Dezembro começou e, com ele, a contagem regressiva para o Natal! Aqui no CinePOP há muitos leitores que passam o ano inteiro esperando por essa data, justamente porque é a época que lança diversos filmes água com açúcar e super clichêzinhos que nos fazem sonhar com um Natal cheio de neve e outros elementos tradicionais, em sua maioria, da cultura estadunidense. Felizmente nos últimos anos os produtores estão voltando seus olhares para produções natalinas que tenham a ver com a diversidade cultural do próprio Brasil, e é nessa pegada que chegou, no último dia 30, a comédia romântica ‘Ritmo de Natal’, primeiro projeto de longa-metragem totalmente produzido pelos estúdios Globo e já disponível na plataforma da Globoplay.
Dante (Isacque Lopes), violinista de uma importante orquestra, vai à uma festa e, lá, se apaixona perdidamente Mileny (Clara Moneke), a mais nova expoente do cenário do funk carioca. Da improbabilidade tal qual água e óleo, Dante e Mileny começam um relacionamento, e, muito rapidamente, a paixão escalona para algo mais sério. Às vésperas do recesso de fim de ano a família de Mileny vai passar férias em Orlando, e a moça vê aí uma oportunidade de dar uma pausa na carreira e curtir dias sossegadas ao lado do seu amor na casa de férias da família na Serra Fluminense. Porém, uma vez lá, os planos dos dois vêm por água abaixo com a repentina chegada do pai – MC Barbatana (Paulo Tiefenthaler) –, da mãe – a mulher Damasco (Vilma Melo), da avó (Teca Pereira, que protagoniza as cenas mais hilárias do longa) e do irmão (Guthierry Sotero) na casa de Mileny. Para aumentar ainda mais a confusão a mãe de Dante, Inês (Taís Araújo) – que é supercontroladora e leva o Natal muito a sério – aparece de repente, junto com sua assistente (Nina Tomsic) e agora essas famílias tão diferentes precisarão conviver na noite feliz.
É claro que, como todo bom filme esse gênero, ‘Ritmo de Natal’ é recheado de conflitos interpessoais e diálogos inspiradores que inspiram a gente refletir. Entretanto, o roteiro de Juan Jullian e Leonardo Lanna vai além: centrado no povo brasileiro, o enredo demonstra mais do que o clássico confronto de classes sociais distintas; mais especificamente, foca no contraste que existe na criação de uma família de pessoas pretas que performam a cultura ocidental como forma de resistência num mundo que impõe essa cultura, e uma outra família também preta, cujas origens culturais remetem mais para as influências culturais de África, demonstrando como ambos os universos fazem parte do cotidiano de todo o indivíduo preto que vive em uma cidade cosmopolita brasileira. Diferentemente de outros filmes do gênero, aqui não se trata de julgar o comportamento, mas sim de refletir e entender que uma cultura não exclui a outra, e que ambas fazem parte da vida de todos nós.
Com uma performance hilária, posto que super centrada, de Taís Araújo, o espírito natalino fica todo sob a responsabilidade desta que é uma das maiores atrizes do país. Taís confere comicidade nesta personagem que tem um quê de todas as mães. Destaque de novela, Clara Moneke brilha no protagonismo desse ‘Ritmo de Natal’, à vontade e segura no papel principal de um longa-metragem. Com um texto que se passa em poucas locações e quase sempre em locais fechados, o diretor Allan Fiterman faz de seus cenários válvula impulsionadora da história, oferecendo até mesmo certa ousadia em focar sua câmera em posições alternativas em dois diálogos-chave do enredo – escolhas bem interessantes, que dão outra dimensão à carga dramática das cenas em questão.
Recheado de brasilidade e com muito humor, ‘Ritmo de Natal’ se destaca em muito de todas as outras produções natalinas da safra 2023. Com uma história divertida e uma mensagem bonita, é o filme ideal para ver em família neste Natal. Já disponível na Globoplay, o longa será exibido em TV aberta no dia 24 de dezembro.