domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Tenet

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O lema de vida de Christopher Nolan deveria ser a parlenda “O tempo perguntou pro tempo, quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo, que o tempo tem o tempo que o tempo tem.”.

Praticamente toda a sua filmografia tem ligação com o tempo. Seja o do esquecimento em ‘Amnésia‘; do stress e da angústia em ‘Insônia‘; da iminência em ‘A Origem‘ e ‘Dunkirk‘; e da culpa e distanciamento em ‘Interestelar‘.



Em ‘Tenet‘, Nolan mistura elementos de suas obras anteriores e utiliza o tempo como uma bomba-relógio que pode definir o futuro do mundo, criando um filme de espionagem com toda a ação mirabolante em cenários reais que o diretor ama criar (e tem cacife para bancar).

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E esse cacife justificou vários meses de discussão se o filme estrearia nos cinemas mesmo durante um ano como 2020, com a pandemia de COVID-19 ainda matando milhares de pessoas diariamente. O diretor dizia que o filme deveria ser visto na tela grande, mas não defendia um adiamento a longo prazo. Ele queria a estreia logo, defendendo que o sucesso do filme ajudaria os exibidores. Muitos criticaram a atitude de Nolan, mas a Warner, depois de algumas remarcações da data, decidiu prosseguir com o lançamento nos cinemas. E aqui estamos, com ‘Tenet‘ sendo um dos primeiros filmes com larga distribuição após o início da pandemia.

Sem entrar em SPOILERS, a trama gira em torno do personagem de John David Washington, que tem que salvar o mundo de uma Terceira Guerra Mundial e que descobre a existência de uma tecnologia de reversão (nada de viagem no tempo) que permite andar na linha temporal ao contrário.

Logo de cara, Nolan mostra o poder que tem em suas mãos para captar dinheiro da Warner Bros. A cena em questão, um ataque a uma ópera, com centenas de figurantes e explosões, deixa evidente o orçamento de mais de 200 milhões de dólares. E ‘Tenet‘ tem diversos momentos que empolgam pelo seu realismo e os efeitos práticos. É interessante (e empolgante) ver os personagens em paisagens reais, sem o fundo verde que salta aos olhos a qualquer sinal de renderização ou iluminação mal pensada. Perseguições, tiroteios, prédios sendo escalados, explosões, tudo que está lá, enche a tela e é apresentado em um volume altíssimo. O efeito de reversão é fantástico, cria uma ação imprevisível, com movimentos que não podemos prever. Destaque para a cena do aeroporto e toda a sequência final.

Acostumado a dirigir grandes nomes, entre eles Al Pacino, Robin Williams, Liam Neeson, Christian Bale, Leonardo DiCaprio, Hugh JackmanNolan acerta mais uma vez nas escalações, dessa vez contando com nomes mais novos da indústria como o já citado John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki, Aaron Taylor-Johnson, Himesh Patel e os veteranos Kenneth Branagh e, mais uma vez, Michael Caine.

O carisma do trio principal é um dos grandes destaques do filme. Washington consegue segurar muito bem o protagonismo, criando um charme de agente especial e mostrando força nas cenas de ação e luta. Pattinson comprova (mais uma vez!) que é um dos grandes nomes do cinema atual. Em uma atuação mais leve do que seus últimos papéis, o próximo Bruce Wayne também faz bonito nos momentos de ação, assim como Debicki, que tem uma atuação sólida e ganha bastante destaque nos momentos finais. Já Kenneth parece mais um vilão de filme do 007 antigo, com um sotaque russo carregado e momentos vilanescos que fogem do tom realista do filme.

Dito isso, é preciso falar que o filme não é uma obra perfeita. Nolan parece sofrer do mesmo mal que M. Night Shyamalan: a expectativa. Assim como todo mundo esperava o final surpreendente de Shyamalan, os filmes de Christopher Nolan já estreiam com uma aura de obra-prima-revolucionária-do-cinema, que nem sempre é real. Em ‘Tenet‘, a busca pelo complexo, usando conceitos de física e entropia, só complicam uma coisa que deveria ser simples: o roteiro de um filme de espionagem.

O mesmo aconteceu com ‘Interestelar‘ e suas aulas sobre física em cada cena, com a tentativa de criar uma trama mirabolante para ‘O Cavaleiro das Trevas Ressurge‘, por exemplo. Ao buscar essa complexidade, Nolan anda no fio da faca: seus fãs amam e o consideram o melhor da atualidade, mas quando o diretor tenta algo mais simples, como ‘Dunkirk‘, torcem o bico. Já uma outra galera torce o nariz para seus ‘gimmicks‘ e o consideram egocêntrico demais. É preciso achar um balanço entre criar suas tramas ‘geniais’ e fazer o arroz com feijão.

A trilha sonora de Ludwig Göransson é escandalosa demais, incomoda e em muitos momentos, tira a atenção do que estamos vendo na tela. É uma barulheira o tempo todo. Sim, o tempo todo a música fica tocando e tentando criar um momento de tensão maior que o antecessor. Aí começam as explosões, tiros e ela continua alta, batendo lá no fundo da nossa cabeça. É um trabalho que lembra muito o que Hans Zimmer fazia ao trabalhar com Nolan, mas de uma forma mais moderna.

Tenet‘ é tudo o que um fã de Christopher Nolan espera de uma obra do diretor. A trama, cenas de ação visualmente impressionantes, e aqui o diretor tem algumas de suas melhores, um grande elenco, uma estética bacana e um baita filme pipoca de ‘verão’.

Com toda certeza, se não estivéssemos em tempos de COVID, o filme faturaria muita grana. Mas também estão lá as explicações em excesso, os diálogos que beiram o brega (tem uma fala do John David Washington mais para o fim que é extremamente piegas) e a ‘necessidade’ de ser genial. Se isso é bom ou ruim, isso depende de qual lado do vidro você está: os que amam ou os que amam odiar o Nolan.

 

* Filme visto em Vancouver, no Canadá, em uma sala de cinema com ocupação reduzida, poltronas separadas para garantir o distanciamento social, uso obrigatório de máscara facial e aumento do intervalo entre as sessões para higienização.

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Praticamente toda a sua filmografia tem ligação com o tempo. Seja o do esquecimento em ‘Amnésia‘; do stress e da angústia em ‘Insônia‘; da iminência em ‘A Origem‘ e ‘Dunkirk‘; e da culpa e distanciamento em ‘Interestelar‘.

Em ‘Tenet‘, Nolan mistura elementos de suas obras anteriores e utiliza o tempo como uma bomba-relógio que pode definir o futuro do mundo, criando um filme de espionagem com toda a ação mirabolante em cenários reais que o diretor ama criar (e tem cacife para bancar).

E esse cacife justificou vários meses de discussão se o filme estrearia nos cinemas mesmo durante um ano como 2020, com a pandemia de COVID-19 ainda matando milhares de pessoas diariamente. O diretor dizia que o filme deveria ser visto na tela grande, mas não defendia um adiamento a longo prazo. Ele queria a estreia logo, defendendo que o sucesso do filme ajudaria os exibidores. Muitos criticaram a atitude de Nolan, mas a Warner, depois de algumas remarcações da data, decidiu prosseguir com o lançamento nos cinemas. E aqui estamos, com ‘Tenet‘ sendo um dos primeiros filmes com larga distribuição após o início da pandemia.

Sem entrar em SPOILERS, a trama gira em torno do personagem de John David Washington, que tem que salvar o mundo de uma Terceira Guerra Mundial e que descobre a existência de uma tecnologia de reversão (nada de viagem no tempo) que permite andar na linha temporal ao contrário.

Logo de cara, Nolan mostra o poder que tem em suas mãos para captar dinheiro da Warner Bros. A cena em questão, um ataque a uma ópera, com centenas de figurantes e explosões, deixa evidente o orçamento de mais de 200 milhões de dólares. E ‘Tenet‘ tem diversos momentos que empolgam pelo seu realismo e os efeitos práticos. É interessante (e empolgante) ver os personagens em paisagens reais, sem o fundo verde que salta aos olhos a qualquer sinal de renderização ou iluminação mal pensada. Perseguições, tiroteios, prédios sendo escalados, explosões, tudo que está lá, enche a tela e é apresentado em um volume altíssimo. O efeito de reversão é fantástico, cria uma ação imprevisível, com movimentos que não podemos prever. Destaque para a cena do aeroporto e toda a sequência final.

Acostumado a dirigir grandes nomes, entre eles Al Pacino, Robin Williams, Liam Neeson, Christian Bale, Leonardo DiCaprio, Hugh JackmanNolan acerta mais uma vez nas escalações, dessa vez contando com nomes mais novos da indústria como o já citado John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki, Aaron Taylor-Johnson, Himesh Patel e os veteranos Kenneth Branagh e, mais uma vez, Michael Caine.

O carisma do trio principal é um dos grandes destaques do filme. Washington consegue segurar muito bem o protagonismo, criando um charme de agente especial e mostrando força nas cenas de ação e luta. Pattinson comprova (mais uma vez!) que é um dos grandes nomes do cinema atual. Em uma atuação mais leve do que seus últimos papéis, o próximo Bruce Wayne também faz bonito nos momentos de ação, assim como Debicki, que tem uma atuação sólida e ganha bastante destaque nos momentos finais. Já Kenneth parece mais um vilão de filme do 007 antigo, com um sotaque russo carregado e momentos vilanescos que fogem do tom realista do filme.

Dito isso, é preciso falar que o filme não é uma obra perfeita. Nolan parece sofrer do mesmo mal que M. Night Shyamalan: a expectativa. Assim como todo mundo esperava o final surpreendente de Shyamalan, os filmes de Christopher Nolan já estreiam com uma aura de obra-prima-revolucionária-do-cinema, que nem sempre é real. Em ‘Tenet‘, a busca pelo complexo, usando conceitos de física e entropia, só complicam uma coisa que deveria ser simples: o roteiro de um filme de espionagem.

O mesmo aconteceu com ‘Interestelar‘ e suas aulas sobre física em cada cena, com a tentativa de criar uma trama mirabolante para ‘O Cavaleiro das Trevas Ressurge‘, por exemplo. Ao buscar essa complexidade, Nolan anda no fio da faca: seus fãs amam e o consideram o melhor da atualidade, mas quando o diretor tenta algo mais simples, como ‘Dunkirk‘, torcem o bico. Já uma outra galera torce o nariz para seus ‘gimmicks‘ e o consideram egocêntrico demais. É preciso achar um balanço entre criar suas tramas ‘geniais’ e fazer o arroz com feijão.

A trilha sonora de Ludwig Göransson é escandalosa demais, incomoda e em muitos momentos, tira a atenção do que estamos vendo na tela. É uma barulheira o tempo todo. Sim, o tempo todo a música fica tocando e tentando criar um momento de tensão maior que o antecessor. Aí começam as explosões, tiros e ela continua alta, batendo lá no fundo da nossa cabeça. É um trabalho que lembra muito o que Hans Zimmer fazia ao trabalhar com Nolan, mas de uma forma mais moderna.

Tenet‘ é tudo o que um fã de Christopher Nolan espera de uma obra do diretor. A trama, cenas de ação visualmente impressionantes, e aqui o diretor tem algumas de suas melhores, um grande elenco, uma estética bacana e um baita filme pipoca de ‘verão’.

Com toda certeza, se não estivéssemos em tempos de COVID, o filme faturaria muita grana. Mas também estão lá as explicações em excesso, os diálogos que beiram o brega (tem uma fala do John David Washington mais para o fim que é extremamente piegas) e a ‘necessidade’ de ser genial. Se isso é bom ou ruim, isso depende de qual lado do vidro você está: os que amam ou os que amam odiar o Nolan.

 

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