domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Quo Vadis, Aida? – Indicado ao Oscar vai do Drama Histórico ao Drama Familiar

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Pelas mãos da diretora bosniana Jasmila Žbanić (Em Segredo) – ganhadora do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2006, a guerra entre a Bósnia e a Sérvia em julho de 1995 ganha palco sob a perspectiva de uma tradutora das Forças de Paz da ONU, a personagem do título: Aida Selmanagic (Jasna Djuricic). Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Quo Vadis, Aida? apresenta as negociações dos “capacetes azuis”, como ficaram conhecidos os soldados enviados da ONU, com os sérvios a fim de chegar ao acordo de cessar fogo e salvar os civis encurralados na bombardeada cidade de Srebrenica.

Baseado em eventos reais, a narrativa é focada na personagem fictícia, a tradutora Aida, e sua família, sem ater-se a explicações do específico contexto histórico. Contudo é válido lembrar que a Guerra da Bósnia ocorreu entre 1992 e 1995 após a declaração de independência da Bósnia-Herzegovina, ex-membra da Iugoslávia. O confronto resultou em mais 100.000 mortos, principalmente os bósnio-muçulmanos. Neste cenário, a base da ONU era o único lugar de refúgio dessas pessoas, onde as bombas não chegavam. 



Assim como em O Pianista (2002) e A Vida é Bela (1997), Jasmila Žbanić faz um brilhante acerto ao retratar o caos da guerra a partir de um ponto específico; aqui, o da tradutora entre dois mundos, o dos civis e o dos militares. Desse modo, a cineasta trabalha de forma enfática a tensão e a identificação do espectador com o momento histórico. Desde o princípio, o mar de pessoas impossibilitadas de entrar na zona de proteção da ONU já expressa visualmente o caos aguardado no resto da trama. 

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A cena inicial é uma árdua conversa entre o sérvio General Ratko Mladic (Boris Isakovic) e o Coronel Karremans da ONU (Johan Heldenbergh), na qual Aida é a intermediária da tensão e a conversa chega ao fim sem um acordo. Conforme os militares tentam solicitar suprimentos para as milhares de famílias dentro dos galpões, Aida busca encontrar seu marido e filhos. Em seguida, ela tenta convencer os militares a permitirem a entrada deles. A cada momento, a intérprete está a serviço de traduzir as palavras dos médicos aos feridos, dos capitães ao povo desesperançado; mas, principalmente, de proteger sua família. 

Com um ritmo crescente, a narrativa começa a apresentar as dificuldades das negociações apoiada na atuação magnética da sua protagonista, mas também dos comandantes sitiados e agitados com a desordem à sua volta. Dessa maneira, Quo Vadis, Aida? cria sucessivas situações nervosas e de embate em relação à ineficiência da presença dos soldados da ONU e do “abrigo” ao redor daquelas pessoas. 

O significado do título “Quo Vadis”, em latim, é “Para onde você vai?” um símbolo do atordoamento de Aida para salvar sua família ao observar que os manejos dos militares estão longe de protegê-los. Pouco a pouco, Jasmila Žbafnić tensiona a grande questão do longa: como Aida conseguirá salvar o seu marido e filhos? Do início ao fim, o filme não poupa o espectador do estresse com poucos e preciosos segundos de descanso a fim de nos colocar no seio daquela família. 

O grande mérito de Quo Vadis, Aida? é o seu apoio nos detalhes e na mise en scène de uma guerra civil sem mostrar uma sequer gota de sangue. O imaginário preenche os ruídos, o movimento dos objetos e as expressões da atriz Jasna Djuricic. Sua bravura ultrapassa a dos militares na linha da frente, igualmente bem interpretados pelos atores Johan Heldenbergh e Raymond Thiry, ambos entre a valentia e a condescendência. Ao escolher o ângulo do drama pessoal, o longa torna-se mais impactante e uma bela homenagem a todos os sobreviventes e as vítimas desse trágico episódio em Srebrenica, na Bósnia-Herzegovina. 

Quo Vadis, Aida? estreia dia 20 de abril nas plataformas digitais e VOD no Brasil.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Pelas mãos da diretora bosniana Jasmila Žbanić (Em Segredo) – ganhadora do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2006, a guerra entre a Bósnia e a Sérvia em julho de 1995 ganha palco sob a perspectiva de uma tradutora das Forças de Paz da ONU, a personagem do título: Aida Selmanagic (Jasna Djuricic). Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Quo Vadis, Aida? apresenta as negociações dos “capacetes azuis”, como ficaram conhecidos os soldados enviados da ONU, com os sérvios a fim de chegar ao acordo de cessar fogo e salvar os civis encurralados na bombardeada cidade de Srebrenica.

Baseado em eventos reais, a narrativa é focada na personagem fictícia, a tradutora Aida, e sua família, sem ater-se a explicações do específico contexto histórico. Contudo é válido lembrar que a Guerra da Bósnia ocorreu entre 1992 e 1995 após a declaração de independência da Bósnia-Herzegovina, ex-membra da Iugoslávia. O confronto resultou em mais 100.000 mortos, principalmente os bósnio-muçulmanos. Neste cenário, a base da ONU era o único lugar de refúgio dessas pessoas, onde as bombas não chegavam. 

Assim como em O Pianista (2002) e A Vida é Bela (1997), Jasmila Žbanić faz um brilhante acerto ao retratar o caos da guerra a partir de um ponto específico; aqui, o da tradutora entre dois mundos, o dos civis e o dos militares. Desse modo, a cineasta trabalha de forma enfática a tensão e a identificação do espectador com o momento histórico. Desde o princípio, o mar de pessoas impossibilitadas de entrar na zona de proteção da ONU já expressa visualmente o caos aguardado no resto da trama. 

A cena inicial é uma árdua conversa entre o sérvio General Ratko Mladic (Boris Isakovic) e o Coronel Karremans da ONU (Johan Heldenbergh), na qual Aida é a intermediária da tensão e a conversa chega ao fim sem um acordo. Conforme os militares tentam solicitar suprimentos para as milhares de famílias dentro dos galpões, Aida busca encontrar seu marido e filhos. Em seguida, ela tenta convencer os militares a permitirem a entrada deles. A cada momento, a intérprete está a serviço de traduzir as palavras dos médicos aos feridos, dos capitães ao povo desesperançado; mas, principalmente, de proteger sua família. 

Com um ritmo crescente, a narrativa começa a apresentar as dificuldades das negociações apoiada na atuação magnética da sua protagonista, mas também dos comandantes sitiados e agitados com a desordem à sua volta. Dessa maneira, Quo Vadis, Aida? cria sucessivas situações nervosas e de embate em relação à ineficiência da presença dos soldados da ONU e do “abrigo” ao redor daquelas pessoas. 

O significado do título “Quo Vadis”, em latim, é “Para onde você vai?” um símbolo do atordoamento de Aida para salvar sua família ao observar que os manejos dos militares estão longe de protegê-los. Pouco a pouco, Jasmila Žbafnić tensiona a grande questão do longa: como Aida conseguirá salvar o seu marido e filhos? Do início ao fim, o filme não poupa o espectador do estresse com poucos e preciosos segundos de descanso a fim de nos colocar no seio daquela família. 

O grande mérito de Quo Vadis, Aida? é o seu apoio nos detalhes e na mise en scène de uma guerra civil sem mostrar uma sequer gota de sangue. O imaginário preenche os ruídos, o movimento dos objetos e as expressões da atriz Jasna Djuricic. Sua bravura ultrapassa a dos militares na linha da frente, igualmente bem interpretados pelos atores Johan Heldenbergh e Raymond Thiry, ambos entre a valentia e a condescendência. Ao escolher o ângulo do drama pessoal, o longa torna-se mais impactante e uma bela homenagem a todos os sobreviventes e as vítimas desse trágico episódio em Srebrenica, na Bósnia-Herzegovina. 

Quo Vadis, Aida? estreia dia 20 de abril nas plataformas digitais e VOD no Brasil.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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