sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | R&B, funk e hip-hop regem ‘B’Day’, o icônico segundo álbum de Beyoncé

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Três anos depois de ter feito sua estreia solo no cenário musical, Beyoncé continuou a expandir seu império com o lançamento do elogiado álbum ‘B’Day’. O compilado de originais, que viu a luz do dia em 2006, não apenas se manteve fiel à identidade R&B calcada por uma das maiores performers de todos os tempos, como, de fato, imortalizou seu legado e sua importância como artista, principalmente pela sagaz mentalidade em se manter original frente a um escopo mainstream que exalava novos e antigos talentos em uma profusão estética e uma crescente exaltação da música pop (um ano antes, por exemplo, tivemos o retorno de Madonna com o aclamado ‘Confessions on a Dance Floor’, enquanto 2007 seria marcado pelo comeback de Britney Spears com o impactante ‘Blackout’).

Diferente das costumeiras rendições falando sobre amor, ‘B’Day’ aproveitaria a recente participação de Beyoncé no filme ‘Dreamgirls’ para apresentar aos fãs uma série de canções que, unidas, gestam uma narrativa que, em certos aspectos, fugiria das fórmulas dos gêneros explorados e abriria espaço para discussões sobre feminismo e empoderamento – utilizando suas características habilidades artísticas para vocalizar declamações que a acompanhariam nos álbuns subsequentes. E foi nessa ambientação regada a estilos dos anos 1970 e 1980 que o disco ganhou forma e encantou ouvintes ao redor do mundo, além de ter se transformar em um sucesso comercial com nada menos que 8 milhões de cópias vendidas.



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Já aqui, nossa Queen B se desvencilhava do passado com o grupo Destiny’s Child – não em uma compreensão negativa, e sim como alguém que procurava outros capítulos de uma carreira marcada por sucessos atemporais. Se Dangerously in Love permitiu que Beyoncé começasse a trilha seu próprio caminho, seu segundo álbum solo, insurge pincelado com um aspecto testamentário em que ela desfruta de uma liberdade criativa maior – como vemos, por exemplo, na ótima faixa de abertura “Déjà Vu”, novamente colaborando com Jay-Z. A track, infundida com elementos do R&B, do funk e do hip-hop, discorre sobre uma mulher que é constantemente relembrada de uma paixão do passado – mas não é isso que nos chama mais a atenção, e sim a confiança transmitida pelo poder performático da cantora, seja pelas crescentes notas que culminam no envolvente refrão, seja pela fraseamento de cada verso.

Essa mesma confiança aparece em diversas faixas da produção, como “Pound the Alarm”, uma das construções mais ousadas e diferenciadas que Beyoncé havia entregado até então. A recepção mista por parte da crítica da época parece infundada, visto que a proposital agressividade não se restringe apenas a esta canção em específico, aparecendo em grande parte delas e fazendo deste um detalhe importante para compreender o momento e o lugar em que a artista se insere (e aqui não me refiro às múltiplas controvérsias enfrentadas na construção imagética do disco e dos clipes, sendo melhor deixar a problemática de lado). As belíssimas baladas que enfeitam a obra, como “Irreplaceable” e “Listen”, partem de princípio similar: enquanto esta leva o tempo necessário para se construir em um emocionante enredo (“ouça: eu estou sozinha em uma encruzilhada”), aquela traz a participação imediatamente reconhecível de Ne-Yo em uma história de superação – e que se consagra como uma das melhores e mais importantes incursões da cantora.

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Como se os riscos adotados por Beyoncé não fossem o bastante, ela também demonstra uma capacidade invejável de construir um universo próprio que nos conquista desde os primeiros toques – mesmo com músicas que não conseguem acompanhar a grandiosidade de suas conterrâneas. “Kitty Kat” é uma ode própria dos anos 2000, em que as repetições instrumentais são pontos-chave para compreendermos a mensagem; “Freakum Dress” nos conquista pela assertividade e pela força com que os versos são entregues, ainda que o crescendo para o refrão não culmine em algo tão ambiciosos quanto esperaríamos; e “Green Light”, localizada em um ponto estratégico do álbum, volta-se para o funk e abusa do poder da lead singer para nos guiar em sua sólida e prática composição.

Há diversas pérolas a serem exploradas ao longo do álbum, como “Get Me Bodied”, que deixa o R&B em segundo plano para a exaltação do bounce e de escolhas bem demarcadas que auxiliam a canção a ficar presa na mente e a nos fazer dançar com as inclinações ao reggae e ao dancehall; “Sugar Mama” é uma das músicas que merecia mais reconhecimento pelo delicioso atrevimento com que Beyoncé declama cada uma das palavras; e “Beautiful Liar”, presente na versão deluxe (e que entrou para nossa lista das colaborações femininas que definiram o século), a une a Shakira para uma impecável e exuberante construção que está presente nas playlists desde seu lançamento oficial em 2007.

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‘B’Day’ mantém-se fiel ao que Beyoncé vinha nos entregando desde seu début solo em 2003, aproveitando para expandir um microcosmos que já a colocava no centro dos holofotes. Mostrando-se mais confortável e mais fiel ao que desejava transmitir a seu público, a performer de fato demonstrou como se manter original em um cenário que continuava a mudar deliberada e assustadoramente.

Nota por faixa:

1. Déjà Vu, feat. Jay-Z – 4,5/5
2. Get Me Bodied – 4/5
3. Suga Mama – 5/5
4. Upgrade U, feat. Jay-Z – 3,5/5
5. Ring the Alarm – 4/5
6. Kitty Kat – 3,5/5
7. Freakum Dress – 3,5/5
8. Green Light – 3/5
9. Irreplaceable – 5/5
10. Resentment – 4/5
11. Check On It, feat. Bun B & Slim Thug – 4/5
12. Listen – 5/5
13. Beautiful Liar – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Três anos depois de ter feito sua estreia solo no cenário musical, Beyoncé continuou a expandir seu império com o lançamento do elogiado álbum ‘B’Day’. O compilado de originais, que viu a luz do dia em 2006, não apenas se manteve fiel à identidade R&B calcada por uma das maiores performers de todos os tempos, como, de fato, imortalizou seu legado e sua importância como artista, principalmente pela sagaz mentalidade em se manter original frente a um escopo mainstream que exalava novos e antigos talentos em uma profusão estética e uma crescente exaltação da música pop (um ano antes, por exemplo, tivemos o retorno de Madonna com o aclamado ‘Confessions on a Dance Floor’, enquanto 2007 seria marcado pelo comeback de Britney Spears com o impactante ‘Blackout’).

Diferente das costumeiras rendições falando sobre amor, ‘B’Day’ aproveitaria a recente participação de Beyoncé no filme ‘Dreamgirls’ para apresentar aos fãs uma série de canções que, unidas, gestam uma narrativa que, em certos aspectos, fugiria das fórmulas dos gêneros explorados e abriria espaço para discussões sobre feminismo e empoderamento – utilizando suas características habilidades artísticas para vocalizar declamações que a acompanhariam nos álbuns subsequentes. E foi nessa ambientação regada a estilos dos anos 1970 e 1980 que o disco ganhou forma e encantou ouvintes ao redor do mundo, além de ter se transformar em um sucesso comercial com nada menos que 8 milhões de cópias vendidas.

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Já aqui, nossa Queen B se desvencilhava do passado com o grupo Destiny’s Child – não em uma compreensão negativa, e sim como alguém que procurava outros capítulos de uma carreira marcada por sucessos atemporais. Se Dangerously in Love permitiu que Beyoncé começasse a trilha seu próprio caminho, seu segundo álbum solo, insurge pincelado com um aspecto testamentário em que ela desfruta de uma liberdade criativa maior – como vemos, por exemplo, na ótima faixa de abertura “Déjà Vu”, novamente colaborando com Jay-Z. A track, infundida com elementos do R&B, do funk e do hip-hop, discorre sobre uma mulher que é constantemente relembrada de uma paixão do passado – mas não é isso que nos chama mais a atenção, e sim a confiança transmitida pelo poder performático da cantora, seja pelas crescentes notas que culminam no envolvente refrão, seja pela fraseamento de cada verso.

Essa mesma confiança aparece em diversas faixas da produção, como “Pound the Alarm”, uma das construções mais ousadas e diferenciadas que Beyoncé havia entregado até então. A recepção mista por parte da crítica da época parece infundada, visto que a proposital agressividade não se restringe apenas a esta canção em específico, aparecendo em grande parte delas e fazendo deste um detalhe importante para compreender o momento e o lugar em que a artista se insere (e aqui não me refiro às múltiplas controvérsias enfrentadas na construção imagética do disco e dos clipes, sendo melhor deixar a problemática de lado). As belíssimas baladas que enfeitam a obra, como “Irreplaceable” e “Listen”, partem de princípio similar: enquanto esta leva o tempo necessário para se construir em um emocionante enredo (“ouça: eu estou sozinha em uma encruzilhada”), aquela traz a participação imediatamente reconhecível de Ne-Yo em uma história de superação – e que se consagra como uma das melhores e mais importantes incursões da cantora.

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Como se os riscos adotados por Beyoncé não fossem o bastante, ela também demonstra uma capacidade invejável de construir um universo próprio que nos conquista desde os primeiros toques – mesmo com músicas que não conseguem acompanhar a grandiosidade de suas conterrâneas. “Kitty Kat” é uma ode própria dos anos 2000, em que as repetições instrumentais são pontos-chave para compreendermos a mensagem; “Freakum Dress” nos conquista pela assertividade e pela força com que os versos são entregues, ainda que o crescendo para o refrão não culmine em algo tão ambiciosos quanto esperaríamos; e “Green Light”, localizada em um ponto estratégico do álbum, volta-se para o funk e abusa do poder da lead singer para nos guiar em sua sólida e prática composição.

Há diversas pérolas a serem exploradas ao longo do álbum, como “Get Me Bodied”, que deixa o R&B em segundo plano para a exaltação do bounce e de escolhas bem demarcadas que auxiliam a canção a ficar presa na mente e a nos fazer dançar com as inclinações ao reggae e ao dancehall; “Sugar Mama” é uma das músicas que merecia mais reconhecimento pelo delicioso atrevimento com que Beyoncé declama cada uma das palavras; e “Beautiful Liar”, presente na versão deluxe (e que entrou para nossa lista das colaborações femininas que definiram o século), a une a Shakira para uma impecável e exuberante construção que está presente nas playlists desde seu lançamento oficial em 2007.

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‘B’Day’ mantém-se fiel ao que Beyoncé vinha nos entregando desde seu début solo em 2003, aproveitando para expandir um microcosmos que já a colocava no centro dos holofotes. Mostrando-se mais confortável e mais fiel ao que desejava transmitir a seu público, a performer de fato demonstrou como se manter original em um cenário que continuava a mudar deliberada e assustadoramente.

Nota por faixa:

1. Déjà Vu, feat. Jay-Z – 4,5/5
2. Get Me Bodied – 4/5
3. Suga Mama – 5/5
4. Upgrade U, feat. Jay-Z – 3,5/5
5. Ring the Alarm – 4/5
6. Kitty Kat – 3,5/5
7. Freakum Dress – 3,5/5
8. Green Light – 3/5
9. Irreplaceable – 5/5
10. Resentment – 4/5
11. Check On It, feat. Bun B & Slim Thug – 4/5
12. Listen – 5/5
13. Beautiful Liar – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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