sexta-feira, abril 26, 2024

Crítica | Selena Gomez exalta sua herança latina com o EP ‘Revelación’

Depois de dois álbuns de extremo sucesso – ‘Revival’ e ‘Rare’ -, Selena Gomez estava pronta para se aventurar uma jornada bem interessante. É claro que não podemos nos esquecer de seu quase criminoso hiato entre as obras supracitadas, em virtude de inúmeros problemas de saúde mental e físico, mas que serviram para que a artista finalmente encontrasse seu estilo fonográfico e amadurecesse de modo apaixonante (não é surpresa que tenha configurado em diversas listas de fim de ano em 2020 e em 2015). Agora, com ‘Revelación’, a cantora e compositora abre espaço para sua herança latina com um EP inteiramente em espanhol.

Em entrevista à revista Dazed no ano passado, Gomez já havia comentado que tinha planos que cultivava há bastante tempo para abrir portas à cultura latino-americana – que já vinham dando passos curtos desde produções predecessoras, como “Ring” e até mesmo “Bad Liar”. “Isso é algo que eu queria fazer há dez anos, trabalhar em um projeto em espanhol, porque tenho muito, muito orgulho de minha herança e senti que queria fazer isso acontecer”, ela comentou. “Com toda a divisão do mundo, há algo sobre a música latina que, globalmente, faz as pessoas sentirem coisas, sabe?”. O resultado das breves sete faixas, que talvez tenham aberto um novo capítulo para a espetacular e explosiva carreira de Selena, é satisfatório e surpreendentemente coeso, ainda mais considerando as dezenas de compositores que a auxiliaram nessa trajetória.

O EP abre com um dos singles principais, “De Una Vez” e, já aqui, pode-se falar que as canções arquitetadas com singela humildade por Gomez não serão para todos. Afinal, a performer calcou sua identidade através do bubblegum pop de ‘Stars Dance’ e, anteriormente, do electro-pop-rock de ‘Kiss & Tell’ (que merecia mais atenção do que tem por ser uma homenagem às incursões adolescentes do começo dos anos 2000); para aqueles que esperavam as mesmas progressões dançantes, já posso avisar que irão se decepcionar. De qualquer forma, a faixa de abertura é uma ode sensual ao reggaeton da década passada, marcada pela presença de Tainy e Neon16 que permite que o electro-pop e o dream-pop se reúnam em uma sinestésica e aplaudível iteração.

As inflexões musicais exploradas estendem-se como uma ramificação evocativa, ainda que linear. Temos a mudança de ritmo em “Baila Conmigo”, uma colaboração de Rauw Alejandro cuja narrativa gira em torno da química espontânea de duas pessoas que não falam a mesma língua – e que não precisam, visto que comunicam-se pelo poder da dança. As minimalistas notas que abrem a track puxam referências do R&B de 2020, como ‘Positions’ e ‘Ungodly Hour’, permitindo que a artista se sinta disposta suficiente para apostar em algo novo sem abandonar o que conhece ou o que estava em voga. “Buscando Amor”, da mesma maneira, faz um convite para a pista de dança e transmuta os vocais da lead singer em uma mimética representação de Cristina Ortiz e Selena Quintanilla, sem deixar que funda-se a um panorama demasiadamente univalente.

Um dos problemas com os quais Gomez se depara é, sem sombra de dúvida, a repetição instrumental. Nada é muito egrégio entre as canções que compõe o álbum, o que é infortuito, considerando a versatilidade que vinha nos apresentando há muito tempo. “Dámelo To’” dá uma sensação familiar demais para falar por conta própria, estendendo suas ramificações a explorações já feitas por J Balvin, Maluma e ROSALÍA, por exemplo. É claro que devemos dar o crédito merecido para o resgate da cultura latino-americana para o cenário mainstream, ainda mais partindo de uma pessoa que carrega ambos os legados em sua vida; entretanto, é inegável que os modelos dos quais se vale, por vezes, ganham mais espaço do precisavam e travam uma luta panamenha consigo mesmos.

Felizmente, os deslizes não são tão expressivos quanto podemos pensar. “Vicio” é comandado pelos versos pungentes, por assim dizer, de Cordero Boria, que retorna em “Adiós” (a melhor iteração do EP), uma construção propositalmente dissonante que mantém-se viva pela exaltação do empoderamento e da contemporaneidade musical. “Selfish Love” fecha a obra com chave de ouro e traz DJ Snake de volta para uma associação concisa e bastante prática, seguindo os passos do hit “Taki Taki”, mas respaldando a belíssima e narcótica para Alan Walker e suas conhecidas produções como “Faded” e “Miss U More Than U Know”, e também para a proeminente figura de Isabela Merced e o recente ‘The Better Half of Me’.

Não deixe de assistir:

Selena Gomez finalmente conseguiu honrar a si mesma e à sua impactante história com o EP ‘Revelación’. Apesar da breve duração das músicas e do próprio álbum (que nem mesmo chega a vinte minutos completos) e dos óbvios obstáculos, as músicas são consistentes dentro do que se propõe a entregar, e no final das contas, é uma adição bem-vinda à discografia de uma performer que ainda tem muito a nos contar.

Nota por faixa:

1. De Una Vez – 4/5
2. Buscando Amor – 3,5/5
3. Baila Conmigo (feat. Rauw Alejandro) – 4/5
4. Dámelo To’ (feat. Myke Towers) – 2,5/5
5. Vicio – 3,5/5
6. Adiós – 4,5/5
7. Selfish Love (feat. DJ Snake) – 4/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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