quarta-feira, junho 19, 2024

Crítica | ‘Sweet Tooth’ chega ao fim com uma 3ª temporada que beira a perfeição

‘Sweet Tooth’ chegou ao catálogo da Netflix em 2021 e, em pouco tempo, transformou-se em uma das produções mais elogiadas da plataforma de streaming. Inspirada nos quadrinhos homônimos de Jeff Lemire, a série é ambientada em um futuro pós-apocalíptico em que uma doença conhecida como Flagelo varreu boa parte das pessoas e coincidiu com o nascimento de uma geração de crianças híbridas entre humanos e animais. Nesse complexo cosmos, acompanhamos a jornada de Gus (Christian Convery), um jovem menino-cervo que perde o pai e que é encontrado por um ex-jogador de futebol americano chamado Jepperd (Nonso Anozie) – que aposentou sua “carreira” de caçar híbridos para ajudá-lo a sobreviver e a encontrar a mãe.

Três anos depois, caminhamos para a temporada de encerramento de uma das jornadas mais honestas e impactantes da Netflix da melhor maneira possível. É claro que, considerando que este é o ciclo de encerramento, estávamos com altas expectativas e esperávamos nada além da perfeição – o que não acontece, considerando alguns deslizes cometidos ao longo dos oito episódios, principalmente no tocante ao ritmo e a certas sequências que se arrastam mais do que deveriam. Entretanto, no geral, a iteração é muito positiva e deixa saudades imediatas desde quando as primeiras cenas se desenrolam ao momento em que os créditos de conclusão sobrem nas telinhas. E, com a introdução ou a reintrodução de personagens-chave para a trama, é notável como o terceiro ciclo é o mais brutal de todos – no melhor sentido da palavra.

Sweet Tooth,Netflix

Após enfrentarem o General Abbott (Neil Sandilands) no final da temporada anterior e darem adeus a Aimee (Dania Ramirez), que morreu após ser contaminada com o Flagelo, Gus, Jepper, Becky (Stefania LaVie Owen) e Wendy (Naledi Murray) deixam seus amigos e conhecidos a salvo em uma reserva e partem em uma missão perigosa que os levará ao Alasca para encontrar a mãe de Gus, Birdie (Amy Seimetz), que continua a pesquisar sobre uma possível cura. Mas isso não é tudo: Gus parece receber um chamado para voltar ao lugar onde tudo começou – o Sangue da Terra, uma caverna quase enterrada pelo gelo de onde o vírus do Flagelo escapou e destruiu o planeta. Como podemos imaginar, é a partir de agora que cada um dos personagens é forçado em um amadurecimento mandatório que ditará o futuro do mundo e que premedita sacrifícios dolorosos, mas necessários.

Os capítulos inéditos bebem consideravelmente da fonte da jornada do herói – mas não das etapas primárias em que o protagonista ainda está tentando entender o mundo em que vive ou os obstáculos que enfrentarão. Gus, na verdade, já passou por muita coisa e sabe que o caminho é mais árduo do que imaginava. Além da iminente destruição completa da humanidade com a nova variante do Flagelo (a variante do fim do mundo, como fica conhecida), ele se vê no centro de uma conspiração mortal que envolve a temível e sanguinária Helen Zhang (Rosalind Chao), uma das senhoras da guerra que é responsável pelo controle da agropecuária e da energia restantes nos Estados Unidos (uma mulher impiedosa que quer encontrar Gus e fazer o possível e o inimaginável para encontrar a cura através do menino-cervo).

Menino com chifres em cenário de neve.

Como bem nos lembramos, Gus foi a primeira criança híbrida a nascer após a liberação do Flagelo e, por essa razão, carrega um alvo nas costas. Zhang é acompanhada da filha mais velha, Rosie (Kelly Marie Tran), mãe de quatro híbridos lobos e que é manipulada pela própria mãe a cometer atos condenáveis para um “bem comum” (se é que podemos usar esse termo). Ambas as atrizes rendem-se de corpo e alma às personagens que interpretam e fazem trabalhos magníficos, colocando-as par a par com um elenco que aprendemos a amar desde os primeiros capítulos. Seimetz, tendo mais tempo de tela neste ciclo, é outra adição muito bem-vinda, juntando-se à Cara Gee e a Ayazhan Dalabayeva como Siana e Nuka, duas de suas aliadas mais próximas.

Convery é o nosso foco de maior atenção e demonstra um crescimento considerável desde sua estreia três anos atrás, conseguindo transformar os diálogos mais clichês previsíveis em discursos poderosos e recheados de uma sólida dramaticidade que aumenta sua complexidade. Da mesma maneira, Adeel Akhtar apresenta uma psique mais diversa ao Dr. Aditya Singh, que perdeu a esposa no ciclo predecessor e compartilha das mesmas visões de Gus – mas não sabe como navegar por elas a não ser pelo objetivo de erradicar o vírus, custe o que custar (e nada disso seria possível sem a nivelada performance do ator). E falar de Anozie parece redundante a esse ponto da narrativa, visto que rouba os holofotes a todo instante.

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Enquanto beira a perfeição, há pontos que não foram pensados com tanta cautela – mas que não têm força o suficiente para ofuscar as ótimas investidas. Há escolhas técnicas e criativas que, por vezes, se arrastam em repetições cansativas e que mancham o ritmo do enredo; há três linhas principais a serem acompanhadas e, no final das contas, todas convergem a fim de amarrar as pontas soltas e concluir. Porém, se pararmos para pensar, alguns acontecimentos teriam o mesmo resultado se elaborados com um pouco menos de demora.

Não deixe de assistir:

A 3ª temporada de ‘Sweet Tooth’ é o que queríamos para uma das sagas mais adoradas da Netflix e encerra uma potente aventura de maneira soberba. Acompanhar a jornada de Gus foi um dos melhores presentes oferecidos pela plataforma de streaming e, conforme nos aproximamos dos segundos finais, não podemos deixar de sentir um pungente gostinho agridoce que nos faz querer recomeçar tudo de novo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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