sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Se a Rua Beale Falasse – Amor e preconceito no novo filme do diretor de ‘Moonlight’

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Após o sucesso de Moonlight: Sob a Luz do Luar  – vencedor do Oscar de 2017 e seu segundo filme após Remédio Para Melancolia, de 2008 – Barry Jenkins se tornou um dos nomes mais quentes de Hollywood. E como não poderia ser diferente, cinéfilos e crítica especializada já acumulavam altas expectativas para o seu próximo longa, na esperança de verem uma obra no mesmo nível ou ainda superior à produção premiada. Por isso, quando foi divulgado que ele seria responsável pelo roteiro e direção da adaptação para o cinema de Se a Rua Beale Falasse, livro de James Baldwin, foi difícil não esperar que este fosse um dos melhores filmes do ano – até por abordar a temática racial que o diretor já mostrou dominar como ninguém. No entanto, por mais que a produção esteja longe de ser ruim, o saldo final acabou sendo mais positivo para a parte estética do que para o modo como a história se desenvolve ao longo de seus 117 minutos.

Trabalhando com cores como poucos, Barry Jenkins consegue fazer até mesmo os olhos menos apurados para fotografias se encantarem com seu senso estético. Se em Moonlight o azul era o destaque, aqui é o amarelo e o vermelho que chamam mais atenção – desde as roupas dos personagens aos elementos de cena. E esse zelo pela parte visual também aparece no figurino e nos enquadramentos de câmera, de um modo que praticamente cada frame do filme parece digno de print. Não dá para negar que, desde os primeiros minutos, If Beale Street Could Talk – no título original –  é bonito de se ver, tanto que é muito provável que apareça como um dos fortes concorrentes para fotografia no Oscar de 2019. O mesmo vale para a trilha sonora instrumental – ainda falando da parte mais técnica – , que ajuda a contar a história e criar os momentos de tensão e melancolia do longa.



A questão do preconceito racial, foco central do filme, é inegavelmente bem trabalhada. – e é triste perceber que, por mais que a trama se passe na década de 60, ainda tem muito a ver com os tempos atuais. Além do racismo do dia a dia e da erotização da mulher negra abordados na trama, não seria muito incomum ver um casal como Tish e Fonny (os ótimos Kiki Layne e Stephan James) ter sua história de amor interrompida, justo quando estavam prestes a construir a vida juntos, por conta de uma acusação criminal injusta – que, como o longa leva a crer, foi resultado do revanchismo de um policial branco racista. Justamente por isso, entre as melhores cenas – junto com uma memorável briga entre a família de Tish e a fanática religiosa mãe de Fonny –, está a que o personagem de Brian Tyree Henry, o Paper Boy de Atlanta, desabafa sobre a terrível experiência de ter passado anos preso, e sobre como a prisão e o sistema podem fazer o que querem com quem está lá.

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No entanto, mesmo com todos esses pontos favoráveis, Se a Rua Beale Falasse perde em tentar criar cenas memoráveis o tempo inteiro em vez de focar na força da sua mensagem e ficar em um básico eficaz. Por mais que o genuíno amor do casal protagonista realmente encante, Jenkins parece querer aproveitar esse gancho para ter a liberdade de poetizar e criar diálogos intensos a cada minuto – o que, da metade para frente, acaba tornando o filme monótono e com a sensação de ser mais longo do que realmente é pelas inúmeras voltas e rodeios que são feitos para que se chegue a um ponto simples. A máxima do “menos é mais” caberia bem aqui, já que o paralelo entre a linha do tempo onde Fonny está preso por ser acusado injustamente com os flashbacks que revelam o amor entre ele e Tish se construindo, já seria poético e melancólico o suficiente sem que fosse necessário reforçar a carga dramática a todo momento.

Mas, ainda que tudo isso incomode ao longo da história, não dá para negar que o elenco segura muito bem seus respectivos papéis e consegue passar naturalidade para os seus personagens (exceto o policial racista, que soa um pouco caricato demais). Destaque para o protagonista Stephan James e para Regina King, que interpreta a mãe de Trish. Em uma das cenas em que tenta combater a injustiça que está atrapalhando a felicidade de sua filha e seu genro, ela transmite brilhantemente a sensação de desespero e amargor de quem se encontra presa em uma situação sem solução e está quase perdendo seu último fio de esperança – e, não por acaso, alguns críticos já apostam em sua indicação para Melhor Atriz Coadjuvante no Oscar de 2019. Não seria surpresa.

No fim, erros e acertos à parte, Se a Rua Beale Falasse deixa um nó na garganta por mostrar como uma sociedade racista e a violência policial podem atrapalhar um caminho que tinha tudo para terminar em felicidade. Mas, na dura vida real, não tem o senso estético de Barry Jenkins acompanhando todas essas injustiças que passam bem diante de nossos olhos… Só resta mesmo a esperança de que um amor, como o compartilhado entre os protagonistas, sirva como um alento em meio ao ódio.

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Crítica | Se a Rua Beale Falasse – Amor e preconceito no novo filme do diretor de ‘Moonlight’

Após o sucesso de Moonlight: Sob a Luz do Luar  – vencedor do Oscar de 2017 e seu segundo filme após Remédio Para Melancolia, de 2008 – Barry Jenkins se tornou um dos nomes mais quentes de Hollywood. E como não poderia ser diferente, cinéfilos e crítica especializada já acumulavam altas expectativas para o seu próximo longa, na esperança de verem uma obra no mesmo nível ou ainda superior à produção premiada. Por isso, quando foi divulgado que ele seria responsável pelo roteiro e direção da adaptação para o cinema de Se a Rua Beale Falasse, livro de James Baldwin, foi difícil não esperar que este fosse um dos melhores filmes do ano – até por abordar a temática racial que o diretor já mostrou dominar como ninguém. No entanto, por mais que a produção esteja longe de ser ruim, o saldo final acabou sendo mais positivo para a parte estética do que para o modo como a história se desenvolve ao longo de seus 117 minutos.

Trabalhando com cores como poucos, Barry Jenkins consegue fazer até mesmo os olhos menos apurados para fotografias se encantarem com seu senso estético. Se em Moonlight o azul era o destaque, aqui é o amarelo e o vermelho que chamam mais atenção – desde as roupas dos personagens aos elementos de cena. E esse zelo pela parte visual também aparece no figurino e nos enquadramentos de câmera, de um modo que praticamente cada frame do filme parece digno de print. Não dá para negar que, desde os primeiros minutos, If Beale Street Could Talk – no título original –  é bonito de se ver, tanto que é muito provável que apareça como um dos fortes concorrentes para fotografia no Oscar de 2019. O mesmo vale para a trilha sonora instrumental – ainda falando da parte mais técnica – , que ajuda a contar a história e criar os momentos de tensão e melancolia do longa.

A questão do preconceito racial, foco central do filme, é inegavelmente bem trabalhada. – e é triste perceber que, por mais que a trama se passe na década de 60, ainda tem muito a ver com os tempos atuais. Além do racismo do dia a dia e da erotização da mulher negra abordados na trama, não seria muito incomum ver um casal como Tish e Fonny (os ótimos Kiki Layne e Stephan James) ter sua história de amor interrompida, justo quando estavam prestes a construir a vida juntos, por conta de uma acusação criminal injusta – que, como o longa leva a crer, foi resultado do revanchismo de um policial branco racista. Justamente por isso, entre as melhores cenas – junto com uma memorável briga entre a família de Tish e a fanática religiosa mãe de Fonny –, está a que o personagem de Brian Tyree Henry, o Paper Boy de Atlanta, desabafa sobre a terrível experiência de ter passado anos preso, e sobre como a prisão e o sistema podem fazer o que querem com quem está lá.

No entanto, mesmo com todos esses pontos favoráveis, Se a Rua Beale Falasse perde em tentar criar cenas memoráveis o tempo inteiro em vez de focar na força da sua mensagem e ficar em um básico eficaz. Por mais que o genuíno amor do casal protagonista realmente encante, Jenkins parece querer aproveitar esse gancho para ter a liberdade de poetizar e criar diálogos intensos a cada minuto – o que, da metade para frente, acaba tornando o filme monótono e com a sensação de ser mais longo do que realmente é pelas inúmeras voltas e rodeios que são feitos para que se chegue a um ponto simples. A máxima do “menos é mais” caberia bem aqui, já que o paralelo entre a linha do tempo onde Fonny está preso por ser acusado injustamente com os flashbacks que revelam o amor entre ele e Tish se construindo, já seria poético e melancólico o suficiente sem que fosse necessário reforçar a carga dramática a todo momento.

Mas, ainda que tudo isso incomode ao longo da história, não dá para negar que o elenco segura muito bem seus respectivos papéis e consegue passar naturalidade para os seus personagens (exceto o policial racista, que soa um pouco caricato demais). Destaque para o protagonista Stephan James e para Regina King, que interpreta a mãe de Trish. Em uma das cenas em que tenta combater a injustiça que está atrapalhando a felicidade de sua filha e seu genro, ela transmite brilhantemente a sensação de desespero e amargor de quem se encontra presa em uma situação sem solução e está quase perdendo seu último fio de esperança – e, não por acaso, alguns críticos já apostam em sua indicação para Melhor Atriz Coadjuvante no Oscar de 2019. Não seria surpresa.

No fim, erros e acertos à parte, Se a Rua Beale Falasse deixa um nó na garganta por mostrar como uma sociedade racista e a violência policial podem atrapalhar um caminho que tinha tudo para terminar em felicidade. Mas, na dura vida real, não tem o senso estético de Barry Jenkins acompanhando todas essas injustiças que passam bem diante de nossos olhos… Só resta mesmo a esperança de que um amor, como o compartilhado entre os protagonistas, sirva como um alento em meio ao ódio.

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