quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Raoni: Uma Amizade Improvável – Selecionado para Cannes, Documentário Retrata Vida de Ilustre Cacique Kayapó [Festival do Rio 2023]

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Há mais de 500 anos a luta dos povos indígenas no território chamado de Américas tem sido uma atividade diária. Anteriormente, a luta era contra a colonização e o avanço dos madeireiros e seringueiros que queriam destruir a floresta para fazer comércio; hoje, a luta é contra os fazendeiros e os mineradores, que destroem a floresta para fazer pasto e contaminam os rios com mercúrio. Nesse universo de luta, há pessoas que se tornam aliadas à causa mesmo não sendo originariamente indígenas, e, desses encontros, surgem amizades e apoios que conseguem reverberar as reivindicações. Ainda nos anos 1970, um belga se embrenhou pelo território nativo ainda não tanto degradado do centro do Brasil, e travou contato com uma aldeia indígena Kayapó. Desse encontro surgiu, primeiramente, em 1978, o longa ‘Raoni’, que agora, 45 anos depois de seu lançamento, é repaginado e analisado pelos seus realizadores e foi apresentado no Festival do Rio 2023 sob o nome ‘Raoni: Uma Amizade Improvável’.



Mesclando imagens do documentário anterior com gravações mais atuais, o filme de Jean-Pierre Dutilleux traça um panorama da amizade de um então diretor de cinema belga sem nenhuma experiência com uma liderança indígena cuja força estava sendo desperta, para, quase 50 anos depois, refilmar esse encontro entre os dois, ambos hoje grandes nomes em suas áreas de atuação. Nesse passar de tempo o espectador pode observar não só as mudanças físicas que ocorrem nos dois, mas, acima de tudo, na forma como o mundo recepciona as questões indígenas e o pouco avanço que as pautas, no geral, conseguem obter diante do mundo capitalista.

Ao fazer uma reflexão sobre seu primeiro filme, o realizador fulano reconstrói a trajetória de seu primeiro encontro com o Cacique Raoni, quando ele mesmo se encanta pela cultura Kayapó e, num ato de desespero, leva o Cacique para São Paulo sem autorização (uma vez que o país ainda estava sob a ditadura militar) e, dali, o leva para a Europa, onde reverberam a urgência de uma união internacional pela proteção dos povos indígenas. Independentemente do método, fica claro que a repercussão que a visita de Raoni fez às lideranças europeias na época foi crucial para, após o seu retorno, finalmente o povo Kayapó conseguir que seu território fosse demarcado. Isso porque no meio da jornada os dois puderam contar com o apoio crucial do cantor Sting, que se debruçou de corpo e alma à causa e financiou viagens do grupo para que as pautas amazônicas fossem ouvidas pela primeira vez pelas lideranças europeias.

Assim, ‘Raoni: Uma Amizade Improvável’ propõe o reencontro entre esses dois amigos, hoje ambos já idosos mas ainda na luta. Não que os dois não tenham se encontrado nesse tempo todo, porém, o reencontro dessa vez parte de um momento pós pandemia, depois que o Cacique Raoni conseguiu sobreviver ao contágio do covid por duas vezes. Uma vez a shawarma controlada, os amigos se sentam para refletir sobre o tempo, as lutas, as conquistas e as perdas.

A amizade entre o indigenista Jean-Pierre Dutilleux e o Cacique Raoni fez com que o território Kayapó fosse protegido pelos holofotes da mídia durante décadas. A história dessa luta e dessa amizade foi belamente retratada pelo seu realizador e exibida sob forte emoção durante o Festival do Rio 2023.

Trailer RAONI: Uma Amizade Improvável from INDIANA PRODUÇÕES on Vimeo.

 

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Mesclando imagens do documentário anterior com gravações mais atuais, o filme de Jean-Pierre Dutilleux traça um panorama da amizade de um então diretor de cinema belga sem nenhuma experiência com uma liderança indígena cuja força estava sendo desperta, para, quase 50 anos depois, refilmar esse encontro entre os dois, ambos hoje grandes nomes em suas áreas de atuação. Nesse passar de tempo o espectador pode observar não só as mudanças físicas que ocorrem nos dois, mas, acima de tudo, na forma como o mundo recepciona as questões indígenas e o pouco avanço que as pautas, no geral, conseguem obter diante do mundo capitalista.

Ao fazer uma reflexão sobre seu primeiro filme, o realizador fulano reconstrói a trajetória de seu primeiro encontro com o Cacique Raoni, quando ele mesmo se encanta pela cultura Kayapó e, num ato de desespero, leva o Cacique para São Paulo sem autorização (uma vez que o país ainda estava sob a ditadura militar) e, dali, o leva para a Europa, onde reverberam a urgência de uma união internacional pela proteção dos povos indígenas. Independentemente do método, fica claro que a repercussão que a visita de Raoni fez às lideranças europeias na época foi crucial para, após o seu retorno, finalmente o povo Kayapó conseguir que seu território fosse demarcado. Isso porque no meio da jornada os dois puderam contar com o apoio crucial do cantor Sting, que se debruçou de corpo e alma à causa e financiou viagens do grupo para que as pautas amazônicas fossem ouvidas pela primeira vez pelas lideranças europeias.

Assim, ‘Raoni: Uma Amizade Improvável’ propõe o reencontro entre esses dois amigos, hoje ambos já idosos mas ainda na luta. Não que os dois não tenham se encontrado nesse tempo todo, porém, o reencontro dessa vez parte de um momento pós pandemia, depois que o Cacique Raoni conseguiu sobreviver ao contágio do covid por duas vezes. Uma vez a shawarma controlada, os amigos se sentam para refletir sobre o tempo, as lutas, as conquistas e as perdas.

A amizade entre o indigenista Jean-Pierre Dutilleux e o Cacique Raoni fez com que o território Kayapó fosse protegido pelos holofotes da mídia durante décadas. A história dessa luta e dessa amizade foi belamente retratada pelo seu realizador e exibida sob forte emoção durante o Festival do Rio 2023.

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