sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Samantha! – Série brasileira da Netflix é uma overdose maravilhosa dos anos 80

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A televisão brasileira nos anos 80 é um espetáculo à parte. Jovens esbeltas, seminuas, com colãs que marcam o corpo e meias arrastão pulverizam cenários infantis, que mesclam cores quentes com tons pastéis e reluzem em meio a holofotes brilhantes. À medida que a estética explode na tela diante das audiências, atividades divertidas e interativas roubam a atenção dos pequenos, que se perdem em um emaranhado de ruptura de princípios morais e desvirtualização excessiva dos parâmetros. Assim era um dia comum na TV aberta brasileira. A Netflix traz esse ar nostálgico todo de volta, em sua primeira série de comédia nacional, intitulada Samantha!. Destinada ao ostracismo, mas determinada demais para aceitar que nem tudo que é antigo de fato vira vintage nos anos 2010, a protagonista homônima tenta se provar, em uma espécie de sátira velada da ícone oitentista, Simony. Aquela mesma, da turminha infantil Balão Mágico.

Os anos 80 é uma das décadas mais fascinantes, não apenas por sua identidade tão particular expressa em tons neons, blazers com ombreiras, cabelos com permanente e a ascensão suprema do jeans surrado de cós alto da Levi’s. A década em si é um museu de novidades, com um estilo musical que imperava a ruptura com o passado e tentava planejar o futurismo em meio a uma tecnologia que exalava em VHS, fitas cassete e aparelhos portáteis de música, como walkman. Com uma identidade irreverente, que se destaca em figuras polêmicas como Madonna – que protestava contra o lirismo, com pichações em esculturas no clipe de Borderline -, extravagantes como Cindy Lauper – que se tornou outra potente voz feminina – e icônicas como Prince, a época carrega o frescor do novo como poucas conseguiram. E Samantha! resgata essa enorme memorabilia, abrindo o baú da irreverência, onde a TV ditava o nível de sucesso de alguém e a palavra internet sequer corria o mundo.



Em sua busca incansável pelo sucesso de outrora, a personagem vivida por Emanuelle Araújo custa a compreender o que se passa na atualidade. Paralisada no tempo, ela absorve os contextos sociais como alguém aquém ao mundo que a cerca, em uma busca incessante por algo impalpável. Essa voracidade se expressa em deliciosas referências e em um figurino tão comum para os anos 80, mas que gera uma estranheza e desconforto enormes para os olhos do presente. Com episódios leves que duram uma média de 30 minutos, a trajetória da incansável ex-estrela mirim converge com o cenário virtual do momento, gerando muito mais que conflitos de geração, mas uma leve crítica à forma como o mundo passou a se relacionar, mediante o uso excessivo das tecnologias e suas redes sociais.

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Produzida por Alice Braga e Chuck Lorre, Samantha! traz a originalidade que só alguém de origem brasileira seria capaz de extrair do nosso passado e o carimbo de um dos maiores produtores de TV dos Estados Unidos. O envolvimento direto da atriz na produção contribui para a autenticidade do material desenvolvido, considerando que a narrativa é também um espelho das memórias de crianças que – assim como ela – cresceram assistindo programas emblemáticos como Clube da Criança, que marcou a estreia da Xuxa na televisão sob a tutela da emissora Manchete, e seus derivados subsequentes, como Xou da Xuxa, Xuxa Park e Planeta Xuxa. A presença de Lorre traz a credibilidade internacional de alguém que possui no currículo, grandes sucessos de público, como é o caso de Two and a Half Men e The Big Bang Theory. Com o emblema da Netflix reverberando a produção em diversos países, Samantha! leva a marca da brasilidade no ramo do entretenimento, trazendo piadas um pouco bairristas – de início -, mas crescendo vertiginosamente como uma produção que traz problemáticas extremamente pontuais para o atual contexto social global.

Embora cambaleie em seus três primeiros episódios, a primeira série de comédia da Netflix consegue mostrar a que veio adiante, com uma trama que faz um paralelo genuíno entre os simbolismos do sucesso nos anos 80 e nos anos 2010. Ao mostrar o enorme abismo que distancia ambos os períodos, Samantha! traz consigo um humor rico por suas contextualizações autênticas, brincando com os maneirismos das duas épocas, nos colocando como espectadores que observam estes universos de fora e chegam a ser capazes de sinalizar os aspectos ridículos com os quais nos acostumamos, em virtude da familiarização. Das mensagens subliminares em discos de vinil, passando pelas inserções de comerciais no meio da programação infantil, alcançado as duck faces que fazemos para as selfies e as hashtags sem sentido que bombam nas redes sociais, a indústria do entretenimento e a cultura POP se revelam diante da audiência, com diálogo irônicos, personagens substanciais e uma peculiaridade de encher os olhos.

Samantha! É o ponta-pé inicial necessário para a Netflix projetar a exímia qualidade de entretenimento que o Brasil realmente possui. Sem medo de satirizar as referências mais saudosas e até mesmo assustadoras, a série também não esquece de se projetar para o público mundial, desenvolvendo um elo de ligação capaz de deixar a produção tão divertida para aqueles que estão de fora, como ela realmente é para nós, que estamos aqui do lado de dentro de hilária bagunça.

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A televisão brasileira nos anos 80 é um espetáculo à parte. Jovens esbeltas, seminuas, com colãs que marcam o corpo e meias arrastão pulverizam cenários infantis, que mesclam cores quentes com tons pastéis e reluzem em meio a holofotes brilhantes. À medida que a estética explode na tela diante das audiências, atividades divertidas e interativas roubam a atenção dos pequenos, que se perdem em um emaranhado de ruptura de princípios morais e desvirtualização excessiva dos parâmetros. Assim era um dia comum na TV aberta brasileira. A Netflix traz esse ar nostálgico todo de volta, em sua primeira série de comédia nacional, intitulada Samantha!. Destinada ao ostracismo, mas determinada demais para aceitar que nem tudo que é antigo de fato vira vintage nos anos 2010, a protagonista homônima tenta se provar, em uma espécie de sátira velada da ícone oitentista, Simony. Aquela mesma, da turminha infantil Balão Mágico.

Os anos 80 é uma das décadas mais fascinantes, não apenas por sua identidade tão particular expressa em tons neons, blazers com ombreiras, cabelos com permanente e a ascensão suprema do jeans surrado de cós alto da Levi’s. A década em si é um museu de novidades, com um estilo musical que imperava a ruptura com o passado e tentava planejar o futurismo em meio a uma tecnologia que exalava em VHS, fitas cassete e aparelhos portáteis de música, como walkman. Com uma identidade irreverente, que se destaca em figuras polêmicas como Madonna – que protestava contra o lirismo, com pichações em esculturas no clipe de Borderline -, extravagantes como Cindy Lauper – que se tornou outra potente voz feminina – e icônicas como Prince, a época carrega o frescor do novo como poucas conseguiram. E Samantha! resgata essa enorme memorabilia, abrindo o baú da irreverência, onde a TV ditava o nível de sucesso de alguém e a palavra internet sequer corria o mundo.

Em sua busca incansável pelo sucesso de outrora, a personagem vivida por Emanuelle Araújo custa a compreender o que se passa na atualidade. Paralisada no tempo, ela absorve os contextos sociais como alguém aquém ao mundo que a cerca, em uma busca incessante por algo impalpável. Essa voracidade se expressa em deliciosas referências e em um figurino tão comum para os anos 80, mas que gera uma estranheza e desconforto enormes para os olhos do presente. Com episódios leves que duram uma média de 30 minutos, a trajetória da incansável ex-estrela mirim converge com o cenário virtual do momento, gerando muito mais que conflitos de geração, mas uma leve crítica à forma como o mundo passou a se relacionar, mediante o uso excessivo das tecnologias e suas redes sociais.

Produzida por Alice Braga e Chuck Lorre, Samantha! traz a originalidade que só alguém de origem brasileira seria capaz de extrair do nosso passado e o carimbo de um dos maiores produtores de TV dos Estados Unidos. O envolvimento direto da atriz na produção contribui para a autenticidade do material desenvolvido, considerando que a narrativa é também um espelho das memórias de crianças que – assim como ela – cresceram assistindo programas emblemáticos como Clube da Criança, que marcou a estreia da Xuxa na televisão sob a tutela da emissora Manchete, e seus derivados subsequentes, como Xou da Xuxa, Xuxa Park e Planeta Xuxa. A presença de Lorre traz a credibilidade internacional de alguém que possui no currículo, grandes sucessos de público, como é o caso de Two and a Half Men e The Big Bang Theory. Com o emblema da Netflix reverberando a produção em diversos países, Samantha! leva a marca da brasilidade no ramo do entretenimento, trazendo piadas um pouco bairristas – de início -, mas crescendo vertiginosamente como uma produção que traz problemáticas extremamente pontuais para o atual contexto social global.

Embora cambaleie em seus três primeiros episódios, a primeira série de comédia da Netflix consegue mostrar a que veio adiante, com uma trama que faz um paralelo genuíno entre os simbolismos do sucesso nos anos 80 e nos anos 2010. Ao mostrar o enorme abismo que distancia ambos os períodos, Samantha! traz consigo um humor rico por suas contextualizações autênticas, brincando com os maneirismos das duas épocas, nos colocando como espectadores que observam estes universos de fora e chegam a ser capazes de sinalizar os aspectos ridículos com os quais nos acostumamos, em virtude da familiarização. Das mensagens subliminares em discos de vinil, passando pelas inserções de comerciais no meio da programação infantil, alcançado as duck faces que fazemos para as selfies e as hashtags sem sentido que bombam nas redes sociais, a indústria do entretenimento e a cultura POP se revelam diante da audiência, com diálogo irônicos, personagens substanciais e uma peculiaridade de encher os olhos.

Samantha! É o ponta-pé inicial necessário para a Netflix projetar a exímia qualidade de entretenimento que o Brasil realmente possui. Sem medo de satirizar as referências mais saudosas e até mesmo assustadoras, a série também não esquece de se projetar para o público mundial, desenvolvendo um elo de ligação capaz de deixar a produção tão divertida para aqueles que estão de fora, como ela realmente é para nós, que estamos aqui do lado de dentro de hilária bagunça.

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