Robert De Niro é um dos atores mais aclamados e respeitados da história do cinema – tendo conquistado, ao longo de sua prolífica carreira, nada menos que duas estatuetas do Oscar (uma de Melhor Ator Coadjuvante por ‘O Poderoso Chefão: Parte II’ e uma de Melhor Ator por ‘Touro Indomável’). Conquistando a crítica e o público com uma metamorfose performática invejável, De Niro sagrou-se como um dos grandes nomes dos filmes de máfia e suspense, além de ter se lançado a projetos cômicos que o permitiram se divertir nas telas. Agora, em pleno 2025, ele retorna aos cinemas em dose dupla com o ambicioso drama biográfico criminal ‘The Alto Knights: Máfia e Poder’.
Como já mencionado, De Niro não é nenhum estranho a produções focadas nessas histórias – e, por essa razão, não tem qualquer problema em assumir os papéis de Frank Costello e Vito Genovese (dois grandes nomes da máfia ítalo-americana de meados dos anos 1950). Antigos amigos que cresceram juntos em meio à necessidade da sobrevivência, Frank e Vito se distanciaram e construíram uma muralha de ressentimentos e de problemas nunca resolvidos que dão o tom da narrativa – e que culminam em um embate explosivo cujo único objetivo é sagrar o chefão do crime em Nova York e no restante dos Estados Unidos, impulsionando-os em uma luta drástica pelo poder que prenuncia a ruína da própria máfia.
O longa é dirigido por Barry Levinson, vencedor do Oscar por seu irretocável trabalho na cinebiografia ‘Rain Man’, de 1988 – o que o torna um nome propício para trazer a história de Frank e Vito às telonas. Todavia, apesar de uma carreira recheada de títulos exemplares e de um profundo conhecimento sobre a arte cinematográfica, Levinson parece não ter a mão necessária para sagrar a trama da forma como merecia, dando aval a inúmeros estilos imagéticos que se amalgamam em uma profusão sequencial. Em outras palavras, o cineasta se rende a inúmeras homenagens a obras criminais que marcaram época – prestando reverência a Martin Scorsese, Brian De Palma e Francis Ford Coppola -, mas sem se preocupar com a própria identidade.
De fato, De Niro faz um ótimo trabalho ao encarnar os dois protagonistas, se metamorfoseando com a ajuda de óbvias próteses e de alterações vocais simples e efetivas, e garantindo que esse enredo não seja apenas uma compilação, e sim um abraço aos dramas jurídicos e aos tour-de-force de inimizade e vingança. E, enquanto as impassíveis expressões dialogam com a forma que De Niro materializa os personagens, há certas escolhas de diálogo que quebram a magia e a ideia por trás do projeto – e que frustram os espectadores, ainda mais considerando que Nicholas Pileggi, responsável pelo roteiro de ‘Os Bons Companheiros’, fica responsável pelo roteiro. Temos, por exemplo, uma duvidosa preferência por quebrar a quarta parede ao colocar Frank falando diretamente com a câmera, trazendo aspectos documentais que não têm qualquer espaço num longa como esse.
O filme não é todo pautado em equívocos, e sim oscila entre cenas muito bem arquitetadas, como a potente sequência inicial que já nos explica a tóxica e perigosa relação entre Vito e Frank, e construções que parecem ter sido feitas às pressas, como subtramas envolvendo as respectivas esposas dos protagonistas, Anna (Kathrine Narducci) e Bobbie (Debra Messing). Não se enganem: Narducci e Messing fazem um trabalho digno de nota, que apenas não é explorado como deveria e que parece resigná-las a uma estruturação efêmera, em vez de lhes destinar arcos sólidos o suficiente para deixá-las roubarem os holofotes. Todavia, é necessário comentar que o terceiro ato consegue ofuscar esses deslizes através de um ritmo bem pautado e de uma reviravolta que, apesar de previsível, funciona dentro do espectro do longa.
A verdade é que a produção tenta dar um passo maior que a perna e, caso se restringisse a algumas fórmulas de forma abraçá-las por completo, essa ambição desmedida não iria transparecer. De fato, temos incursões do neo-noir que permeiam a fotografia de Dante Spinotti, cujo foco retira o aspecto épico e foca em melodramas interpessoais através de enquadramentos sombrios e palpáveis, e a tétrica trilha sonora de David Fleming, cujo arranjo, apesar de prático, tangencia uma obrigatoriedade sentimental que não faz muito sentido em certos momentos.

‘The Alto Knights: Máfia e Poder’ vale a pena pela carga de talento trazida por um elenco estelar, com destaque óbvio à atuação de De Niro – e, enquanto cumpre com a tarefa de ser aprazível e convincente aos fãs inveterados de obras do gênero, navega por uma corda bamba oscilante que poderia ter sido mais bem polida.

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