sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | SCOOBY! O Filme – Animação estreia nos cinemas nacionais, mas merece ser vista em casa mesmo

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Após passar por uma série de adiamentos, o novo filme da turma da Mistério S/A enfim foi lançado nos cinemas do Brasil. Por conta da pandemia do Coronavírus, a animação, que chegaria aos cinemas em maio, foi lançada primeiro no VOD para depois chegar as telonas. Apesar de liderar as bilheterias no Brasil na última semana, SCOOBY! O Filme não é um filme que vale sua ida ao cinema. Ele pode muito bem ser visto em casa, sem muita expectativa e sem gastar muito dinheiro ou saúde.

O filme tenta introduzir o universo da Hanna Barbera, mas será que isso ajuda ou atrapalha o desenvolvimento da história?

Ambientado nos dias atuais, SCOOBY! O Filme dá uma nova roupagem ao clássico imortal da Hanna Barbera. Representados agora em uma animação 3D, Salsicha, Daphne, Fred, Velma e Scooby-Doo são introduzidos na trama como crianças modernas, mas sem perder suas já conhecidas peculiaridades. A forma como o filme trabalha o primeiro encontro da turma é muito fofa e dinâmica, transbordando a essência do desenho clássico, misturando um humor sagaz com inocência dos personagens e, claro, uma trama de mistério. O problema é que depois disso, temos uma transição lindíssima – que vai emocionar aos fãs da animação original – para torná-los jovens e permitir que eles assumam o visual clássico.

A sequência de abertura é “Scooby-Doo” em sua essência. O resto do filme, no entanto, parece apenas mais um dos inúmeros filmes de heróis da atualidade.

A partir do momento em que eles são jovens, a trama do mistério se esvai e o longa vira um filme genérico de aventura. Isso porque ocorre uma cisão no grupo e Salsicha e Scooby acabam sendo abduzidos pela nave do [não tão] heroico Falcão Azul (Mark Wahlberg). Daí para frente, o roteiro replica um pouco o do live action de 2002 e coloca Scooby-Doo como a chave para um plano do vilão, o maligno Dick Vigarista. É uma trama básica que, se fosse bem trabalhada, poderia divertir, mas acaba se perdendo nas pretensões do estúdio e se perde no caminho.

O Falcão Azul chega em uma versão bem diferente da que conhecemos.

Isso porque em vez de desenvolver os personagens, o roteiro abre um monte de arcos que não são bem trabalhados e acabam sendo mascarados com centenas de referências ao universo da Hanna Barbera. Cada cena tem pelo menos dois easter eggs de outros personagens clássicos, como o Tutubarão, Hong Kong Fu e até mesmo o Pombo-Correio Doodle. É divertido perceber que esses universos estão conectados e que seus personagens interagem entre si, mas chega a um ponto que a história parece seguir por caminhos feitos exclusivamente para mostrar essa conexão. E nesse ponto o filme se perde. O “Hanna-Barberaverso” acaba tomando mais tempo de tela do que a evolução do inseguro Falcão Azul e joga para escanteio o resto da Mistério S/A, que não deve aparecer por mais de 20 minutos no filme todo.

Quantos easter eggs você consegue encontrar nessa cena?

Alguns podem dizer que o saudosismo pode afetar a experiência final para com o filme. E realmente pode, já que alguns elementos clássicos são desconstruídos num estalar de dedos, mas a verdade é que o filme tem mesmo um problema narrativo. Ao mesmo tempo em que ele sabe construir boas piadas e inserir algumas referências cômicas bem inesperadas sobre a cultura pop, a essência do que é a turma do Scooby-Doo não consegue ser captada tão bem quanto na sequência de abertura. A ausência de um mistério para conectar os personagens faz muita falta em um filme sobre uma equipe de jovens detetives. Todo o suspense é entregue logo de cara para dar lugar a aventura. O que acaba ficando cansativo e não prende tanto o espectador.

Como fazer um filme de detetives mirins já entregando a solução do mistério nos primeiros minutos?

E tem outro ponto interessante que vale a pena ser discutido. O filme chegará nas versões dubladas e legendadas. Se puder escolher, opte pela dublada. Não que o trabalho original esteja ruim, é que a dublagem brasileira deu personalidade própria aos personagens, então assistir em inglês pode causar um certo estranhamento, já que os trejeitos e as gírias utilizadas são bem diferentes. E isso fica nítido até mesmo no início da versão dublada. Quando as versões pequenas entram em cena, parece que o elenco de dubladores foi dirigido para tentar imitar os trejeitos da versão americana e o resultado é estranho, podendo causar desconforto no público por se afastar muito de como conhecemos a turma. Porém, quando eles se tornam jovens, tudo muda e o trabalho de dublagem é impecável.

Duas gerações de Scooby-Doo. Guilherme Briggs (à esquerda) dá voz ao Scooby dos cinemas e continua o legado de Orlando Drummond (à direita). Foto: Reprodução/ Twitter.

Se por um lado é triste que os dubladores famosos da Mistério S/A não tenham retornado por uma opção da Warner, que pretende seguir com a franquia por muitos anos, e achou melhor escalar novas vozes; por outro, é realmente importante reconhecer o trabalho dos novos dubladores, que conseguiram respeitar a personalidade nacional de Salsicha, Scooby e afins, e ainda inseriram suas próprias interpretações dos personagens. Sem contar que o texto está cheio de termos abrasileirados, o que inclui uma sutil e maravilhosa homenagem ao lendário Orlando Drummond (a voz original do Scooby-Doo no Brasil), que completou 100 anos em 2019, e segue como o morador mais ilustre de Vila Isabel, no Rio de Janeiro.

Enfim, SCOOBY! O Filme é o primeiro capítulo de um universo expandido da Hanna Barbera nos cinemas. O visual é fantástico, mas a falta de um mistério na trama acaba deixando tudo muito óbvio e fica cansativo perto do final do segundo ato. O filme se propõe a introduzir novos personagens que serão explorados no futuro, como indicam os desenhos nos créditos finais, e tem na caça dos easter eggs seu maior divertimento. É bem provável que agrade a crianças bem pequenas, mas que já fique meio chato para os pequenos com mais de dez anos de idade. A verdade é que quem for esperando assistir a um filme do Scooby-Doo, muito provavelmente sairá decepcionado. No entanto, se você for com a ideia de que é um filme sobre a Hanna Barbera, talvez consiga gostar um pouco mais.

 

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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O filme tenta introduzir o universo da Hanna Barbera, mas será que isso ajuda ou atrapalha o desenvolvimento da história?

Ambientado nos dias atuais, SCOOBY! O Filme dá uma nova roupagem ao clássico imortal da Hanna Barbera. Representados agora em uma animação 3D, Salsicha, Daphne, Fred, Velma e Scooby-Doo são introduzidos na trama como crianças modernas, mas sem perder suas já conhecidas peculiaridades. A forma como o filme trabalha o primeiro encontro da turma é muito fofa e dinâmica, transbordando a essência do desenho clássico, misturando um humor sagaz com inocência dos personagens e, claro, uma trama de mistério. O problema é que depois disso, temos uma transição lindíssima – que vai emocionar aos fãs da animação original – para torná-los jovens e permitir que eles assumam o visual clássico.

A sequência de abertura é “Scooby-Doo” em sua essência. O resto do filme, no entanto, parece apenas mais um dos inúmeros filmes de heróis da atualidade.

A partir do momento em que eles são jovens, a trama do mistério se esvai e o longa vira um filme genérico de aventura. Isso porque ocorre uma cisão no grupo e Salsicha e Scooby acabam sendo abduzidos pela nave do [não tão] heroico Falcão Azul (Mark Wahlberg). Daí para frente, o roteiro replica um pouco o do live action de 2002 e coloca Scooby-Doo como a chave para um plano do vilão, o maligno Dick Vigarista. É uma trama básica que, se fosse bem trabalhada, poderia divertir, mas acaba se perdendo nas pretensões do estúdio e se perde no caminho.

O Falcão Azul chega em uma versão bem diferente da que conhecemos.

Isso porque em vez de desenvolver os personagens, o roteiro abre um monte de arcos que não são bem trabalhados e acabam sendo mascarados com centenas de referências ao universo da Hanna Barbera. Cada cena tem pelo menos dois easter eggs de outros personagens clássicos, como o Tutubarão, Hong Kong Fu e até mesmo o Pombo-Correio Doodle. É divertido perceber que esses universos estão conectados e que seus personagens interagem entre si, mas chega a um ponto que a história parece seguir por caminhos feitos exclusivamente para mostrar essa conexão. E nesse ponto o filme se perde. O “Hanna-Barberaverso” acaba tomando mais tempo de tela do que a evolução do inseguro Falcão Azul e joga para escanteio o resto da Mistério S/A, que não deve aparecer por mais de 20 minutos no filme todo.

Quantos easter eggs você consegue encontrar nessa cena?

Alguns podem dizer que o saudosismo pode afetar a experiência final para com o filme. E realmente pode, já que alguns elementos clássicos são desconstruídos num estalar de dedos, mas a verdade é que o filme tem mesmo um problema narrativo. Ao mesmo tempo em que ele sabe construir boas piadas e inserir algumas referências cômicas bem inesperadas sobre a cultura pop, a essência do que é a turma do Scooby-Doo não consegue ser captada tão bem quanto na sequência de abertura. A ausência de um mistério para conectar os personagens faz muita falta em um filme sobre uma equipe de jovens detetives. Todo o suspense é entregue logo de cara para dar lugar a aventura. O que acaba ficando cansativo e não prende tanto o espectador.

Como fazer um filme de detetives mirins já entregando a solução do mistério nos primeiros minutos?

E tem outro ponto interessante que vale a pena ser discutido. O filme chegará nas versões dubladas e legendadas. Se puder escolher, opte pela dublada. Não que o trabalho original esteja ruim, é que a dublagem brasileira deu personalidade própria aos personagens, então assistir em inglês pode causar um certo estranhamento, já que os trejeitos e as gírias utilizadas são bem diferentes. E isso fica nítido até mesmo no início da versão dublada. Quando as versões pequenas entram em cena, parece que o elenco de dubladores foi dirigido para tentar imitar os trejeitos da versão americana e o resultado é estranho, podendo causar desconforto no público por se afastar muito de como conhecemos a turma. Porém, quando eles se tornam jovens, tudo muda e o trabalho de dublagem é impecável.

Duas gerações de Scooby-Doo. Guilherme Briggs (à esquerda) dá voz ao Scooby dos cinemas e continua o legado de Orlando Drummond (à direita). Foto: Reprodução/ Twitter.

Se por um lado é triste que os dubladores famosos da Mistério S/A não tenham retornado por uma opção da Warner, que pretende seguir com a franquia por muitos anos, e achou melhor escalar novas vozes; por outro, é realmente importante reconhecer o trabalho dos novos dubladores, que conseguiram respeitar a personalidade nacional de Salsicha, Scooby e afins, e ainda inseriram suas próprias interpretações dos personagens. Sem contar que o texto está cheio de termos abrasileirados, o que inclui uma sutil e maravilhosa homenagem ao lendário Orlando Drummond (a voz original do Scooby-Doo no Brasil), que completou 100 anos em 2019, e segue como o morador mais ilustre de Vila Isabel, no Rio de Janeiro.

Enfim, SCOOBY! O Filme é o primeiro capítulo de um universo expandido da Hanna Barbera nos cinemas. O visual é fantástico, mas a falta de um mistério na trama acaba deixando tudo muito óbvio e fica cansativo perto do final do segundo ato. O filme se propõe a introduzir novos personagens que serão explorados no futuro, como indicam os desenhos nos créditos finais, e tem na caça dos easter eggs seu maior divertimento. É bem provável que agrade a crianças bem pequenas, mas que já fique meio chato para os pequenos com mais de dez anos de idade. A verdade é que quem for esperando assistir a um filme do Scooby-Doo, muito provavelmente sairá decepcionado. No entanto, se você for com a ideia de que é um filme sobre a Hanna Barbera, talvez consiga gostar um pouco mais.

 

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