M. Night Shyamalan é um dos diretores mais inventivos de Hollywood. Desde que lançou O Sexto Sentido (1999) há 22 anos, os espectadores sempre esperam que seus filmes tragam reviravoltas de cair o queixo. Às vezes funciona, às vezes não. Mas isso nunca o impediu de tentar novamente.
Apesar de Tempo (Old) ter uma pegada diferente dos filmes que o diretor costuma lançar, tudo que os fãs dele espera está aqui: suspense, ficção científica, drama… e é claro, sua famosa marca: o plot twist final. Mas como todo filme que traz ideia mirabolante, este também vai polarizar opiniões.
A produção é inspirada na graphic novel francesa ‘Castelo de Areia‘, escrita por Pierre Oscar Levy, com arte de Frederik Peeters. Mas o roteiro do diretor consegue adaptá-la para que a história caiba nas telonas.
A trama acompanha um casal que está passando por um momento difícil, o que os levou a uma viagem com os filhos para um resort enquanto tentam resolver seus problemas. Chegando no local, eles são convidados pelo gerente a curtirem uma praia isolada – e eles não titubeiam a aceitar o convite. Quando chegam na bela praia paradisíaca, percebem que não existe sinal de celular e eventos estranhos começam a acontecer.
Com um grupo de desconhecidos, a histeria toma conta da viagem quando eles encontram um corpo. As crianças começam a agir de forma estranha, com um apetite desenfreado. O sonho da viagem perfeita logo começa a se tornar um pesadelo quando eles descobrem que estão presos no local, e o Tempo está passando rapidamente. Literalmente, rapidamente. Eles estão envelhecendo anos a cada hora que passa.
A mensagem do diretor é clara: o nosso bem mais precioso é o Tempo. E devíamos curti-lo da melhor maneira possível, apesar dos problemas que nos rodeiam. Mas é claro que Shyamalan passa essa mensagem da maneira mais obscura e sombria possível, enquanto ele nos assusta com momentos de tensão absurdos.
Os dois primeiros terços do filme, que mostram os personagens entrando em histeria coletiva enquanto descobrem que estão envelhecendo, são geniais. O diretor consegue passar todo o suspense necessário e ainda trazer momentos extremamente surreais que causam uma sensação de desconforto na audiência.
É o bom e velho Shyamalan em ação, fazendo com que o público entre em paranoia junto com os personagens do filme. E ele é bem sucedido no que se propõe.
Apesar da trama inteligente e das reviravoltas interessantes, o grande problema do roteiro é não explorar devidamente seus personagens. Com alguns dialogos pouco inspirados, resta ao elenco trazer suas melhores atuações. Gael García Bernal, Rufus Sewell, Ken Leung, Abbey Lee e Alex Wolff roubam a cena. Eles conseguem trazer toda a dramaticidade e desespero que seus personagens pedem.
Porém, a reviravolta final pode decepcionar algumas pessoas. Em suas tentativas de sempre chocar os espectadores, Shyamalan cria um plot twist que não funciona tão bem. Alguns espectadores já vão desconfiar o que está por vir, e quando a grande revelação é feita, o diretor falha na execução. Todo o suspense e desespero se torna um melodrama que não vai agradar a todos.
Mas, como dizem, o que vale é a jornada e não o destino final. Os momentos em que o filme se passa na praia são realmente desesperadores, e parecem sair de um episódio de Twilight Zone. E sim, temos algumas cenas extremamente gores que podem chocar pela sua violência gráfica.
Se você gosta de um bom suspense, Tempo provavelmente vai te entreter. Mas já vai esperando ser surpreendido pelo final. Ou não.