J.R.R. Tolkien não é considerado um dos escritores mais geniais da literatura por qualquer motivo: afinal, ele é responsável por trazer à vida o que podemos considerar como o maior panteão fantástico de todos os tempos, ‘O Senhor dos Anéis’, estendendo essa impecável mitologia para inúmeras narrativas paralelas que continuam a colecionar fãs até mesmo nos dias de hoje. E, após uma adaptação cinematográfica que fez um enorme sucesso de crítica e de público, levando para casa inclusive diversos prêmios do Oscar – bem como uma trilogia derivada intitulada ‘O Hobbit’ -, fomos convidados a retornar para esse cosmos exuberante com a série ‘Os Anéis de Poder’.
E, com a 2ª temporada a todo vapor, não poderíamos estar mais ansiosos para ver o que o time criativo por trás da atração estava nos preparando após uma boa iteração de estreia (mas que, por alguma razão, não agradou o público por direcionar nossa atenção para outros aspectos da narrativa). Os três primeiros episódios do novo ciclo, dessa forma, nos reapresentaram à série de maneira aplaudível e focando essencialmente em um melancólico melodrama que colocou cada um dos protagonistas enfrentando as consequências do season finale – e, após deixar que os arcos tivessem tempo o bastante para se desenrolarem de forma calma e sem se valer das problemáticas pressas da iteração predecessora, somos convidados a, de fato, mergulhar nas tramoias e artimanhas que nos aguardam.
O quarto capítulo, intitulado “Eldest”, se inicia com a comitiva liderada por Elrond (Robert Aramayo), e que traz Galadriel (Morfydd Clark) como tenente, saindo de Lindon e viajando em direção a Eregion para encontrar Celebrimbor (Charles Edward) e alertá-lo das investidas de Sauron (Charlie Vickers) para convencê-lo a fazer mais Anéis de Poder e, assim, continuar com seu maligno plano de conquistar a Terra-média. Porém, Elrond não confia totalmente em Galadriel, acreditando que ela está sendo corrompida por Sauron através do Anel que porta – enquanto a elfa, por sua vez, tem certeza de que pode usar o poder imbuído no objeto para salvar aqueles que ama e que deve proteger. E, nesse clima de desconfiança, o grupo se torna presa fácil para o ataque das forças das trevas.
Em outro espectro, Arondir (Ismael Cruz Córdova) continua em busca de Theo (Tyroe Muhafidin), que foi raptado no final do terceiro episódio por algo ou alguém misterioso. Unindo-se a Isildur (Maxim Baldry) e à presença de Estrid (Nia Towle), uma humana que, na verdade, foi forçada a trabalhar com Adar (Sam Hazeldine) e seus asseclas e que tinha planos de atrair Arondir até uma armadilha, o elfo mantém sua promessa para a falecida amante em proteger seu filho e, no meio do caminho, descobre que os Orcs continuam a causar caos por onde passam a mando de seu chefe – desenterrando segredos que serão utilizados nos próximos episódios.
Por fim, temos a aguardada estreia de Rory Kinnear como Tom Bombadil, um dos personagens mais excêntricos e memoráveis do panteão de Tolkien, cujo caminho é cruzado pelo Estranho (Daniel Weyman) em sua andança em busca de Nori (Markella Kavenagh) e Poppy (Megan Richards), que sumiram após o confronto entre o trio e um grupo de mercenários a mando do Mago Sombrio (Ciarán Hinds). Nori e Poppy, em contraposição, são levadas a um vilarejo habitado por Grados – entendendo que eles e os Pés-Pequenos têm uma longa história que pode uni-los frente ao desejo de encontrar um lar e a tão sonhada paz.
Seguindo os passos da semana passada, o enredo é centrado em três núcleos principais, o que dá tempo para que o roteiro se desenrole em um ritmo mais concentrado e menos jogado, por assim dizer – e, até o momento, as coisas funcionando dentro de suas restrições à medida que cultivam nossas expectativas para os ápices da temporada, que já começam a dar as caras aqui. Louise Hooper faz um trabalho considerável em nos guiar pelas crescentes atribulações da Terra-média e se junta a Sanaa Hamri para as coreografias e as movimentações mais complexas – considerando a carreira de Hamri como diretora de videoclipes musicais e seu tato para as sequências de batalha (incluindo um maior destaque a Galadriel como a guerreira que se apresentou na primeira temporada).
É claro que a iteração não é livre de obstáculos, como alguns diálogos fracos que permeiam a interação dos personagens; todavia, a química do elenco e a entrega performática dos atores são fortes o suficiente para nos carregar por esses eventuais deslizes, mostrando lados do universo de Tolkien que ainda não haviam aparecido na atração e que, de certa maneira, premeditam os eventos de ‘O Hobbit’ e de ‘O Senhor dos Anéis’, por assim dizer. Conforme as camadas se tornam mais intrincadas e complexas, é necessário uma participação mais ativa do público – e, talvez, essa necessidade de não desviar a atenção de cada um dos mínimos detalhes seja algo que ainda incomode os espectadores, principalmente os recém-chegados a esse cosmos.
O quarto episódio da 2ª temporada de ‘Anéis de Poder’ se mantém firme à qualidade dos capítulos anteriores e nos instiga com acontecimentos inesperados e chocantes que cimentam a trajetória para um clímax bem-vindo e aguardado por todos que vêm acompanhando essa história até então.