convencendo, especialmente o trio Rômulo Arantes Neto, Daniel Rocha e Felipe Abib.

O legal de ‘Quem vai ficar com Mário?’ é a forma como o filme aponta como a homofobia e o preconceito são culturalmente passados em nossa sociedade – não à toa, o longa é situado na região sul do país, tão preocupada em passar uma aparência de macheza. É preciso coragem para enfrentar a homofobia que é ensinada e naturalizada, e o filme traz essa força combativa de maneira muito suave e didática, seja por uma canção poderosa de Pabllo Vittar, que diz “é preciso coragem para amar”, seja por mostrar que nem tudo é dual: há, sim, múltiplas maneiras de amar e ser feliz, para além da normatividade.

Quem vai ficar com Mário?’ é uma deliciosa comédia romântica para todos os gêneros.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Mário (Daniel Rocha) está apaixonado pelo seu namorado, Nando (Felipe Abib), com quem mora há quatro anos no Rio de Janeiro. Mas ele precisa voltar para sua cidade natal, no interior do Rio Grande do Sul, para contar para seu pai, Antônio (Zé Victor Castiel), e para a sua família, que ele é gay. Só que ao chegar lá, seu irmão, Vicente (Rômulo Arantes Neto) rouba os holofotes para si e contrata uma coach, Ana (Letícia Lima), para ajudar a dar um up na cervejaria da família. A confusão se arma de vez quando os amigos de Mário decidem não deixar as coisas barata e revolvem intervir no destino amoroso do amigo.

Pegando emprestado o título da famosa comédia romântica dos anos 1990, ‘Quem vai ficar com Mary?’ – que lançou a carreira de Cameron Diaz internacionalmente –, a proposta da comédia nacional é repaginar a fórmula da comédia romântica padrão e trazê-la atualizada para os anos 2021. Assim, em vez de assistirmos a mais um embate de protagonista homem em dúvida sobre duas ou mais mulheres, o longa de Hsu Chien abre o leque de possibilidades e traz para o espectador as múltiplas possibilidades de amar.

Para isso, o roteiro de Stella Miranda, Luís Salém e Rafael Campos Rocha foca toda sua atenção na construção do protagonista Mário – seu mundo e seus dilemas – de modo que todos os elementos da trama rodeiam esse personagem, às vezes ganhando espaço para se desenvolver, às vezes não. As personagens femininas, por exemplo, pouco evoluem na trama – a irmã (Elisa Pinheiro) tem seu mote inserido na trama como se de repente lembrassem dela; Ana é uma personagem agressiva e impositiva, que não cativa o espectador; a única bem trabalhada é a de Nany People, maravilhosa em cena –, ao contrário dos personagens masculinos, que são de fato o foco da produção e conseguem ter um arco evolutivo mais bem elaborado. Daí então o elenco masculino estar ótimo em cena, superconfortável nas atuações e de fato convencendo, especialmente o trio Rômulo Arantes Neto, Daniel Rocha e Felipe Abib.

O legal de ‘Quem vai ficar com Mário?’ é a forma como o filme aponta como a homofobia e o preconceito são culturalmente passados em nossa sociedade – não à toa, o longa é situado na região sul do país, tão preocupada em passar uma aparência de macheza. É preciso coragem para enfrentar a homofobia que é ensinada e naturalizada, e o filme traz essa força combativa de maneira muito suave e didática, seja por uma canção poderosa de Pabllo Vittar, que diz “é preciso coragem para amar”, seja por mostrar que nem tudo é dual: há, sim, múltiplas maneiras de amar e ser feliz, para além da normatividade.

Quem vai ficar com Mário?’ é uma deliciosa comédia romântica para todos os gêneros.

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