terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Sex Education – Série da Netflix apresenta sexo de forma saudável e atrevida

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Falar sobre sexo na adolescência parece chover no molhado e utilizar um discurso deveras debatido em obras cinematográficas e televisivas, no entanto, Laurie Nunn conseguiu construir uma narrativa madura e espirituosa sobre o tema na série britânica Sex Education, lançada em janeiro na Netflix.

Ambientado em uma cidade do interior da Inglaterra, o primeiro episódio já começa com a interrupção de uma tentativa de masturbação do jovem protagonista Otis, vivido por Asa Butterfield (O Espaço Entre Nós), pelo parceiro sexual da sua mãe Jean (Gillian Anderson), dando início a uma série de conflitos que cometem aos jovens do ensino médio. Famoso ainda criança pelos sucessos O Menino do Pijama Listrado (2008) e A Invenção de Hugo Cabret (2011), Butterfield mostra um amadurecimento competente na transição da infância à adolescência em frentes às câmeras.

Com cenas de nudez sem pudores, o seriado apresenta os dilemas de cada personagem em cada episódio focado em uma situação. Embora as dúvidas sejam completamente diferentes, todas têm um ponto em comum. Ou seja, as dificuldades sexuais não estão no ato em si, mas em todas as questões psicológicas que envolvem a sexualidade, a moralidade e os relacionamentos entre as partes, como já explicava Sigmund Freud.

Sem intenção, Otis ajuda o bad boy Adam Groff (Connor Swindells), que não conseguia ejacular ou sentir prazer durante o sexo com a namorada Aimee (Aimee Lou Wood). Acidentalmente, por conta de uma dose anormal de Viagra, Otis conversa com Adam para ajudá-lo a se aceitar e resolver o que realmente o paralisava. Após o diálogo, testemunhado por Maeve (Emma Mackey), Connor se liberta da sua carga conservadora e o peso de ser filho do repressor diretor, conseguindo, assim, finalmente alcançar o orgasmo.

A partir desse episódio, Maeve, a garota mais descolada da escola, vê uma oportunidade de fazer dinheiro. Ela propõe a Otis um consultório sexual em que os alunos da escola serão os clientes, uma vez que ela nota problemas sexuais em várias pessoas ao redor e quer usar o talento com as palavras do jovem Otis a seu favor. Com o acordo traçado, Otis dedica-se a pesquisar sobre sexualidade e, baseado na escuta do consultório da sua mãe, passa a ajudar os jovens da escola, exceto a si mesmo.

O grande diferencial de Sex Education é o roteiro, que comporta o humor e os momentos desconcertantes com um debate maduro e realístico dos dilemas juvenis, como dificuldade de orgasmo, aborto, homossexualidade feminina e masculina, mas para além de entender o próprio corpo as dificuldade estão em torno da mente e das expectativas de cada indivíduo. Desse modo, Otis transforma-se em uma luz no fim do túnel por ter a mesma idade de todos, mas saber aconselhá-los.

Em uma cena, uma das meninas diz: “Temos a mesma idade, mas você é mais sábio, parece a minha mãe no corpo de um homenzinho”. Com essa aproximação, ele ajuda os seus colegas, mas como “em casa de ferreiro o espeto é de pau”, ele não consegue resolver os seus sentimentos em relação à Maeve, briga com o melhor amigo Eric (Ncuti Gatwa) e não sabe lidar com os seus desejo sexuais. Assim como seus colegas, o jovem de 16 anos tem seus traumas e, por isso, é cometido por uma crise de pânico ao tentar transar com Lily (Tanya Reynolds). Os motivos, digamos, são bastante explícitos na série e Otis é quem mais precisa de terapia nesta história.

Outro ponto dessa jornada é o amigo Eric. Ele tem um percurso bastante envolvente e importante para a narrativa. O rapaz gosta de vestir-se com roupas chamativas e maquiagem, mas ele precisa esconder suas vontades a fim de encaixar-se na cidadezinha e em sua família religiosa. Em um dos melhores episódios, o quinto, ele enfrenta o seu maior desafio, temer por sua integridade física apenas por expor quem ele é e vestir-se da forma que deseja. É tocante o caminho traçado por Eric de aceitação e confronto com o seu redor, assim como o caminho de Maeve.

Ela é a única personagem que já saiu do esquema de importar-se com o que outros pensam ao redor e, por isso, mais madura que todos os outros alunos. Por ter uma família disfuncional, a jovem aprendeu a virar-se sozinha, mas encontra em Otis e, posteriormente, no namorado Jackson (Kedar Williams-Stirling) suporte, ainda mais quando realiza um aborto, ainda no segundo episódio. O seriado destaca-se exatamente por ressaltar com seriedade esses fatores.

Podemos levemente compará-lo com 13 Reasons Why (2017 -), mas a grande diferença é que no seriado norte-americano todos os jovens estão tristes e amargurados, o ambiente é quase tóxico. No seriado britânico, as paisagens são encantadoras e a vida possui uma dinâmica mais alegre, mesmo que pacata. Além de personagens mais inspirados, Sex Education incentiva os desejos sexuais como naturais e saudáveis, já na obra estadunidense os personagens escondem suas pulsões e se resignam em culpa.

Por se levar a sério e construir o background de cada personagem, Sex Education torna-se realmente educativo, além de um agradável entretenimento. Apesar da ambientação bucólica, o seriado possui o tom assertivo comparado às comédias American Pie (1999) e Porky’s (1981), sendo atual e lidando com questões palpáveis para qualquer jovem de 16 anos, por exemplo, como a viralização de nudes.  

Com apenas oito episódios, Laurie Nunn mostrou a que veio e já conseguiu a renovação para a segunda temporada. Ainda que seja focado nos adolescentes, o seriado apresenta os adultos mais perdidos em suas questões e relacionamentos, tal como a mãe de Otis evitando passar mais de uma noite com a mesma pessoa. Do mesmo modo, os pais de Eric lidam com a sexualidade do filho acima de qualquer crença. São muitos pontos em aberto, ótimas atuações e, portanto, já começa a espera para as próximas temporadas.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Ambientado em uma cidade do interior da Inglaterra, o primeiro episódio já começa com a interrupção de uma tentativa de masturbação do jovem protagonista Otis, vivido por Asa Butterfield (O Espaço Entre Nós), pelo parceiro sexual da sua mãe Jean (Gillian Anderson), dando início a uma série de conflitos que cometem aos jovens do ensino médio. Famoso ainda criança pelos sucessos O Menino do Pijama Listrado (2008) e A Invenção de Hugo Cabret (2011), Butterfield mostra um amadurecimento competente na transição da infância à adolescência em frentes às câmeras.

Com cenas de nudez sem pudores, o seriado apresenta os dilemas de cada personagem em cada episódio focado em uma situação. Embora as dúvidas sejam completamente diferentes, todas têm um ponto em comum. Ou seja, as dificuldades sexuais não estão no ato em si, mas em todas as questões psicológicas que envolvem a sexualidade, a moralidade e os relacionamentos entre as partes, como já explicava Sigmund Freud.

Sem intenção, Otis ajuda o bad boy Adam Groff (Connor Swindells), que não conseguia ejacular ou sentir prazer durante o sexo com a namorada Aimee (Aimee Lou Wood). Acidentalmente, por conta de uma dose anormal de Viagra, Otis conversa com Adam para ajudá-lo a se aceitar e resolver o que realmente o paralisava. Após o diálogo, testemunhado por Maeve (Emma Mackey), Connor se liberta da sua carga conservadora e o peso de ser filho do repressor diretor, conseguindo, assim, finalmente alcançar o orgasmo.

A partir desse episódio, Maeve, a garota mais descolada da escola, vê uma oportunidade de fazer dinheiro. Ela propõe a Otis um consultório sexual em que os alunos da escola serão os clientes, uma vez que ela nota problemas sexuais em várias pessoas ao redor e quer usar o talento com as palavras do jovem Otis a seu favor. Com o acordo traçado, Otis dedica-se a pesquisar sobre sexualidade e, baseado na escuta do consultório da sua mãe, passa a ajudar os jovens da escola, exceto a si mesmo.

O grande diferencial de Sex Education é o roteiro, que comporta o humor e os momentos desconcertantes com um debate maduro e realístico dos dilemas juvenis, como dificuldade de orgasmo, aborto, homossexualidade feminina e masculina, mas para além de entender o próprio corpo as dificuldade estão em torno da mente e das expectativas de cada indivíduo. Desse modo, Otis transforma-se em uma luz no fim do túnel por ter a mesma idade de todos, mas saber aconselhá-los.

Em uma cena, uma das meninas diz: “Temos a mesma idade, mas você é mais sábio, parece a minha mãe no corpo de um homenzinho”. Com essa aproximação, ele ajuda os seus colegas, mas como “em casa de ferreiro o espeto é de pau”, ele não consegue resolver os seus sentimentos em relação à Maeve, briga com o melhor amigo Eric (Ncuti Gatwa) e não sabe lidar com os seus desejo sexuais. Assim como seus colegas, o jovem de 16 anos tem seus traumas e, por isso, é cometido por uma crise de pânico ao tentar transar com Lily (Tanya Reynolds). Os motivos, digamos, são bastante explícitos na série e Otis é quem mais precisa de terapia nesta história.

Outro ponto dessa jornada é o amigo Eric. Ele tem um percurso bastante envolvente e importante para a narrativa. O rapaz gosta de vestir-se com roupas chamativas e maquiagem, mas ele precisa esconder suas vontades a fim de encaixar-se na cidadezinha e em sua família religiosa. Em um dos melhores episódios, o quinto, ele enfrenta o seu maior desafio, temer por sua integridade física apenas por expor quem ele é e vestir-se da forma que deseja. É tocante o caminho traçado por Eric de aceitação e confronto com o seu redor, assim como o caminho de Maeve.

Ela é a única personagem que já saiu do esquema de importar-se com o que outros pensam ao redor e, por isso, mais madura que todos os outros alunos. Por ter uma família disfuncional, a jovem aprendeu a virar-se sozinha, mas encontra em Otis e, posteriormente, no namorado Jackson (Kedar Williams-Stirling) suporte, ainda mais quando realiza um aborto, ainda no segundo episódio. O seriado destaca-se exatamente por ressaltar com seriedade esses fatores.

Podemos levemente compará-lo com 13 Reasons Why (2017 -), mas a grande diferença é que no seriado norte-americano todos os jovens estão tristes e amargurados, o ambiente é quase tóxico. No seriado britânico, as paisagens são encantadoras e a vida possui uma dinâmica mais alegre, mesmo que pacata. Além de personagens mais inspirados, Sex Education incentiva os desejos sexuais como naturais e saudáveis, já na obra estadunidense os personagens escondem suas pulsões e se resignam em culpa.

Por se levar a sério e construir o background de cada personagem, Sex Education torna-se realmente educativo, além de um agradável entretenimento. Apesar da ambientação bucólica, o seriado possui o tom assertivo comparado às comédias American Pie (1999) e Porky’s (1981), sendo atual e lidando com questões palpáveis para qualquer jovem de 16 anos, por exemplo, como a viralização de nudes.  

Com apenas oito episódios, Laurie Nunn mostrou a que veio e já conseguiu a renovação para a segunda temporada. Ainda que seja focado nos adolescentes, o seriado apresenta os adultos mais perdidos em suas questões e relacionamentos, tal como a mãe de Otis evitando passar mais de uma noite com a mesma pessoa. Do mesmo modo, os pais de Eric lidam com a sexualidade do filho acima de qualquer crença. São muitos pontos em aberto, ótimas atuações e, portanto, já começa a espera para as próximas temporadas.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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