domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica Sundance | Falling: Viggo Mortensen estreia na direção em tocante drama familiar

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Filme assistido durante o Festival de Sundance 2020

Os conflitos de gerações talvez sejam algumas das principais causas de rachaduras no seio familiar. Em um cenário contemporâneo onde as relações familiares se transformam, se adequam e readequam em ritmo acelerado, aquela certa simplicidade que reside na vida do campo parece ter se tornado muitas vezes uma memória antiga de um tempo quase inexistente. E em metrópoles onde o tempo não pára, assim como as pessoas, tentar enxergar o mundo ao redor pelo mesmo filtro sépia dos anos 50 e 60 já não faz mais sentido. E Falling busca fazer um diagnóstico dessa ruptura entre tempos, momentos e épocas, ao trazer uma conflituosa relação entre pai e filho. Pertencentes a duas gerações diferentes, ambos tentam navegar entre a truculência racista e homofóbica parental e a suavidade e sensibilidade de um filho que, embora exausto, não abre mão de seu papel de cuidar daquele que – bem ou mal – já cuidou dele.



Embora seja a estreia de Viggo Mortensen na direção, Falling não tem nenhum efeito catártico biográfico, como vez outra vemos em Hollywood. Como uma história contada por alguém que está de fora do círculo narrativo criado por ele mesmo, o drama familiar traz breves fragmentos semelhantes à sua pessoal trajetória, ao abordar os reflexos da demência. Tirando isso, a produção se apresenta como um retrato doméstico externo das durezas de ser criado em um contexto machista e racista, onde sua identidade de gênero não possui um espaço sadio para se desenvolver e mágoas de traumas familiares são nutridos quase que diariamente. E com essa base bem consolidada na trama, o longa se desenvolve entre flashes do passado e do presente, que se complementam a fim de fazer a audiência entender as origens dessa penosa relação.

Aqui, conhecemos um Lance Henriksen bem diferente, emanando uma agressividade e soberba que gera um desconforto absoluto na audiência. Sua falta de decoro e amor diante do seu filho revelam um homem intragável e insuportável, que domina o tempo de tela. Fazendo uma brilhante caracterização que mescla elementos da demência e uma personalidade impossível de lidar, o veterano brilha em cena da pior forma possível, promovendo em sua audiência um sentimento de enojo que não parece dar uma trégua se quer. Em contraste, Mortensen assume o papel do filho mais velho, um homem gay, bem resolvido e bem casado, que divide seu tempo entre o esposo, a filha e seu perturbado pai.

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Em Falling, inicialmente Mortensen aparece de forma serena até demais. Em uma atuação que parece lhe exigir muito menos que sua figura paterna em Capitão Fantástico lhe exigiu, ele perambula pela narrativa de forma muito singela, se destaca pouco em tela, sendo completamente absorvido por Henriksen, que rouba nossas atenções de forma inadvertida. Mas, assim como a trama cresce ao final de seu segundo ato, assim também Mortensen o faz, se entregando de forma mais apaixonante e dilacerada diante do público. E seu roteiro segue um caminho semelhante. Beirando o repetitivo em sua primeira metade, a narrativa parece caminhar com maior celeridade em sua segunda parte, ao destravar os mesmos conflitos já apresentados em tela, permitindo que um clímax de efeito ainda mais dramático e profundo se desenrole.

Com uma direção que exagera nos close-ups, o drama tenta trazer uma certa identidade direcional de Mortensen, mas falha em ser realmente autoral. Seguindo uma premissa que, em muitos momentos, é vinculada à mesma problemática de The Father, outra estreia do Festival de Sundance e que traz Anthony Hopkins no papel do patriarca, a produção não consegue se consolidar como uma obra cheia de identidade de técnica. Ainda assim, seu brilho permanece, ao conseguir exprimir com exatidão os dilemas naturais da velhice, as dificuldades de lidar com a demência e a responsabilidade social que nós, filhos das mais recentes gerações, temos em relação aos pais nascidos de outro tempo.

Explorando questões reais como o perdão, o amor incondicional, o respeito e a mutualidade no ambiente familiar, Falling é um drama imperfeito, assim como toda família. Mas trazendo uma delicadeza genuína e simbólica que expressa os efeitos conflitantes da demência, a produção consegue se sustentar com leveza e de quebra ainda apresenta um lado pouco conhecido de Mortensen, nos levando a contemplar o seu potencial como um cineasta que, ainda novato no ofício, tem muito para nos presentear.

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Embora seja a estreia de Viggo Mortensen na direção, Falling não tem nenhum efeito catártico biográfico, como vez outra vemos em Hollywood. Como uma história contada por alguém que está de fora do círculo narrativo criado por ele mesmo, o drama familiar traz breves fragmentos semelhantes à sua pessoal trajetória, ao abordar os reflexos da demência. Tirando isso, a produção se apresenta como um retrato doméstico externo das durezas de ser criado em um contexto machista e racista, onde sua identidade de gênero não possui um espaço sadio para se desenvolver e mágoas de traumas familiares são nutridos quase que diariamente. E com essa base bem consolidada na trama, o longa se desenvolve entre flashes do passado e do presente, que se complementam a fim de fazer a audiência entender as origens dessa penosa relação.

Aqui, conhecemos um Lance Henriksen bem diferente, emanando uma agressividade e soberba que gera um desconforto absoluto na audiência. Sua falta de decoro e amor diante do seu filho revelam um homem intragável e insuportável, que domina o tempo de tela. Fazendo uma brilhante caracterização que mescla elementos da demência e uma personalidade impossível de lidar, o veterano brilha em cena da pior forma possível, promovendo em sua audiência um sentimento de enojo que não parece dar uma trégua se quer. Em contraste, Mortensen assume o papel do filho mais velho, um homem gay, bem resolvido e bem casado, que divide seu tempo entre o esposo, a filha e seu perturbado pai.

Em Falling, inicialmente Mortensen aparece de forma serena até demais. Em uma atuação que parece lhe exigir muito menos que sua figura paterna em Capitão Fantástico lhe exigiu, ele perambula pela narrativa de forma muito singela, se destaca pouco em tela, sendo completamente absorvido por Henriksen, que rouba nossas atenções de forma inadvertida. Mas, assim como a trama cresce ao final de seu segundo ato, assim também Mortensen o faz, se entregando de forma mais apaixonante e dilacerada diante do público. E seu roteiro segue um caminho semelhante. Beirando o repetitivo em sua primeira metade, a narrativa parece caminhar com maior celeridade em sua segunda parte, ao destravar os mesmos conflitos já apresentados em tela, permitindo que um clímax de efeito ainda mais dramático e profundo se desenrole.

Com uma direção que exagera nos close-ups, o drama tenta trazer uma certa identidade direcional de Mortensen, mas falha em ser realmente autoral. Seguindo uma premissa que, em muitos momentos, é vinculada à mesma problemática de The Father, outra estreia do Festival de Sundance e que traz Anthony Hopkins no papel do patriarca, a produção não consegue se consolidar como uma obra cheia de identidade de técnica. Ainda assim, seu brilho permanece, ao conseguir exprimir com exatidão os dilemas naturais da velhice, as dificuldades de lidar com a demência e a responsabilidade social que nós, filhos das mais recentes gerações, temos em relação aos pais nascidos de outro tempo.

Explorando questões reais como o perdão, o amor incondicional, o respeito e a mutualidade no ambiente familiar, Falling é um drama imperfeito, assim como toda família. Mas trazendo uma delicadeza genuína e simbólica que expressa os efeitos conflitantes da demência, a produção consegue se sustentar com leveza e de quebra ainda apresenta um lado pouco conhecido de Mortensen, nos levando a contemplar o seu potencial como um cineasta que, ainda novato no ofício, tem muito para nos presentear.

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