domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | “Resistência” é a MELHOR ficção científica do ano

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Na última década, o diretor Gareth Edwards se destacou como um expoente da ficção. Seu primeiro grande trabalho foi Monstros (2010), que misturou a ficção com o terror para contar a história de uma invasão alienígena. Isso abriu portas para que ele chegasse aos grandes mercados, comandando a nova versão do Godzilla (2014) e o espetacular Rogue One: Uma História Star Wars (2016). Em ambos os longas, ele contou com um orçamento maior, permitindo a ele explorar um artifício que virou sua marca registrada: o trabalho singular com as escalas, criando tensão e arrastando aquele clima de ansiedade por meio de objetos ou monstros gigantescos sendo revelados ao pouco, assustando pela comparação com seus personagens. Com isso, o britânico passou dimensionar as tramas pessoais de seus protagonistas, mostrando que por menor que pareçam, podem ter impactos gigantes no destino do mundo. Além, claro, de sempre dar um jeito de abordar temáticas sociais controversas e sempre homenagear elementos da cultura japonesa, uma obsessão do diretor.

Para muitos, “Rogue One” é um dos melhores filmes de Star Wars até hoje

Agora, em Resistência, Gareth Edwards reúne o que seu estilo tem de melhor para contar uma história de guerra em meio a um cenário pós-apocalíptico mais atual do que nunca. A trama acontece em um futuro alternativo em que a Inteligência Artificial avançou a níveis impressionantes, permitindo, por exemplo, que humanos transferissem sua consciência para corpos artificiais após a morte, fazendo com que essas máquinas adentrassem de vez na sociedade. Porém, após uma I.A. supostamente lançar uma bomba nuclear contra Los Angeles, o Ocidente declara uma guerra sem precedentes contra essas máquinas sencientes. No entanto, o Oriente não embarca nessa empreitada e segue aceitando que humanos e máquinas convivam em harmonia. Diante dessa nova configuração sociopolítica, o governo dos EUA investe trilhões para construir uma máquina capaz de exterminar o grande criador por trás dessas inteligências artificias. Mas, para isso, eles precisam encontrá-lo primeiro.



Então, eles infiltram um soldado em uma colônia de I.A., que acaba se apaixonando pela filha humana deste deus das máquinas. Porém, seu disfarce acaba sendo descoberto após anos e ele acaba perdendo tudo que tinha. Anos mais tarde, o governo volta atrás dele para guiar um time militar pela região, onde sua ex-esposa supostamente estaria viva e ajudando a esconder uma arma que pode pôr fim à resistência humana. Ele topa, mas logo descobre que as coisas não são bem assim.

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Narrativamente falando, Resistência tem um ritmo e uma história que parecem juntar elementos de Logan (2017) e Avatar (2009), reunindo o que cada uma dessas obras têm de melhor. Isso porque o soldado, interpretado por John David Washington, passou anos largado pelo governo, após perder sua utilidade, e acaba embarcando em um tipo de road movie futurista com a grande arma, que nada mais é que uma criança sintética. No entanto, a relação da dupla, que interage ativamente com o ambiente em questão, dá ao longa um aspecto único. A química entre eles é espetacular, transitando entre as situações de empatia e as de conflito com muita habilidade. É o trabalho mais complexo de Washington até aqui e ele lida com ele de forma muito competente.

E a crítica social do filme é muito nítida. Qualquer um que tenha vivido os anos da Guerra do Vietnã ou nos últimos 30 anos da “Guerra ao Terror” vai identificar o mesmo discursinho maniqueísta que os presidentes norte-americanos utilizaram para tentar legitimar invasões que só causavam caos e destruição para os países do Oriente. É uma abordagem muito ousada do diretor, tendo em vista que seu principal mercado é o norte-americano. Ao mesmo tempo, ele aproveita para contar a história por meio de um trabalho estético impecável. Inspirado nos contos orientais e na estética cyberpunk japonesa, Edwards cria um mundo fascinante e crível de tecnologias interativas.

E isso funciona perfeitamente em cena porque a parte técnica desse filme é primorosa! O trabalho de computação gráfica misturado com um time de maquiagem de outro mundo pôde criar pessoas meio humanas meio máquinas extremamente reais. Os robôs mais “clássicos” do filme também são impressionantes. Porque vivemos em tempos nos quais parece que já vimos todo tipo de robô nos cinemas, mas o time criativo conseguiu bolar máquinas simples e repletas de personalidade. Para quem curte essas representações de robôs com um visual mais analógico, o filme é um deleite. Você vê cada pecinha funcionando, o que é visualmente fantástico.

Há também uma excelente ambientação desse mundo, fazendo um contraste interessante entre o “mundo humano” e o “mundo das máquinas”. A vida no Ocidente, onde as máquinas foram banidas, é cercada por prédios, pilhas de lixo e pessoas em situação de pobreza, enquanto o Oriente, onde humanos e robôs vivem em paz, há uma conexão muito maior com a natureza, por exemplo, mostrando um caminho mais ecologicamente correto e mais de acordo com um mundo melhor. Não a toa vemos várias famílias, crianças brincando felizes em escolas e coisas do tipo. É uma forma sutil de realmente questionar o público acerca dos rumos que a sociedade toma, enquanto te faz refletir sobre a humanidade dos personagens em tela.

Por fim, o elenco de apoio, composto por Ken Watanabe e Gemma Chan cumpre bem seu papel, sem roubar o destaque da dupla principal, mas ainda assim marcando quem for assistir. Essa parceria entre Watanabe e Edwards, inclusive, é bem antiga e vem rendendo bons frutos para ambas as carreiras.

Resistência é um longa único que consegue abordar temas polêmicos em uma ficção repleta de questionamentos morais, disposta a debater o que é o amor e o que faz de um ser humano… Bem, humano. Ah sim, por ser um filme no qual a construção do mundo e sua estética são muito importantes, vale a pena pagar um pouco a mais para conferi-lo em uma sala IMAX. Há muitos detalhes para ver e o telão mais amplo engrandece e muito essa experiência, além de contar com um sistema de som mais potente, que casa perfeitamente com as cenas de combate.

Com estreia prevista para esta quinta-feira (28), Resistência é a melhor ficção científica de 2023.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Na última década, o diretor Gareth Edwards se destacou como um expoente da ficção. Seu primeiro grande trabalho foi Monstros (2010), que misturou a ficção com o terror para contar a história de uma invasão alienígena. Isso abriu portas para que ele chegasse aos grandes mercados, comandando a nova versão do Godzilla (2014) e o espetacular Rogue One: Uma História Star Wars (2016). Em ambos os longas, ele contou com um orçamento maior, permitindo a ele explorar um artifício que virou sua marca registrada: o trabalho singular com as escalas, criando tensão e arrastando aquele clima de ansiedade por meio de objetos ou monstros gigantescos sendo revelados ao pouco, assustando pela comparação com seus personagens. Com isso, o britânico passou dimensionar as tramas pessoais de seus protagonistas, mostrando que por menor que pareçam, podem ter impactos gigantes no destino do mundo. Além, claro, de sempre dar um jeito de abordar temáticas sociais controversas e sempre homenagear elementos da cultura japonesa, uma obsessão do diretor.

Para muitos, “Rogue One” é um dos melhores filmes de Star Wars até hoje

Agora, em Resistência, Gareth Edwards reúne o que seu estilo tem de melhor para contar uma história de guerra em meio a um cenário pós-apocalíptico mais atual do que nunca. A trama acontece em um futuro alternativo em que a Inteligência Artificial avançou a níveis impressionantes, permitindo, por exemplo, que humanos transferissem sua consciência para corpos artificiais após a morte, fazendo com que essas máquinas adentrassem de vez na sociedade. Porém, após uma I.A. supostamente lançar uma bomba nuclear contra Los Angeles, o Ocidente declara uma guerra sem precedentes contra essas máquinas sencientes. No entanto, o Oriente não embarca nessa empreitada e segue aceitando que humanos e máquinas convivam em harmonia. Diante dessa nova configuração sociopolítica, o governo dos EUA investe trilhões para construir uma máquina capaz de exterminar o grande criador por trás dessas inteligências artificias. Mas, para isso, eles precisam encontrá-lo primeiro.

Então, eles infiltram um soldado em uma colônia de I.A., que acaba se apaixonando pela filha humana deste deus das máquinas. Porém, seu disfarce acaba sendo descoberto após anos e ele acaba perdendo tudo que tinha. Anos mais tarde, o governo volta atrás dele para guiar um time militar pela região, onde sua ex-esposa supostamente estaria viva e ajudando a esconder uma arma que pode pôr fim à resistência humana. Ele topa, mas logo descobre que as coisas não são bem assim.

Narrativamente falando, Resistência tem um ritmo e uma história que parecem juntar elementos de Logan (2017) e Avatar (2009), reunindo o que cada uma dessas obras têm de melhor. Isso porque o soldado, interpretado por John David Washington, passou anos largado pelo governo, após perder sua utilidade, e acaba embarcando em um tipo de road movie futurista com a grande arma, que nada mais é que uma criança sintética. No entanto, a relação da dupla, que interage ativamente com o ambiente em questão, dá ao longa um aspecto único. A química entre eles é espetacular, transitando entre as situações de empatia e as de conflito com muita habilidade. É o trabalho mais complexo de Washington até aqui e ele lida com ele de forma muito competente.

E a crítica social do filme é muito nítida. Qualquer um que tenha vivido os anos da Guerra do Vietnã ou nos últimos 30 anos da “Guerra ao Terror” vai identificar o mesmo discursinho maniqueísta que os presidentes norte-americanos utilizaram para tentar legitimar invasões que só causavam caos e destruição para os países do Oriente. É uma abordagem muito ousada do diretor, tendo em vista que seu principal mercado é o norte-americano. Ao mesmo tempo, ele aproveita para contar a história por meio de um trabalho estético impecável. Inspirado nos contos orientais e na estética cyberpunk japonesa, Edwards cria um mundo fascinante e crível de tecnologias interativas.

E isso funciona perfeitamente em cena porque a parte técnica desse filme é primorosa! O trabalho de computação gráfica misturado com um time de maquiagem de outro mundo pôde criar pessoas meio humanas meio máquinas extremamente reais. Os robôs mais “clássicos” do filme também são impressionantes. Porque vivemos em tempos nos quais parece que já vimos todo tipo de robô nos cinemas, mas o time criativo conseguiu bolar máquinas simples e repletas de personalidade. Para quem curte essas representações de robôs com um visual mais analógico, o filme é um deleite. Você vê cada pecinha funcionando, o que é visualmente fantástico.

Há também uma excelente ambientação desse mundo, fazendo um contraste interessante entre o “mundo humano” e o “mundo das máquinas”. A vida no Ocidente, onde as máquinas foram banidas, é cercada por prédios, pilhas de lixo e pessoas em situação de pobreza, enquanto o Oriente, onde humanos e robôs vivem em paz, há uma conexão muito maior com a natureza, por exemplo, mostrando um caminho mais ecologicamente correto e mais de acordo com um mundo melhor. Não a toa vemos várias famílias, crianças brincando felizes em escolas e coisas do tipo. É uma forma sutil de realmente questionar o público acerca dos rumos que a sociedade toma, enquanto te faz refletir sobre a humanidade dos personagens em tela.

Por fim, o elenco de apoio, composto por Ken Watanabe e Gemma Chan cumpre bem seu papel, sem roubar o destaque da dupla principal, mas ainda assim marcando quem for assistir. Essa parceria entre Watanabe e Edwards, inclusive, é bem antiga e vem rendendo bons frutos para ambas as carreiras.

Resistência é um longa único que consegue abordar temas polêmicos em uma ficção repleta de questionamentos morais, disposta a debater o que é o amor e o que faz de um ser humano… Bem, humano. Ah sim, por ser um filme no qual a construção do mundo e sua estética são muito importantes, vale a pena pagar um pouco a mais para conferi-lo em uma sala IMAX. Há muitos detalhes para ver e o telão mais amplo engrandece e muito essa experiência, além de contar com um sistema de som mais potente, que casa perfeitamente com as cenas de combate.

Com estreia prevista para esta quinta-feira (28), Resistência é a melhor ficção científica de 2023.

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