domingo , 17 novembro , 2024

Crítica | Rob Peace: Drama biográfico com Camila Cabello é uma dolorosa jornada sobre sonhos inacabados

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Filme assistido durante o Festival de Sundance 2024

Rob Peace é a história de um homem que não foi. Inconformado, mas ainda assim refém das circunstâncias, ele foi sufocado pelo ambiente que o cercava. E como uma pequena nota de falecimento que se perde entre tantas outras em um minúsculo jornal local, sua curta e inspiradora trajetória se dissipou pelo ar – quase esquecida pelo tempo. Mas foi nos inspiradores relatos do amigo e escritor Jeff Hobbs que o promissor jovem voltou à vida. Sua determinação e desejo de transformar sua comunidade o tornaram uma espécie de marca registrada de como é possível sair e mudar o gueto, ainda que a realidade seja um tenebroso algoz. E as páginas desse encantador e inspirador livro biográfico de um anônimo comum se destacam uma a uma, ganhando cor, forma e brilho nesse belíssimo drama dirigido por Chiwetel Ejiofor.

Entre luzes amareladas incandescentes e o negrume das ruas sujas de New Jersey, Ejiofor traz às telonas a história de Rob Peace. Essa estética essencialmente mais crua e unicamente urbana é marcada pelo contraste entre as sombras da noite e as luzes artificiais de baixo alcance. Criando uma atmosfera que coloca a audiência em um constante estado de apreensão e alerta, o cineasta e ator faz de seu segundo filme na direção uma vitrine de suas habilidades artísticas. Cada vez mais autoral, ele torna essa cinebiografia uma delicada experiência sobre família, hereditariedade, legado e paixão.



E sob uma fotografia mais fria, que exala o gélido inverno nova-iorquino, Rob Peace se desabrocha diante das telas como um álbum de memórias incompletas. Não se privando das alegrias e nem das dores que marcam a história desse garoto e de sua família, o diretor nos convida a atravessar as décadas, onde testemunhamos o brilhantismo e pioneirismo de alguém comum, marcado por uma família disfuncional, mas que ainda assim não se deixou vencer por seu devastador contexto. Fugindo de estereótipos narrativos, que poderiam muito bem tornar a produção um pastiche de tropos hollywoodianos do tipo “estudante de faculdade de elite se torna traficante de drogas”, Chiwetel busca ir além da superfície, sempre voltando para os relatos biográficos a fim de não cair naquela dicotomia que impede a audiência de ir além das falhas de um homem.

Ao nos introduzir ao contexto sociocultural e familiar de Peace, aprendemos também sobre nós mesmos e como somos inevitavelmente marcados pelo tempo e espaço onde somos criados. Aqui, Rob e o gueto se tornam um amálgama em conflito. Sempre na beira de sua ascensão profissional e no limite da lei, ele busca o certo pelos meios errados. Afastado das oportunidades certeiras e cercado por uma atmosfera criminal que o sufoca, ele busca libertar sua comunidade da foice da miséria, enquanto se beneficia dela por se enxergar de mãos atadas. E como uma prova de que o sistema deu errado, sua história é uma mancha de sangue que não se vai. Uma mancha de um homem que poderia ter sido e merecia muito mais do que lhe foi ofertado.

E é nessa complexidade psicoemocional que o desconhecido Jay Will brilha diante dos nossos olhos. Com uma performance apaixonante, dona de uma profundidade admirável, ele honra as dores e mazelas dessa família e faz de Rob Peace alguém com quem nos identificamos. Ao seu lado, Ejiofor encara o pai de Rob com poder e grandeza. Sua intensidade e dramaticidade nos permitem conhecer o ator por outra ótica. Expressividade e melancolia marcam sua atuação, que nos leva às lágrimas. E nesse cenário, Camila Cabello adentra o cinema indie com cautela, mas confiança e presença. Mais madura enquanto atriz, ela foge das caricaturas latinas e encontra seu espaço em tela, provando ser uma aposta promissora no cinema.

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Acompanhados também por Michael Kelly e Mary J. Blige – que recebe a árdua missão de interpretar essa desconfiada e carinhosa matriarca -, Rob Peace se apresenta para nós como um drama biográfico convencional, mas poderoso. Sem o compromisso de reinventar a roda ou florear demais, Chiwetel Ejiofor faz de seu filme uma promessa a ser cumprida. A promessa de honrar um homem – independente de seus erros; a promessa de limpar a imagem de um pai – condenado injustamente; e a promessa de garantir que essa história jamais seja apagada pelo tempo.

Se esquivando de um sentimentalismo barato na construção da trama, que poderia extinguir toda a beleza desse rapaz comum e tornar sua jornada piegas e estereotipada, Ejiofor retorna ao Festival de Sundance ainda mais ávido por histórias fascinantes. Com um olhar clínico e um estilo de direção que amadurece significativamente a cada novo projeto, Rob Peace é uma carta de despedida de uma mãe eternamente enlutada e um testamento de que, independente dos finais precoces, uma vida vivida com propósito nunca será enterrada pelas areias do tempo.

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Entre luzes amareladas incandescentes e o negrume das ruas sujas de New Jersey, Ejiofor traz às telonas a história de Rob Peace. Essa estética essencialmente mais crua e unicamente urbana é marcada pelo contraste entre as sombras da noite e as luzes artificiais de baixo alcance. Criando uma atmosfera que coloca a audiência em um constante estado de apreensão e alerta, o cineasta e ator faz de seu segundo filme na direção uma vitrine de suas habilidades artísticas. Cada vez mais autoral, ele torna essa cinebiografia uma delicada experiência sobre família, hereditariedade, legado e paixão.

E sob uma fotografia mais fria, que exala o gélido inverno nova-iorquino, Rob Peace se desabrocha diante das telas como um álbum de memórias incompletas. Não se privando das alegrias e nem das dores que marcam a história desse garoto e de sua família, o diretor nos convida a atravessar as décadas, onde testemunhamos o brilhantismo e pioneirismo de alguém comum, marcado por uma família disfuncional, mas que ainda assim não se deixou vencer por seu devastador contexto. Fugindo de estereótipos narrativos, que poderiam muito bem tornar a produção um pastiche de tropos hollywoodianos do tipo “estudante de faculdade de elite se torna traficante de drogas”, Chiwetel busca ir além da superfície, sempre voltando para os relatos biográficos a fim de não cair naquela dicotomia que impede a audiência de ir além das falhas de um homem.

Ao nos introduzir ao contexto sociocultural e familiar de Peace, aprendemos também sobre nós mesmos e como somos inevitavelmente marcados pelo tempo e espaço onde somos criados. Aqui, Rob e o gueto se tornam um amálgama em conflito. Sempre na beira de sua ascensão profissional e no limite da lei, ele busca o certo pelos meios errados. Afastado das oportunidades certeiras e cercado por uma atmosfera criminal que o sufoca, ele busca libertar sua comunidade da foice da miséria, enquanto se beneficia dela por se enxergar de mãos atadas. E como uma prova de que o sistema deu errado, sua história é uma mancha de sangue que não se vai. Uma mancha de um homem que poderia ter sido e merecia muito mais do que lhe foi ofertado.

E é nessa complexidade psicoemocional que o desconhecido Jay Will brilha diante dos nossos olhos. Com uma performance apaixonante, dona de uma profundidade admirável, ele honra as dores e mazelas dessa família e faz de Rob Peace alguém com quem nos identificamos. Ao seu lado, Ejiofor encara o pai de Rob com poder e grandeza. Sua intensidade e dramaticidade nos permitem conhecer o ator por outra ótica. Expressividade e melancolia marcam sua atuação, que nos leva às lágrimas. E nesse cenário, Camila Cabello adentra o cinema indie com cautela, mas confiança e presença. Mais madura enquanto atriz, ela foge das caricaturas latinas e encontra seu espaço em tela, provando ser uma aposta promissora no cinema.

Acompanhados também por Michael Kelly e Mary J. Blige – que recebe a árdua missão de interpretar essa desconfiada e carinhosa matriarca -, Rob Peace se apresenta para nós como um drama biográfico convencional, mas poderoso. Sem o compromisso de reinventar a roda ou florear demais, Chiwetel Ejiofor faz de seu filme uma promessa a ser cumprida. A promessa de honrar um homem – independente de seus erros; a promessa de limpar a imagem de um pai – condenado injustamente; e a promessa de garantir que essa história jamais seja apagada pelo tempo.

Se esquivando de um sentimentalismo barato na construção da trama, que poderia extinguir toda a beleza desse rapaz comum e tornar sua jornada piegas e estereotipada, Ejiofor retorna ao Festival de Sundance ainda mais ávido por histórias fascinantes. Com um olhar clínico e um estilo de direção que amadurece significativamente a cada novo projeto, Rob Peace é uma carta de despedida de uma mãe eternamente enlutada e um testamento de que, independente dos finais precoces, uma vida vivida com propósito nunca será enterrada pelas areias do tempo.

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