quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Small Axe – Antologia fílmica de Steve McQueen mergulha na vivência dos cidadãos negros da Inglaterra

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Nos últimos anos, a indústria cinematográfica se comprometeu, como um todo, a buscar novas vozes narrativas, novas histórias e novas visões de histórias que vinham sendo contada por um único viés. Enquanto importante ferramenta de articulação, muitas pessoas da indústria perceberam que as produções poderiam se voltar mais para o entendimento das identidades e promover o debate social, então, recentemente os espectadores estão sendo contemplados por produções que, entre outros temas, debatem o racismo de forma aberta, como a minissérie vencedora do Globo de Ouro de Melhor Ator, ‘Small Axe’, disponível no Brasil na plataforma da Globoplay.



Dividida em cinco episódios independentes e baseados em experiências reais, ‘Small Axe’ propõe um mergulho na vivência e na sobrevivência dos cidadãos pretos residentes na Inglaterra entre os anos de 1969 e 1982. O roteiro de Steve McQueen e Rebecca Lenkiewicz constrói cada episódio baseando-se em elementos, lugares ou personagens que contribuíram, de alguma maneira, para que a comunidade preta se sentisse mais em casa, se reconectasse com suas culturas e/ou conquistasse mais espaço e direitos em território londrino.

O primeiro filme é, sem dúvida, o melhor e mais impactante de todos – talvez por isso tenha uma duração maior que os demais: duas horas. Nele conhecemos ‘Mangrove’, um restaurante no coração de Notting Hill, cujo dono, Anthony (Darren Braithwaite) é um homem preto. Isso – e os frequentadores do restaurante, todos pretos – é o suficiente para que policiais como Pulley (Sam Spruell) inventasse desculpas para invadir o lugar e causar todo tipo de transtorno. Até o dia em que Darcus (Malachi Kirby) e Altheia (Letitia Wright), membros do Pantera Negra, decidem organizar um protesto pelos direitos dos frequentadores do restaurante, que acaba desencadeando na prisão e julgamento de nove pessoas. Baseado em história real.

Talvez para dar uma quebrada na tensão, o segundo filme é mais light, centrado numa legítima festa da comunidade em uma casa no subúrbio inglês. A história é só essa mesma: pessoas que vão a uma festa e se divertem. É uma produção acima de tudo musical, boa pra deixar rolando na tv num sábado à noite. Já o terceiro filme, protagonizado por John Boyega no papel de Leroy, aborda a história de um rapaz preto que, contrariando a família, decide entrar para a polícia pois acredita que, estando dentro, poderá mudar o sistema e proteger sua comunidade. É o episódio que rendeu o Globo de Ouro.

Dirigido por Steve McQueen, a minissérie fílmica traz um panorama bem de dentro do que é ser um cidadão preto em um país que, naquele momento, enfrentava lutas pela independência dos países africanos. Não era (e ainda não é) fácil ser imigrante em um país, e ‘Small Axe’ constrói um retrato bem real dessa sensação, mesclando a parte boa com as tensões político-raciais. Talvez apenas a ordem com que as histórias são contadas pudesse ter sido diferente, deixando o melhor e mais longo filme para o fim. É uma ótima produção, porém, sem grande orçamento para um marketing maciço e sem a ajuda do boca a boca que convença as pessoas assistirem, pode acabar se tornando uma dessas pérolas que ninguém assiste, simplesmente porque não sabiam que existiam.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Dividida em cinco episódios independentes e baseados em experiências reais, ‘Small Axe’ propõe um mergulho na vivência e na sobrevivência dos cidadãos pretos residentes na Inglaterra entre os anos de 1969 e 1982. O roteiro de Steve McQueen e Rebecca Lenkiewicz constrói cada episódio baseando-se em elementos, lugares ou personagens que contribuíram, de alguma maneira, para que a comunidade preta se sentisse mais em casa, se reconectasse com suas culturas e/ou conquistasse mais espaço e direitos em território londrino.

O primeiro filme é, sem dúvida, o melhor e mais impactante de todos – talvez por isso tenha uma duração maior que os demais: duas horas. Nele conhecemos ‘Mangrove’, um restaurante no coração de Notting Hill, cujo dono, Anthony (Darren Braithwaite) é um homem preto. Isso – e os frequentadores do restaurante, todos pretos – é o suficiente para que policiais como Pulley (Sam Spruell) inventasse desculpas para invadir o lugar e causar todo tipo de transtorno. Até o dia em que Darcus (Malachi Kirby) e Altheia (Letitia Wright), membros do Pantera Negra, decidem organizar um protesto pelos direitos dos frequentadores do restaurante, que acaba desencadeando na prisão e julgamento de nove pessoas. Baseado em história real.

Talvez para dar uma quebrada na tensão, o segundo filme é mais light, centrado numa legítima festa da comunidade em uma casa no subúrbio inglês. A história é só essa mesma: pessoas que vão a uma festa e se divertem. É uma produção acima de tudo musical, boa pra deixar rolando na tv num sábado à noite. Já o terceiro filme, protagonizado por John Boyega no papel de Leroy, aborda a história de um rapaz preto que, contrariando a família, decide entrar para a polícia pois acredita que, estando dentro, poderá mudar o sistema e proteger sua comunidade. É o episódio que rendeu o Globo de Ouro.

Dirigido por Steve McQueen, a minissérie fílmica traz um panorama bem de dentro do que é ser um cidadão preto em um país que, naquele momento, enfrentava lutas pela independência dos países africanos. Não era (e ainda não é) fácil ser imigrante em um país, e ‘Small Axe’ constrói um retrato bem real dessa sensação, mesclando a parte boa com as tensões político-raciais. Talvez apenas a ordem com que as histórias são contadas pudesse ter sido diferente, deixando o melhor e mais longo filme para o fim. É uma ótima produção, porém, sem grande orçamento para um marketing maciço e sem a ajuda do boca a boca que convença as pessoas assistirem, pode acabar se tornando uma dessas pérolas que ninguém assiste, simplesmente porque não sabiam que existiam.

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