Partindo da busca na composição de um Raio-x da futura personagem de um filme de ficção a cineasta Victoria Linares Villegas amplia os olhares com uma curiosa – e inteligente – condução documental, uma marca notória de um dos ótimos filmes exibidos na décima oitava edição do CineBH, o dominicano Ramona. Trazendo para os holofotes através de uma metalinguagem cirúrgica – uma produção cinematográfica, dentro do próprio filme – a maternidade na juventude ou início da fase adulta, o precoce amadurecer, da negação à discriminação, todo o processo de descobertas, acabam chegando até um recorte social profundo e cativante.
Através do criar dentro de um raciocínio nada genérico, atingindo em cheio o ‘pensar fora da caixa’, encontramos pela premissa uma atriz buscando em um intenso laboratório a inspiração para uma personagem que está grávida na adolescência. Assim, parte pelas ruas da periferia de Santo Domingo e encontra muito mais do que apenas uma história, mas uma representação social, logo chegando a uma construção múltipla, de algo que era para ser apenas uma personagem expande-se para um universo de possibilidades mudando a trajetória do filme.
A procura pelo conhecimento do processo proposto acaba não querendo dizer absorver experiência com a situação. Esse dilema acaba atingindo a atriz do filme que pelo desejo de retratar o mais fiel possível a realidade percebe na própria produção novos caminhos e olhares para a premissa dessa história. Explicar esse processo a partir do uso da própria sétima arte – o que podemos chamar de metalinguagem – é uma bela sacada. Ao concretizar as inspirações através desse uso objetivo da própria linguagem cinematográfica, o projeto ganha um conhecimento inesperado.
Integrando a Mostra Continente do CineBH 2024, o filme dominicano Ramona – que teve sua estreia mundial no Festival de Berlim – é uma daquelas ótimas surpresas que nos convida para novas possibilidades de alcances da linguagem sem deixar de acertar o alvo com um narrativa alinhada ao discurso.