domingo , 24 novembro , 2024

Crítica | Real: O Plano Por Trás da História – Cinema nacional de qualidade e conteúdo

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O momento atual político do Brasil é tão delicado, rançoso e separatista que atingiu até a arte, como o cinema. Mais triste ainda é ver profissionais do meio, não só tomando partido, mas ajudando a boicotar aquilo que juraram defender com imparcialidade e amar sem discriminação: a sétima arte. É aí que entra Real – O Plano por Trás da História, alvo de hostilidade por parte de alguns, simplesmente por tratar de um tema que não está de acordo com seus ideais políticos.

A tensão em volta do cenário construído por extremistas é grande. É como um verdadeiro pisar em ovos, com direito a caça às bruxas. Fale mal de um produto confeccionado por homens brancos e velhos num grande escritório, mas protagonizado por mulheres, como o novo Caça-Fantasmas (2016), e você é automaticamente um machista misógino. Fale bem de Real e você provavelmente será taxado de coxinha, de extrema direita, conservador, etc.. Mas, e que tal concentramos nossas energias em avaliar o filme?



Assim como o ótimo Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho, não deveria ter sofrido represália, e ser jogado para escanteio em favorecimento do muito inferior Pequeno Segredo (2016), por uma possível indicação ao Oscar, a execração de Real é um tremendo equívoco e uma grande baboseira – muitos sequer assistiram ao filme. Pense pelo seguinte prisma, um artista é isento de orientação sexual, classe social, ideologia política ou desvio psicológico quando está atuando. Um artista hétero, pode viver um gay. Um pobre, viver rico. E ir contra sua ideologia politica também. Tudo em nome da arte. Para ele, será apenas mais um trabalho.

Ao detratar uma produção cinematográfica nacional simplesmente pela pseudo ideologia apresentada, além de não entrar nos pormenores de temas como censura, estaremos na verdade agindo contra artistas brasileiros, contra o nosso sofrido cinema e não o apoiando como deveríamos. Sendo que muitos dos envolvidos, na realidade, pensam como os que os atacam. É uma situação na qual não há vencedores.

Tudo isso para chegarmos finalmente a Real – A História por Trás do Plano, produção nacional dirigida por Rodrigo Bittencourt, baseada no livro 3.000 Dias no Bunker – Um Plano na Cabeça e um País na Mão, de Guilherme Fiúza. Com roteiro de Mikael de Albuquerque (do eficiente A Glória e a Graça), o filme narra os bastidores do plano Real, medida econômica que salvou o país da falência em meados da década de 1990.

Em primeiro plano (com o perdão do trocadilho) temos Gustavo Franco (Emílio Orciollo Neto), o protagonista, e figura central do feito econômico. Como um verdadeiro Capitão Nascimento da política, Franco é um personagem de fortes convicções, sem papas na língua e adepto da ação e não de conversa fiada. As semelhanças com o personagem de Wagner Moura no elogiado sucesso nacional não param por aí, já que ambos sofrem ao terem sua vida pessoal mastigada pela profissional, aonde liberam sua verdadeira essência e ideal. Arrogante e inflexível, Franco profere frases de efeito desde já tão icônicas quanto às de Tropa de Elite (2008 e 2010).

A parte técnica de Real é verdadeiramente elaborada, dona de uma edição primorosa, de cortes rápidos e transições eficientes, deixando o produto final com cara de thriller hollywoodiano. Não por menos, Lucas Gonzaga é o responsável, profissional que tem no currículo montagens chamativas de longas, como 2 Coelhos (2012) e Mais Forte que o Mundo (2016), tendo inclusive trabalhado na gringa, com Presságios de um Crime (2015).

Os atores estão em sua melhor forma, com destaque para Mariana Lima, que vive Denise, a assistente de Franco, e o próprio protagonista. Emílio Orciollo Neto nunca esteve tão bem, o ator metralha seus diálogos com uma voracidade latente, ao mesmo tempo trabalhando os momentos calmos (nos quais apenas suas expressões sem diálogos transmitem seus sentimentos, como na última cena especificamente) e outros de fúria explosiva – destaque para o relacionamento conturbado com a esposa Renata (papel de Paolla Oliveira).

Finalmente, os louros precisam ir para o roteiro de Albuquerque. O jovem autor cria um material verborrágico, com muito conteúdo, que sabe do que está falando e não dá descanso ao público. É tão recheado de nuances que talvez seja necessário uma nova investida a fim de se apreciar todos os elementos acontecendo aqui. Desde a primeira cena, num inocente jantar entre dois casais de amigos, Albuquerque delimita exatamente o nível de intensidade da obra, nos cumprimentando com um bem-vindo tapa na cara.

O acerto está em não enaltecer ou demonizar estes personagens reais, muito conhecidos de nossa história recente. Em criar um protagonista falho, com mais defeitos do que qualidades, e joga-lo contra a parede, testando-o, assim como os grandes personagens do cinema. O segredo, esperteza e força do roteiro de Real está em não tomar partido, ou escolher lados, apenas apresentar fatos e pessoas. Quer gostemos deles ou não. E isso, não defende-los ou argumentar se estão certos, é o maior êxito de um filme tão inflamatório, em meio ao cenário caótico de hoje.

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A tensão em volta do cenário construído por extremistas é grande. É como um verdadeiro pisar em ovos, com direito a caça às bruxas. Fale mal de um produto confeccionado por homens brancos e velhos num grande escritório, mas protagonizado por mulheres, como o novo Caça-Fantasmas (2016), e você é automaticamente um machista misógino. Fale bem de Real e você provavelmente será taxado de coxinha, de extrema direita, conservador, etc.. Mas, e que tal concentramos nossas energias em avaliar o filme?

Assim como o ótimo Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho, não deveria ter sofrido represália, e ser jogado para escanteio em favorecimento do muito inferior Pequeno Segredo (2016), por uma possível indicação ao Oscar, a execração de Real é um tremendo equívoco e uma grande baboseira – muitos sequer assistiram ao filme. Pense pelo seguinte prisma, um artista é isento de orientação sexual, classe social, ideologia política ou desvio psicológico quando está atuando. Um artista hétero, pode viver um gay. Um pobre, viver rico. E ir contra sua ideologia politica também. Tudo em nome da arte. Para ele, será apenas mais um trabalho.

Ao detratar uma produção cinematográfica nacional simplesmente pela pseudo ideologia apresentada, além de não entrar nos pormenores de temas como censura, estaremos na verdade agindo contra artistas brasileiros, contra o nosso sofrido cinema e não o apoiando como deveríamos. Sendo que muitos dos envolvidos, na realidade, pensam como os que os atacam. É uma situação na qual não há vencedores.

Tudo isso para chegarmos finalmente a Real – A História por Trás do Plano, produção nacional dirigida por Rodrigo Bittencourt, baseada no livro 3.000 Dias no Bunker – Um Plano na Cabeça e um País na Mão, de Guilherme Fiúza. Com roteiro de Mikael de Albuquerque (do eficiente A Glória e a Graça), o filme narra os bastidores do plano Real, medida econômica que salvou o país da falência em meados da década de 1990.

Em primeiro plano (com o perdão do trocadilho) temos Gustavo Franco (Emílio Orciollo Neto), o protagonista, e figura central do feito econômico. Como um verdadeiro Capitão Nascimento da política, Franco é um personagem de fortes convicções, sem papas na língua e adepto da ação e não de conversa fiada. As semelhanças com o personagem de Wagner Moura no elogiado sucesso nacional não param por aí, já que ambos sofrem ao terem sua vida pessoal mastigada pela profissional, aonde liberam sua verdadeira essência e ideal. Arrogante e inflexível, Franco profere frases de efeito desde já tão icônicas quanto às de Tropa de Elite (2008 e 2010).

A parte técnica de Real é verdadeiramente elaborada, dona de uma edição primorosa, de cortes rápidos e transições eficientes, deixando o produto final com cara de thriller hollywoodiano. Não por menos, Lucas Gonzaga é o responsável, profissional que tem no currículo montagens chamativas de longas, como 2 Coelhos (2012) e Mais Forte que o Mundo (2016), tendo inclusive trabalhado na gringa, com Presságios de um Crime (2015).

Os atores estão em sua melhor forma, com destaque para Mariana Lima, que vive Denise, a assistente de Franco, e o próprio protagonista. Emílio Orciollo Neto nunca esteve tão bem, o ator metralha seus diálogos com uma voracidade latente, ao mesmo tempo trabalhando os momentos calmos (nos quais apenas suas expressões sem diálogos transmitem seus sentimentos, como na última cena especificamente) e outros de fúria explosiva – destaque para o relacionamento conturbado com a esposa Renata (papel de Paolla Oliveira).

Finalmente, os louros precisam ir para o roteiro de Albuquerque. O jovem autor cria um material verborrágico, com muito conteúdo, que sabe do que está falando e não dá descanso ao público. É tão recheado de nuances que talvez seja necessário uma nova investida a fim de se apreciar todos os elementos acontecendo aqui. Desde a primeira cena, num inocente jantar entre dois casais de amigos, Albuquerque delimita exatamente o nível de intensidade da obra, nos cumprimentando com um bem-vindo tapa na cara.

O acerto está em não enaltecer ou demonizar estes personagens reais, muito conhecidos de nossa história recente. Em criar um protagonista falho, com mais defeitos do que qualidades, e joga-lo contra a parede, testando-o, assim como os grandes personagens do cinema. O segredo, esperteza e força do roteiro de Real está em não tomar partido, ou escolher lados, apenas apresentar fatos e pessoas. Quer gostemos deles ou não. E isso, não defende-los ou argumentar se estão certos, é o maior êxito de um filme tão inflamatório, em meio ao cenário caótico de hoje.

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