Existe uma beleza escondida em toda obra cinematográfica. Claro, algumas são mais superficiais que outras, mas todo bom filme tenta propor uma reflexão sobre nossas atitudes e/ou o mundo ao nosso redor. Saber extrair essas mensagens às vezes é o que salva um filme mediano de se tornar completamente medíocre. E é dessa forma que devemos ver ‘Teu Mundo Não Cabe Nos Meus Olhos’, um clássico em que a mensagem sobressai a técnica.
O drama nacional com toques de comédia, produção da Accorde Filmes com coprodução da Paris Filmes, Globo Filmes e Telecine, apresenta o pizzaiolo Vitório, vivido por Edson Celulari, que, apesar das dificuldades da vida, se mantém otimista e aceita perfeitamente sua condição: é cego desde a infância e tudo que sabe do mundo foi dito através dos olhos dos outros. Apesar disso, vive uma vida normal, cuidando de sua pizzaria herdada de seu pai, juntamente com sua esposa Clarice (Soledad Villamil, de ‘O Segredo dos Teus Olhos’), e a filha Alícia (Giovana Echeverria).
Mesmo tendo total controle de sua vida, seu mundo vira de pernas para o ar quando ele descobre a chance de poder enxergar novamente e como isso facilitaria a vida de todos ao seu redor, menos a sua.
É esse melodrama água-com-açúcar que o roteiro se sustenta, sempre tentando ser maior do que a trama permite e se perdendo na tentativa de achar seu tom. Mesmo com a delicadeza em mostrar que Vitório é feliz sendo cego, o longa força a barra em diversos momentos, isso é um fato. Mas apesar disso, a atuação de Celulari sustenta e convence, desconstruindo seu ar de galã e colocando-se em um patamar de fragilidade que nos conquista.
Soledad Villamil, por sua vez, é um fenômeno, a melhor escolha. Ela traz a emoção que estava faltando. Seus olhares cuidadosos são calorosos, apesar de sua personagem parecer egoísta em alguns momentos, na verdade ela deseja viver sua vida e encontrar sua felicidade completa, algo que não existe em sua relação amorosa atual e o que a leva a sugerir que seu marido faça uma cirurgia para voltar a enxergar. No fundo, ela deseja ser vista e valorizada por ele.
A fotografia se mantém neutra, assim como a direção de Paulo Nascimento, que não é exuberante, mas faz boas escolhas de enquadramento. Já o roteiro, esse é o maior problema, sempre expositivo, algo que talvez tenha sido feito visando os deficientes visuais que irão assistir o filme nos cinemas em sessões com audiodescrição e LIBRAS. Apesar dessa inclusão importante, muitos dos diálogos soam engessados e explicam muito sem necessidade.
‘Teu Mundo Não Cabe Nos Meus Olhos’ é um filme sobre tolerância e saber respeitar o desejo dos outros, mesmo que a parte técnica enfraqueça conforme a trama avança, a mensagem não se perde no caminho. É preciso saber enxergar e extrair a essência das pessoas ao nosso redor. O longa de Paulo Nascimento foi feito para ser experimentado em todos os sentidos.
EXCLUSIVO: Edson Celulari fala sobre os desafios de ‘Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos’