sábado , 7 dezembro , 2024

Crítica | Tesouro – Pai e Filha Retornam à Polônia em Emocionante Filme de Resgate Identitário

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Para que a gente consiga entender a nós mesmos, é preciso conhecermos nossas raízes: de onde viemos, de onde veio nossa família, quais são os costumes e características que nos marcam, nos fazem pertencer a um grupo. Muitos de nós desconhece suas próprias raízes devido a diversos processos históricos – guerras, invasões, disputas que fizeram com que documentos, registros, fotos e outros elementos fossem apagados, destruídos, sumidos com o tempo. Assim, sem elementos, as pessoas não conseguem provar suas origens e, consequentemente, não conseguem entender e seguir com suas próprias pernas as histórias que precisam percorrer. Esse é o mote do filme ‘Tesouro’, que chega a partir de amanhã ao circuito exibidor brasileiro.

Tesouro



Ruth (Lena Dunham) é uma jornalista estadunidense divorciada que, ao se ver nesse ponto de sua vida, decide embarcar em uma viagem de autodescobrimento. Mais ainda: decide viajar à Polônia para conhecer os locais de onde vieram seus pais, fugidos da Alemanha nazista na época da guerra. Enquanto Ruth quer ir a fundo nos detalhes históricos sobre esses eventos, seu pai, Edek (Stephen Fry), decide acompanhá-la por não querer vê-la sozinha na jornada, mas, no fundo, ele mesmo não quer estar fazendo aquela viagem. Assim, enquanto Ruth escolhe os melhores hotéis e contrata guias de turismo para explicar as histórias dos locais, Edek acaba fazendo de tudo para sabotar a viagem, o que acaba gerando situações proporcionalmente cômicas e doloridas para ambos.

Tesouro’ é baseado numa história real, mas, também poderia ser baseado em muitos desejos reais. Ruth é uma personagem judia que decide, mais do que visitar o país natal de seus pais, ela quer conhecer o contexto histórico-social em que seus pais cresceram, se conheceram e em que condições eles sobreviveram durante a guerra. Ela é obcecada com histórias desse tempo, em contraposição ao seu pai, um homem na faixa dos setenta anos, bem-humorado que não quer mais reviver nenhuma memória daquele tempo, afinal, tudo daquela época o faz sofrer muito.

Tesouro

Essa é a grande sacada do roteiro de Julia von Heinz, John Quester e Lily Brett: construir um encontro geracional de personagens que se amam, mas que têm motivações extremamente opostas, o que acaba causando não só o grande conflito do filme, mas também provoca situações tão cômicas quanto tristes. E para isso, todo e qualquer elemento inserido no roteiro, mesmo o mais bobo, acaba fazendo sentido mais pra frente no enredo, e toda vez que um desses elementos é explicado na trama o coração do espectador acaba dando uma encolhida, pois é aquele momento em que somos trazidos de volta àquela realidade macabra da guerra e do Holocausto.

Com muito respeito e sensibilidade, e sem carregar no drama, a diretora Julia von Heinz faz uso dos elementos da comédia para imprimir humor em situações extremamente nervosas e, de certa forma, constrangedoras. Assim, nem pai nem filha são cem por cento impunes, pois ambos têm razão nas suas ações, e a harmonia com que os atores tecem a relação parental faz com que haja naturalidade nas reações dos personagens, principalmente nos momentos de maior tensão.

Dolorido, emocionante e catártico, ‘Tesouro’ mostra que, por mais que as feridas do passado doam, é preciso falar sobre elas para que elas possam finalmente sarar com as gerações atuais, de modo que, entendendo, não sejam mais repetidas.

Tesouro

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Para que a gente consiga entender a nós mesmos, é preciso conhecermos nossas raízes: de onde viemos, de onde veio nossa família, quais são os costumes e características que nos marcam, nos fazem pertencer a um grupo. Muitos de nós desconhece suas próprias raízes devido a diversos processos históricos – guerras, invasões, disputas que fizeram com que documentos, registros, fotos e outros elementos fossem apagados, destruídos, sumidos com o tempo. Assim, sem elementos, as pessoas não conseguem provar suas origens e, consequentemente, não conseguem entender e seguir com suas próprias pernas as histórias que precisam percorrer. Esse é o mote do filme ‘Tesouro’, que chega a partir de amanhã ao circuito exibidor brasileiro.

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Ruth (Lena Dunham) é uma jornalista estadunidense divorciada que, ao se ver nesse ponto de sua vida, decide embarcar em uma viagem de autodescobrimento. Mais ainda: decide viajar à Polônia para conhecer os locais de onde vieram seus pais, fugidos da Alemanha nazista na época da guerra. Enquanto Ruth quer ir a fundo nos detalhes históricos sobre esses eventos, seu pai, Edek (Stephen Fry), decide acompanhá-la por não querer vê-la sozinha na jornada, mas, no fundo, ele mesmo não quer estar fazendo aquela viagem. Assim, enquanto Ruth escolhe os melhores hotéis e contrata guias de turismo para explicar as histórias dos locais, Edek acaba fazendo de tudo para sabotar a viagem, o que acaba gerando situações proporcionalmente cômicas e doloridas para ambos.

Tesouro’ é baseado numa história real, mas, também poderia ser baseado em muitos desejos reais. Ruth é uma personagem judia que decide, mais do que visitar o país natal de seus pais, ela quer conhecer o contexto histórico-social em que seus pais cresceram, se conheceram e em que condições eles sobreviveram durante a guerra. Ela é obcecada com histórias desse tempo, em contraposição ao seu pai, um homem na faixa dos setenta anos, bem-humorado que não quer mais reviver nenhuma memória daquele tempo, afinal, tudo daquela época o faz sofrer muito.

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Essa é a grande sacada do roteiro de Julia von Heinz, John Quester e Lily Brett: construir um encontro geracional de personagens que se amam, mas que têm motivações extremamente opostas, o que acaba causando não só o grande conflito do filme, mas também provoca situações tão cômicas quanto tristes. E para isso, todo e qualquer elemento inserido no roteiro, mesmo o mais bobo, acaba fazendo sentido mais pra frente no enredo, e toda vez que um desses elementos é explicado na trama o coração do espectador acaba dando uma encolhida, pois é aquele momento em que somos trazidos de volta àquela realidade macabra da guerra e do Holocausto.

Com muito respeito e sensibilidade, e sem carregar no drama, a diretora Julia von Heinz faz uso dos elementos da comédia para imprimir humor em situações extremamente nervosas e, de certa forma, constrangedoras. Assim, nem pai nem filha são cem por cento impunes, pois ambos têm razão nas suas ações, e a harmonia com que os atores tecem a relação parental faz com que haja naturalidade nas reações dos personagens, principalmente nos momentos de maior tensão.

Dolorido, emocionante e catártico, ‘Tesouro’ mostra que, por mais que as feridas do passado doam, é preciso falar sobre elas para que elas possam finalmente sarar com as gerações atuais, de modo que, entendendo, não sejam mais repetidas.

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Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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