quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Six Feet Under

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Poucas vezes tive tanta dificuldade em escrever um primeiro parágrafo sobre uma série como hoje, acho que meu desejo é sumarizar como a série sobre a qual vou falar hoje é importante e fundamental, arriscaria até dizer que foi algo que mudou a minha vida como poucas coisas que já assisti fizeram até hoje. Faz tempo que quero sentar e falar sobre ela, mas não é uma série para falar por falar.

Eu não gosto de usar termos enfáticos, então vou evitar dizer que ‘Six Feet Under’ é uma série obrigatória, mas não posso fugir de dizer que ela é fundamental. Com um roteiro introspectivo, Alan Ball conseguiu transformar uma série que é fúnebre desde o nome em uma celebração à vida, mesmo que isso se faça na sua forma mais crua e até um tanto cruel.



Transmitida pela HBO entre os anos de 2001 e 2005, poucas produções tiveram tanta credibilidade da emissora desde o princípio. Alan tornou-se uma figura carimbada após ganhar o Oscar de melhor roteiro original pelo filme Beleza Americana e criou ‘Six Feet Under’ como uma aparente forma de estancar as feridas do passado. Aos 13 anos ele e sua irmã sofreram um acidente de carro, e foi assim que ele a viu morrer diante de seus olhos, algo que o marcaria para sempre.

sixfeetunder_2

Assim como seu criador, a série trata a morte com uma sutileza ímpar. A trama se passa em torno da família Fisher, cujo patriarca – Nathaniel – é proprietário de uma funerária. Um de seus filhos, David, e sua esposa Ruth ajudam nos negócios. A ironia começa quando Nathaniel morre em um acidente de carro ao se distrair para pegar um cigarro para acender e ser arrastado por um ônibus.

Vou contar pra vocês o que está acontecendo com cada membro da família quando isso acontece: David está cuidando de um funeral. Ruth está cozinhando para a família, já que todos estariam reunidos para as festividades de fim de ano. Nate, o filho mais velho, estava em transando com uma desconhecida no aeroporto. Claire, a caçula, estava usando drogas com seus amigos. Afinal assim é a vida! Tudo está correndo seu curso natural e nós esquecemos que qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento.

Ao vermos a família junta, vem aquele choque. David e Ruth vivem instruindo as pessoas a ter um determinado decoro em ocasiões como essa, velando o corpo de seus entes queridos como se fosse uma cerimônia formal e os enterrando com naturalidade, sem apelo emocional. Claire e Nate são o oposto, mas não apenas por não verem a morte como um trabalho, eles sempre tentaram fugir e estar o mais longe possível de qualquer coisa relacionada ao assunto.

Dentro do piloto, somos apresentados a uma parte dos demônios pessoais de cada personagem. Nate saiu de casa cedo, era desprendido da família. David teve que ser o braço direito do seu pai na funerária, sem ter muitas escolhas. Claire sofria a síndrome da filha rejeitada e esquecida, com aquele complexo de adolescente que fica catando pretextos para ser rebelde. No meio disso tudo, todos se dão conta de que no fim sequer conheciam o próprio pai.

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Aprisionada no padrão da mãe altruísta, Ruth foi o tipo que sempre viveu em torno da família. Isso funcionava bem enquanto a família estava de pé, mas a base de tudo ruiu com a morte de seu marido. É nela que nasce um sentimento que muitos de nós temos quando alguém se vai. Diante da morte de Nathaniel, Ruth se desespera por achar que o marido pode vê-la agora como Deus a vê, ou seja, nenhum segredo ou ‘pecado’, nada que ela cometeu ou cometeria em vida poderia passar batido, sem ser visto pelos olhos dele.

O período de luto começa a se misturar com a sensação de arrependimento, com a ideia das coisas que poderiam ter sido e não foram e, acima de tudo, com a sensação de raiva e culpabilidade, onde você tenta jogar na pessoa que se foi a responsabilidade por todos os atos falhos e tudo que não aconteceu como previsto, tentando substituir a tristeza por raiva para pensar que, talvez, a vida será e teria sido melhor sem aquela pessoa.

Não apenas o piloto, mas a série toda, acordam os nossos sentimentos mais primitivos. Você está diante de uma série que te coloca diante dos seus próprios demônios, graças a um roteiro intimista e a total falta de pudor. As cenas de morte não são chocantes ou impactantes como as cenas da vida, ou seja, ‘Six Feet Under’ respeita o fato de que a vida, em todas suas complicadas formas, é muito mais cruel que a morte, que é retratada como uma irônica amiga que vem para te levar em momentos improváveis.

Você não precisa muito mais do que do piloto para sentir-se parte da família Fisher, e é isso que vai te deixar desesperado para devorar um episódio atrás do outro, pois você sempre vai terminar um episódio querendo saber o que vai acontecer na vida daquelas pessoas no seguinte. Não tem suspense e não tem pontas soltas, a série te prende pelo apego aos personagens e pelo quanto você certamente vai se identificar com algum – ou alguns – deles no decorrer da trama.

sixfeetunder_3

Todos os 63 episódios da série começam do mesmo modo, com uma morte. Novamente, cada uma delas é representada praticamente como uma ironia, mostrando que ninguém está blindado. Os falecimentos mais sensíveis, que envolvem crianças e idosos, por exemplo, são mostrados com muita sutileza. Como eu já alertei, as cenas pesadas da série são sobre a vida, e não sobre a morte.

Cada uma dessas passagens de alguém acabam se envolvendo de algum modo com os membros da família Fisher, talvez pelo fato de eles terem se humanizado um pouco mais depois da perda de Nathaniel, que volta e meia se ‘materializa’ pra eles também como uma forma de responder questionamentos e, de algum modo, ajudar os filhos a lidarem com seu luto e também com seus dramas pessoais.

Uma coisa profundamente interessante na série é quando você é colocado dentro da mente dos personagens, pois em alguns momentos vemos uma reação deles diante de algo – como eles gostariam que fosse – e vemos que aquilo não passa de um insight dentro da cabeça deles. Assim vamos tendo a permissão de conhecer um pouco mais do íntimo de tantas pessoas absurdamente complexas que nunca vamos conhecer integralmente.

Além de tudo, a série tem toques de humor simples e umas boas pitadas de humor negro que sempre caem bem. ‘Six Feet Under’ é imprevisível, assim como a vida é. Seus personagens são indecifráveis, assim como todos somos. Nada que eu já vi, na TV ou no cinema, chegou perto dos pés de SFU em retratar a vida.

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Em aspectos sociais, a série acabou se tornando gigante por sua exibição, que começou bem pouco antes dos atentados de 11 de Setembro, o que fez com que ‘Six Feet Under’ fosse praticamente um condutor do luto de uma sociedade consumida por aquele acontecimento. Talvez não seja em vão que ela foi uma das maiores audiências da HBO, o que acabou se refletindo em indicações e prêmios.

Mesmo depois de mais de 10 anos do término da série, ‘Six Feet Under’ se consagrou com uma obra impecável e atemporal, o que também nos deixa com uma sensação levemente retrógrada quando vemos que tantos assuntos que eram polêmicos quando a série foi lançada ainda são tabus hoje. Passando de religiosidade ao incesto, traição e homossexualidade, o seriado ainda nos trás medos que temos, como a solidão, o medo de viver uma vida sem nenhuma finalidade, de sermos invisíveis, de sermos esquecidos e, claro, o medo da morte. Nada passa despercebido pelo olhar do criador, que faz da costura do roteiro e da sequencia das cenas um modo de nos deixar pensando nos mistérios e nos próximos passos de cada um dos personagens. Um alerta: nem tudo é como parece ser.

Não espere por desfechos previsíveis ou aquela sensação de novela ou de séries onde as pessoas se desentendem e tudo parece seguir como antes. Estamos falando de uma obra que explora as rupturas, que nos leva aos extremos, que bagunça a nossa cabeça… Nada é feito para nos agradar, mas sim para mostrar que talvez é verdade que o inferno seja aqui, e que a morte é um momento de alívio para quem vai e serve apenas para deixar um azedo a mais na sequencia da existência de quem fica.

Perdi a conta de quantas vezes me peguei falando com a tela, do quanto senti as dores e alegrias daqueles personagens e de tanto que chorei naquela série, meu Deus! Cada episódio era uma lição e com cada lição vinha um questionamento de como mudar a minha vida para poder torna-la mais relevante, para espantar meus próprios fantasmas, ou aprender a lidar com eles. Você nunca termina um episódio se sentindo a mesma pessoa que começou a ver.

sixfeetunder_6

Rotulada pelo Wikipédia como uma comédia dramática de humor negro, mas ela não pode se prender a isso, assim como falar incessantemente sobre a série nunca será o suficiente para descrever a maravilha que ela é. Só sendo assistida e sentida nos mínimos detalhes ela pode ser compreendida.

Aclamada por crítica e público, a série foi simplesmente impecável e incapaz de entregar um episódio solto ou aquém das expectativas de quem começa a ver. Isso se refletiu também na sua series finale, que é considerada por muitos (inclusive por essa que vos fala) como a melhor de todos os tempos. Nenhum episódio final foi tão honroso e fiel a toda a construção de uma trama. E isso é de lavar a alma!

Se você foi um fã de Dexter e ficou decepcionado com o fim da série, aqui está sua chance de ver Michael Hall em uma atuação impecável e com um final que honra a grandeza do seu trabalho. Mesmo com alguns traços excêntricos em seu personagem, que até lembram um pouco do Dexter em si, Michael entrega um trabalho intimista e dá uma vida impecável a David, que jamais poderia ser feito por qualquer outro ator.

O elenco também conta com Frances Conroy, que vem ganhando destaque em vários episódios de ‘American Horror Story‘, mas já é uma figura conhecida dos fãs de sitcom desde que interpretou a mãe do Barney em ‘How I met your mother‘.

sixfeetunder_5

Vale fazer uma pausa para falar dela de modo específico, pois Ruth é uma das personalidades mais complexas da série e ela foi tecida com todo cuidado pela atriz, que levou um Globo de Ouro em 2003 pela verdadeira perfeição que fez nessa série.

Outros grandes atores como Peter Krause (Dirty Sexy Money e The lost Room), Lauren Ambrose, Rachel Griffiths e Jeremy Sisto contribuem para essa série onde nenhuma atuação é abaixo da média e nenhum segundo que passamos assistindo é perdido.

Fundamental para olhar a sociedade e, ainda mais, para nos levar a alguns lugares em nós mesmos que não somos muito fãs de observar, ‘Six Feet Under’ é uma série para a qual nem a maior das classificações é o suficiente. Uma obra impecável para quando a gente percebe que há coisas das quais não tem como fugirmos. Uma dela é de nós mesmos, a outra é o fim disso tudo. Tenho que dar 10, pois é o mais longe que posso levar, mas SFU é uma série 5 estrelas com um pezinho acima de qualquer outra que já foi coroada com essa nota.  Urgente de ser assistida o quanto antes.

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Eu não gosto de usar termos enfáticos, então vou evitar dizer que ‘Six Feet Under’ é uma série obrigatória, mas não posso fugir de dizer que ela é fundamental. Com um roteiro introspectivo, Alan Ball conseguiu transformar uma série que é fúnebre desde o nome em uma celebração à vida, mesmo que isso se faça na sua forma mais crua e até um tanto cruel.

Transmitida pela HBO entre os anos de 2001 e 2005, poucas produções tiveram tanta credibilidade da emissora desde o princípio. Alan tornou-se uma figura carimbada após ganhar o Oscar de melhor roteiro original pelo filme Beleza Americana e criou ‘Six Feet Under’ como uma aparente forma de estancar as feridas do passado. Aos 13 anos ele e sua irmã sofreram um acidente de carro, e foi assim que ele a viu morrer diante de seus olhos, algo que o marcaria para sempre.

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Assim como seu criador, a série trata a morte com uma sutileza ímpar. A trama se passa em torno da família Fisher, cujo patriarca – Nathaniel – é proprietário de uma funerária. Um de seus filhos, David, e sua esposa Ruth ajudam nos negócios. A ironia começa quando Nathaniel morre em um acidente de carro ao se distrair para pegar um cigarro para acender e ser arrastado por um ônibus.

Vou contar pra vocês o que está acontecendo com cada membro da família quando isso acontece: David está cuidando de um funeral. Ruth está cozinhando para a família, já que todos estariam reunidos para as festividades de fim de ano. Nate, o filho mais velho, estava em transando com uma desconhecida no aeroporto. Claire, a caçula, estava usando drogas com seus amigos. Afinal assim é a vida! Tudo está correndo seu curso natural e nós esquecemos que qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento.

Ao vermos a família junta, vem aquele choque. David e Ruth vivem instruindo as pessoas a ter um determinado decoro em ocasiões como essa, velando o corpo de seus entes queridos como se fosse uma cerimônia formal e os enterrando com naturalidade, sem apelo emocional. Claire e Nate são o oposto, mas não apenas por não verem a morte como um trabalho, eles sempre tentaram fugir e estar o mais longe possível de qualquer coisa relacionada ao assunto.

Dentro do piloto, somos apresentados a uma parte dos demônios pessoais de cada personagem. Nate saiu de casa cedo, era desprendido da família. David teve que ser o braço direito do seu pai na funerária, sem ter muitas escolhas. Claire sofria a síndrome da filha rejeitada e esquecida, com aquele complexo de adolescente que fica catando pretextos para ser rebelde. No meio disso tudo, todos se dão conta de que no fim sequer conheciam o próprio pai.

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Aprisionada no padrão da mãe altruísta, Ruth foi o tipo que sempre viveu em torno da família. Isso funcionava bem enquanto a família estava de pé, mas a base de tudo ruiu com a morte de seu marido. É nela que nasce um sentimento que muitos de nós temos quando alguém se vai. Diante da morte de Nathaniel, Ruth se desespera por achar que o marido pode vê-la agora como Deus a vê, ou seja, nenhum segredo ou ‘pecado’, nada que ela cometeu ou cometeria em vida poderia passar batido, sem ser visto pelos olhos dele.

O período de luto começa a se misturar com a sensação de arrependimento, com a ideia das coisas que poderiam ter sido e não foram e, acima de tudo, com a sensação de raiva e culpabilidade, onde você tenta jogar na pessoa que se foi a responsabilidade por todos os atos falhos e tudo que não aconteceu como previsto, tentando substituir a tristeza por raiva para pensar que, talvez, a vida será e teria sido melhor sem aquela pessoa.

Não apenas o piloto, mas a série toda, acordam os nossos sentimentos mais primitivos. Você está diante de uma série que te coloca diante dos seus próprios demônios, graças a um roteiro intimista e a total falta de pudor. As cenas de morte não são chocantes ou impactantes como as cenas da vida, ou seja, ‘Six Feet Under’ respeita o fato de que a vida, em todas suas complicadas formas, é muito mais cruel que a morte, que é retratada como uma irônica amiga que vem para te levar em momentos improváveis.

Você não precisa muito mais do que do piloto para sentir-se parte da família Fisher, e é isso que vai te deixar desesperado para devorar um episódio atrás do outro, pois você sempre vai terminar um episódio querendo saber o que vai acontecer na vida daquelas pessoas no seguinte. Não tem suspense e não tem pontas soltas, a série te prende pelo apego aos personagens e pelo quanto você certamente vai se identificar com algum – ou alguns – deles no decorrer da trama.

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Todos os 63 episódios da série começam do mesmo modo, com uma morte. Novamente, cada uma delas é representada praticamente como uma ironia, mostrando que ninguém está blindado. Os falecimentos mais sensíveis, que envolvem crianças e idosos, por exemplo, são mostrados com muita sutileza. Como eu já alertei, as cenas pesadas da série são sobre a vida, e não sobre a morte.

Cada uma dessas passagens de alguém acabam se envolvendo de algum modo com os membros da família Fisher, talvez pelo fato de eles terem se humanizado um pouco mais depois da perda de Nathaniel, que volta e meia se ‘materializa’ pra eles também como uma forma de responder questionamentos e, de algum modo, ajudar os filhos a lidarem com seu luto e também com seus dramas pessoais.

Uma coisa profundamente interessante na série é quando você é colocado dentro da mente dos personagens, pois em alguns momentos vemos uma reação deles diante de algo – como eles gostariam que fosse – e vemos que aquilo não passa de um insight dentro da cabeça deles. Assim vamos tendo a permissão de conhecer um pouco mais do íntimo de tantas pessoas absurdamente complexas que nunca vamos conhecer integralmente.

Além de tudo, a série tem toques de humor simples e umas boas pitadas de humor negro que sempre caem bem. ‘Six Feet Under’ é imprevisível, assim como a vida é. Seus personagens são indecifráveis, assim como todos somos. Nada que eu já vi, na TV ou no cinema, chegou perto dos pés de SFU em retratar a vida.

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Em aspectos sociais, a série acabou se tornando gigante por sua exibição, que começou bem pouco antes dos atentados de 11 de Setembro, o que fez com que ‘Six Feet Under’ fosse praticamente um condutor do luto de uma sociedade consumida por aquele acontecimento. Talvez não seja em vão que ela foi uma das maiores audiências da HBO, o que acabou se refletindo em indicações e prêmios.

Mesmo depois de mais de 10 anos do término da série, ‘Six Feet Under’ se consagrou com uma obra impecável e atemporal, o que também nos deixa com uma sensação levemente retrógrada quando vemos que tantos assuntos que eram polêmicos quando a série foi lançada ainda são tabus hoje. Passando de religiosidade ao incesto, traição e homossexualidade, o seriado ainda nos trás medos que temos, como a solidão, o medo de viver uma vida sem nenhuma finalidade, de sermos invisíveis, de sermos esquecidos e, claro, o medo da morte. Nada passa despercebido pelo olhar do criador, que faz da costura do roteiro e da sequencia das cenas um modo de nos deixar pensando nos mistérios e nos próximos passos de cada um dos personagens. Um alerta: nem tudo é como parece ser.

Não espere por desfechos previsíveis ou aquela sensação de novela ou de séries onde as pessoas se desentendem e tudo parece seguir como antes. Estamos falando de uma obra que explora as rupturas, que nos leva aos extremos, que bagunça a nossa cabeça… Nada é feito para nos agradar, mas sim para mostrar que talvez é verdade que o inferno seja aqui, e que a morte é um momento de alívio para quem vai e serve apenas para deixar um azedo a mais na sequencia da existência de quem fica.

Perdi a conta de quantas vezes me peguei falando com a tela, do quanto senti as dores e alegrias daqueles personagens e de tanto que chorei naquela série, meu Deus! Cada episódio era uma lição e com cada lição vinha um questionamento de como mudar a minha vida para poder torna-la mais relevante, para espantar meus próprios fantasmas, ou aprender a lidar com eles. Você nunca termina um episódio se sentindo a mesma pessoa que começou a ver.

sixfeetunder_6

Rotulada pelo Wikipédia como uma comédia dramática de humor negro, mas ela não pode se prender a isso, assim como falar incessantemente sobre a série nunca será o suficiente para descrever a maravilha que ela é. Só sendo assistida e sentida nos mínimos detalhes ela pode ser compreendida.

Aclamada por crítica e público, a série foi simplesmente impecável e incapaz de entregar um episódio solto ou aquém das expectativas de quem começa a ver. Isso se refletiu também na sua series finale, que é considerada por muitos (inclusive por essa que vos fala) como a melhor de todos os tempos. Nenhum episódio final foi tão honroso e fiel a toda a construção de uma trama. E isso é de lavar a alma!

Se você foi um fã de Dexter e ficou decepcionado com o fim da série, aqui está sua chance de ver Michael Hall em uma atuação impecável e com um final que honra a grandeza do seu trabalho. Mesmo com alguns traços excêntricos em seu personagem, que até lembram um pouco do Dexter em si, Michael entrega um trabalho intimista e dá uma vida impecável a David, que jamais poderia ser feito por qualquer outro ator.

O elenco também conta com Frances Conroy, que vem ganhando destaque em vários episódios de ‘American Horror Story‘, mas já é uma figura conhecida dos fãs de sitcom desde que interpretou a mãe do Barney em ‘How I met your mother‘.

sixfeetunder_5

Vale fazer uma pausa para falar dela de modo específico, pois Ruth é uma das personalidades mais complexas da série e ela foi tecida com todo cuidado pela atriz, que levou um Globo de Ouro em 2003 pela verdadeira perfeição que fez nessa série.

Outros grandes atores como Peter Krause (Dirty Sexy Money e The lost Room), Lauren Ambrose, Rachel Griffiths e Jeremy Sisto contribuem para essa série onde nenhuma atuação é abaixo da média e nenhum segundo que passamos assistindo é perdido.

Fundamental para olhar a sociedade e, ainda mais, para nos levar a alguns lugares em nós mesmos que não somos muito fãs de observar, ‘Six Feet Under’ é uma série para a qual nem a maior das classificações é o suficiente. Uma obra impecável para quando a gente percebe que há coisas das quais não tem como fugirmos. Uma dela é de nós mesmos, a outra é o fim disso tudo. Tenho que dar 10, pois é o mais longe que posso levar, mas SFU é uma série 5 estrelas com um pezinho acima de qualquer outra que já foi coroada com essa nota.  Urgente de ser assistida o quanto antes.

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