sexta-feira , 27 dezembro , 2024

Crítica | Sempre em Frente – Um belo encontro de almas que quase é atrapalhado por discurso gratiluz batido

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É impossível ficar inerte ou apático diante da relação compartilhada pelos personagens vividos por Joaquin Phoenix (‘Coringa’) e o pequeno Woody Norman (‘Poldark’) nesta nova produção da A24 chamada de ‘Sempre em Frente’. O filme insere o espectador em meio a uma rotina amorosa, e ao mesmo tempo conflitante, entre um tio e um sobrinho que precisam passar um tempo juntos e, há todo momento, descobrem novas formas de amar, por simplesmente viverem a beleza do comum e do mundano.

Isso ganha ainda mais força quando percebemos o background familiar da dupla, onde a figura do homem mais velho, Johnny (Phoenix), precisa juntar os cacos após a morte da mãe, e também ajudar sua irmã, Viv (Gaby Hoffmann), que, com o casamento prestes a desmoronar, está com o marido numa clínica psiquiatra e pede para que Johnny cuide do sobrinho enquanto isso. A criança em questão é Jesse (Norman), um garoto prodígio que tem pensamentos avançados demais para sua idade, muito pela condição delicada presente no seio familiar.



Ambos, que também precisam ser amparados, meio que, sem querer, começam a se ajudar e vão evoluindo com isso, tendo assim visões mais claras a respeito da vida, do atual momento que passam e sobre o futuro próximo que enfrentarão. E se a ideia do roteirista e diretor Mike Mills (‘Toda Forma de Amor’) foi mesmo linkar esse aspecto de aprendizado ao elo claramente proselitista que aborda, do sonho de um mundo melhor, acertou, pois essa acaba sendo a rima narrativa mais condizente da fita.

Por outro lado, fica claro como Mills está mais preocupado em trazer esse apelo realístico de “fim dos tempos” ao colocar o protagonista Johnny como um documentarista que busca na “pureza da resposta das crianças“, bem ao estilo Gonzaguinha, a fórmula secreta de como salvar a humanidade dela mesmo, ou seja, de não se autodestruir. O que, à primeira vista, é uma atitude admirável e salutar, mas que, com o tempo, se torna rasa e pueril, devido o seu discurso passar a ser insistente, não indo além de ideias que ficam no campo da utopia.

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Provavelmente, o diretor também percebeu que, em algum momento deste “heroico debate social”, o público notaria tamanha catequização da sua parte, por isso criou toda uma camada artística pra lá de estilística. Através da fotografia em preto e branco de Robbie Ryan (‘História de Um Casamento‘) que oferece uma visão mais lúdica, capaz de capturar planos belíssimos de cidades tão diferentes, como Detroit, Nova York e Nova Orleans, o realizador traz com essa escolha a pretensão de maior rigor estético, dando a produção um aspecto que chamam de cult. Sim, toda carpintaria é bem realizada e tem sentido dentro da história que Mills quer contar, no entanto fica claro que tal perfumaria está lá também para justificar a falta de tutano do texto.

Contudo, se por um lado ‘C’mon C’mon’ (no original) não conquista em sua investida temática, por outro encanta do início ao fim nessa já comentada relação paternal. Momentos como a explosão de gritos em meio ao parque florestal dão ao filme uma enorme força dramática, capaz de impressionar pelo duelo de atuações. E só isso já coloca o ator mirim Woody Norman em um nível de altíssimo talento, já que, com apenas 11 anos, contracenar e em alguns momentos se equiparar a um artista monumental como Joaquin Phoenix é uma tarefa árdua até mesmo para veteranos. O final que apresenta algumas gravações da dupla é um verdadeiro oásis no deserto, capaz de derreter os corações mais gélidos.

De modo que, finalmente, entendemos o porquê de um filme, aparentemente, tão promissor quanto ‘Sempre em Frente’ ter ficado de fora da grande maioria dos eventos da dita temporada de premiações. Sim, o filme é apaixonante e forte naquilo que aparentava e precisava ser, mas é na mesma parcela desinteressante e inócuo em seus comentários temáticos e até em sua disposição estética. Funcionando bem, no fim das contas, mas deixando um sabor agridoce, a sensação de que algo melhor poderia ter sido extraído dali.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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Isso ganha ainda mais força quando percebemos o background familiar da dupla, onde a figura do homem mais velho, Johnny (Phoenix), precisa juntar os cacos após a morte da mãe, e também ajudar sua irmã, Viv (Gaby Hoffmann), que, com o casamento prestes a desmoronar, está com o marido numa clínica psiquiatra e pede para que Johnny cuide do sobrinho enquanto isso. A criança em questão é Jesse (Norman), um garoto prodígio que tem pensamentos avançados demais para sua idade, muito pela condição delicada presente no seio familiar.

Ambos, que também precisam ser amparados, meio que, sem querer, começam a se ajudar e vão evoluindo com isso, tendo assim visões mais claras a respeito da vida, do atual momento que passam e sobre o futuro próximo que enfrentarão. E se a ideia do roteirista e diretor Mike Mills (‘Toda Forma de Amor’) foi mesmo linkar esse aspecto de aprendizado ao elo claramente proselitista que aborda, do sonho de um mundo melhor, acertou, pois essa acaba sendo a rima narrativa mais condizente da fita.

Por outro lado, fica claro como Mills está mais preocupado em trazer esse apelo realístico de “fim dos tempos” ao colocar o protagonista Johnny como um documentarista que busca na “pureza da resposta das crianças“, bem ao estilo Gonzaguinha, a fórmula secreta de como salvar a humanidade dela mesmo, ou seja, de não se autodestruir. O que, à primeira vista, é uma atitude admirável e salutar, mas que, com o tempo, se torna rasa e pueril, devido o seu discurso passar a ser insistente, não indo além de ideias que ficam no campo da utopia.

Provavelmente, o diretor também percebeu que, em algum momento deste “heroico debate social”, o público notaria tamanha catequização da sua parte, por isso criou toda uma camada artística pra lá de estilística. Através da fotografia em preto e branco de Robbie Ryan (‘História de Um Casamento‘) que oferece uma visão mais lúdica, capaz de capturar planos belíssimos de cidades tão diferentes, como Detroit, Nova York e Nova Orleans, o realizador traz com essa escolha a pretensão de maior rigor estético, dando a produção um aspecto que chamam de cult. Sim, toda carpintaria é bem realizada e tem sentido dentro da história que Mills quer contar, no entanto fica claro que tal perfumaria está lá também para justificar a falta de tutano do texto.

Contudo, se por um lado ‘C’mon C’mon’ (no original) não conquista em sua investida temática, por outro encanta do início ao fim nessa já comentada relação paternal. Momentos como a explosão de gritos em meio ao parque florestal dão ao filme uma enorme força dramática, capaz de impressionar pelo duelo de atuações. E só isso já coloca o ator mirim Woody Norman em um nível de altíssimo talento, já que, com apenas 11 anos, contracenar e em alguns momentos se equiparar a um artista monumental como Joaquin Phoenix é uma tarefa árdua até mesmo para veteranos. O final que apresenta algumas gravações da dupla é um verdadeiro oásis no deserto, capaz de derreter os corações mais gélidos.

De modo que, finalmente, entendemos o porquê de um filme, aparentemente, tão promissor quanto ‘Sempre em Frente’ ter ficado de fora da grande maioria dos eventos da dita temporada de premiações. Sim, o filme é apaixonante e forte naquilo que aparentava e precisava ser, mas é na mesma parcela desinteressante e inócuo em seus comentários temáticos e até em sua disposição estética. Funcionando bem, no fim das contas, mas deixando um sabor agridoce, a sensação de que algo melhor poderia ter sido extraído dali.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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